Semana passada tivemos uma notícia ruim, o pai da madrasta do Gabe faleceu, repentinamente. Foi muito triste, ele e a esposa eram daqueles casais bem velhinhos que estavam sempre juntos – se não me engano, ele estava com 87 anos; eles eram uma gracinha, sempre muito gentis e queridos. O pior de tudo foi que ele estava bem, e a morte foi trágica: ele morava em uma área tipo sítio, e estava limpando o campo de folhas e gravetos secos do inverno, e fez uma fogueira para queimar tudo. Ele sofreu um derrame que causou morte instantânea, e o fogo se alastrou. O irmão e vizinho viu o fogo e foi lá ver o que estava acontecendo, e encontrou o corpo do irmão, e só depois da polícia e 911 chegarem e investigarem que eles descobriram que ele morreu mesmo de derrame. Imaginem o choque de todos, da esposa e da família.
Isso aconteceu na terça-feira passada e na sexta e sábado foi o velório e no domingo o enterro (aqui eles esperam dias para o enterro, para dar tempo para que toda a família chegue de tudo quanto é canto). No velório eles montam um mural ou um álbum com fotos do falecido em vários momentos de sua vida, desde criança, e as pessoas vão vendo as fotos e contanto as histórias.
No domingo foi a missa, com o caixão na igreja, estava lotada. Eu e Gabe que nem éramos tão próximos assim estávamos tristíssimos, só de ver a esposa arrasada e os filhos e netos sofrendo, e ele sempre foi tão simpático conosco. Depois da missa, o caixão foi coberto com a bandeira americana (eu não sabia, mas ele foi mariner na Segunda Guerra Mundial, lutou no Japão e em outras bases no Pacífico) e foi carregado pelos filhos e netos para o carro. O comboio de carros seguiu para o cemitério (todos os carros com uma bandeirinha escrito Funeral, assim pode-se passar por sinais vermelhos e os outros carros tem que parar e esperar o comboio passar).
No cemitério o pastor terminou de falar e chegaram os mariners, em uniforme de gala, dobraram a bandeira que estava em cima do caixão até formar um triângulo, enquanto um terceiro mariner tocava aquela musiquinha pós-batalha que eu só tinha ouvido em filme. Todo mundo começou a chorar quando tocou a cornetinha, impressionante o efeito que essa música tem. Depois que a bandeira estava dobrada, um dos mariners levou para a viúva e em nome do presidente dos EUA e de todos os cidadãos agradeceu os esforços do falecido na Segunda Guerra.
Depois disso todo mundo tocou o caixão, para deixar suas impressões digitais como memórias para o falecido e voltamos para a igreja para um almoço. Todo mundo comeu ouvindo as histórias do falecido e do irmão na guerra, de como eles dois casaram com duas irmãs e sempre moraram lado a lado, vizinhos a vida inteira, sempre foram muito unidos. Só sei que a missa começou as 14h e saímos de lá as 18h, e ainda tinha muita gente no lugar.
E nisso tudo lembrei que quase um ano atrás meu avô teve o derrame que o levou embora em maio, como o tempo passa rápido. Um ano.
Heloisa says
Oi. Luciana. uma das coisas que eu acho muito tocantes e bonitas’são os funerais americanos. No Brasil eles poderiam ser um pouco mais bonitos. Os cemitérios não possuem nenhum conforto e isso sem falar que na maioria não se pode passar a noite no velório porque eles fecham às 18h por causa de assalto. Um abraço.
DriScully says
Que Deus proteja a todos Lu
Liesl says
Lu, sinto muito pela sua perda. passamos algo semelhante quando a avo do John faleceu no dia 7, com quase 86 anos. E tinha 65 anos de casada. O velhinho, coitado, nao sei como vai ser agora em diante.
Que a familia encontre conforto para a passagem de uma pessoa tao amada e querida.
Beijos
Be says
Oi Lú… sinto muito pela perda de vocês. Agora, só resta rezar para que a esposa dele tenha força para viver os anos de vida que lhe restam, com a saudade enorme do marido.
Lú, aquela musiquinha que você só ouviu em filme, eu ouço todos os dias, às 10 da noite. RS O toque de recolher das bases militares é o mesmo tocado nos funerais. Logo quando mudei pra cá, eu achava fúnebre, porque associava com funerais, como via nos filmes e tal, mas, agora, já acostumei. Hino nacional às 4:30 da tarde e toque de recolher as 10:00 da noite. Se os relógios todos resolverem parar, pelo menos, eu consigo ter uma idéia do horário. RS
Thaís says
Olá Luciana, não nos conhecemos mas estava pesquisando “termos usados em funerais” no google e acabei lendo seu texto. Entao eu queria te pedir um favor…hehehe
Estou traduzindo um livro e estou tendo muitos problemas com os termos especificos para funeral….como vc vivenciou isso, será q poderia me falar os termos utilizados nesse funeral? Tenho vários termos do tipo: funeral service, memorial service, graveside service, viewing, visitation, funeral.
Enfim….se puder me ajudar ficarei muito grata =D
Bjos
Lídice says
Luciana, a perda de uma vida é sempre triste! Como o post é de 2005, acredito que o tempo tenha ajeitado os sentimentos. Falando sobre diferenças culturais… que é o tema aqui, sempre acho muito estranho quando vejo em séries ou filmes americanos, cenas de velórios onde as pessoas estão comendo, comendo e conversando como se estivessem em uma festa, e vários tipos de comida sendo servidas… acho inapropriado, mas parece ser a cultura por aí né?! Eu não sei se entre as regiões do Brasil há diferença, mas aqui em Minas por exemplo, entende-se que este momento é para simbolicamente se despedir da pessoa e dar apoio a família; então é algo mais comedido, no máximo servem água, chá e café. Há alguns em que são servidos biscoitos, mas eu particularmente acho muito nojento comer em velório (pode ser besteira minha, meio nada haver, mas é meu psicológico). Acredito que a comida é para quem verdadeiramente vela o corpo, a família que está ali 24h e tem suas necessidades… enfim, se eu precisar ir a um velório, prefiro comer antes em casa…
Luciana Misura says
Sim, aqui isso é normal, ninguém pensa nada a respeito. Mas no Brasil o enterro é quase imediato, aqui leva dias pra acontecer. Então as pessoas não estão mais em choque no enterro.
Emmanuel Busmalis says
Relato interessante. Se fosse uma enquete para saber qual o melhor formato, eu votaria n o americano. Embora pareça mais festivo do que o necessário, a meu ver é mais adequado para a circunstância de despedida do momento. Acho que o funeral deveria mesmo ser uma ocasião de celebração da memória do falecido. O brasileiro prefere se agarrar a dor e desespero. Mas entendo o comportamento.