Fomos à Belle Isle, uma ilha que fica bem no meio do Detroit River, entre EUA e Canadá. A ilha foi comprada pela cidade de Detroit em 1882 e o arquiteto – paisagista responsável pelo Central Park em New York foi chamado para transformá-la em um parque para a cidade. Contando com um Cassino, sede de atletismo e canoagem, instalações para barcos, um Zôo, uma Ice House (que vou explicar o que é adiante) uma Estufa, o mais antigo Aquário dos EUA e até mesmo uma pista de corrida que sediou grande prêmios de Fórmula 1, Belle Isle foi o parque preferido dos moradores de Detroit por muitos anos.
Após os motins raciais que ocorreram em Detroit no final da década de 60, a ilha entrou em decadência. Muitos prédios históricos foram perdidos em anos de abandono. A ice house, que era o prédio onde placas de gelo cortadas do rio eram guardadas para serem vendidas na cidade em uma época ainda sem geladeiras, não existe mais. A administradora de parques Metro Park (responsável por Kensington Park, que já mostrei aqui no blog), briga com a prefeitura pelos direitos da área. Eles querem recuperar a ilha e cobrar entrada (3 dólares por carro, por um dia), como fazem em diversos parques no estado. A prefeitura, apesar de já ter declarado que não tem dinheiro para recuperar a ilha, não quer ceder. De Belle Isle tem-se uma das melhores vistas do skyline de Detroit e de Windsor, no Canadá. Pena que o dia ontem estava completamente cinza, vou ter que voltar em um dia de céu azul.
Fomos ao Cassino, onde hoje funciona um centro para idosos, e onde fizeram uma exposição dos projetos para recuperação da ilha. Não sobrou muita coisa além do vitral no teto para contar as histórias dos tempos do Cassino.
De lá fomos para a Estufa (Conservatory), onde as exóticas plantas tropicais – incluindo espécies brasileiras, são conservadas. Lá dentro estava um calorão, de zero grau para 30 sem escalas é um belo choque térmico, mas eu estava feliz da vida com o calor. Reconheci muitas plantas, várias minha mãe e meu avô tem no jardim e outras tantas a gente vê nas praças e ruas no Brasil.
Goiabeiras, abacateiros, limoeiros, orquídeas, palmeiras, jasmim, hibiscos, samambaias, estava me sentindo em casa, enquanto os americanos que visitavam o lugar olhavam espantados para as plantas, exclamando como são “exóticas” e as árvores “gigantes”. Um senhor que trabalha no local ficou todo feliz que eu reconheci uma árvore de jasmim-manga e estava explicando para o Gabe e pra minha sogra (a árvore estava com poucas folhas, sem flores) que é uma árvore bastante comumm no Brasil e que os havaianos usam as flores para fazerem os famosos colares “lei”.
O Aquário fica ao lado, tem mais de 100 anos e é pequeno. Para quem já visitou aquários modernos como os do Sea World, Lisboa e Chicago, não tem muita graça. O prédio é interessante, os corredores são em forma de túnel e me senti entrando em um submarino. Mas os peixes que eles tem parecem que são tão antigos quanto o aquário, são enormes! Incluindo aí uma enguia elétrica com mais de um metro e o corpo maior que as minhas duas mãos fechadas. O choque da enguia atinge 650 volts, bem mais do que um choquinho de tomada que tem meros 110 volts. Até a tartaruga marinha parece muito velha.
Fomos então para a área onde tem a floresta, para ver os cervos. Nem precisamos procurar muito, eles estavam na rua, comendo sementes e pão que as pessoas jogam (independende das placas de não alimente os animais). Junto aos cervos, muitos esquilos e pássaros, um bando de cardeais estava fazendo a festa com os grãos de milho. Os cervos já estão acostumados com as pessoas, e ficam na beira da rua olhando os carros em um misto de medo e expectativa. Alguns mais corajosos se aproximam das janelas aguardando por comida, enquanto o resto do bando fica as margens da rua. Vi alguns cervos albinos, nem sabia que existia, são tão bonitinhos, se confundem com a neve. Estes cervos são cuidados por um grupo de pesquisadores, e alguns tem números. De vez em quando o rio congela e eles atravessam o gelo para a cidade, e é uma confusão danada para capturá-los e trazê-los de volta.
Apesar do dia cinza, não estava ventando e pela primeira vez em semanas (acho que foi a primeira vez em mais de um mês) a temperatura estava acima de zero: 2 graus. A ilha deve ficar linda na primavera e no verão, toda verdinha, infelizmente como é aberta e está praticamente abandonada, muitas gangs vão para lá nessa época para beber e arrumar confusão. Espero que a Metro Park vença a briga com a prefeitura para recuperar este lugar maravilhoso. Atualização em 2013: a ilha melhorou muito, e apesar de não estar ainda perfeita, não está abandonada como estava quando escrevi o post. Estive lá em julho passado e a impressão foi outra (claro, o verão ajuda).
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Marga says
Lu
Que lindo esse lugar, legal!
Otto says
Muito lindas as fotos! A qualidade também está muito boa! Uma simples curiosidade de techie: que camera vc usa?
Suyaen says
Puxa que lindo, eu tambem espero que a prefeitura ganhe a parada, e 3 dolares por carro me parece bem razoavel, voce nao acha?
Tereza (Bruxelas) says
Interessante tudo isso. E que beleza essas flores de cores vivas durante o inverno!