Acordamos com o barulho da chuva, infelizmente. Fomos novamente para a estação Kyoto comprar o nosso café da manhã: pães franceses deliciosos. Abastecidos, pegamos o ônibus para Gion, rumo ao teatro Kaburenjo para assistir ao Miyako Odori, que é a apresentação de dança da primavera que as geishas fazem todos os anos. A apresentação de meio dia já estava lotada e a próxima, às 14h, só tinha ingressos não-reservados disponíveis. Compramos esses mesmos, e fomos passear pelas ruazinhas simpáticas de Gion para fazer hora. Não tinha muito o que ver, estava quase tudo fechado nessa segunda-feira chuvosa. Voltamos ao teatro e esperamos lá mesmo.
Os nossos ingressos não-reservaos eram tatame, ou seja, você senta no tatame, que fica em uma plataforma atrás dos assentos reservados. Não era confortável mas pelo menos dava pra ver razoavelmente bem.
Não sei nem como descrever o espetáculo, foi lindo demais, um ballet japonês maravilhoso. A música foi fantástica, uma dúzia de senhoras tocava o shamisen (tipo um violão ou banjo japonês) e uma outra dúzia de mulheres no lado oposto tocava tambores, flauta, e todas cantavam. As maikos dançavam lindamente e batendo o pé no chão marcavam certos trechos da música. As geikos dançavam as partes solo, os personagens principais; os atos representavam a primavera, outono, inverno e uma parte acredito que tenha sido baseada em alguma história japonesa de um pescador que é levado ao fundo do mar. Os cenários lindos, a iluminação perfeita, folhas caindo no outono e neve caindo no inverno, a água em movimento no lago. Fiz três videos com o meu celular, são de baixa qualidade mas dá para ter uma idéia de como era a dança e ouvir um pouco da música (que fica um pouco distorcida). Veja o vídeo com a dança de outono das maikos (formato mp4, 8 MB), precisa de Real Player ou Quicktime para assistir. Amei, foi definitivamente um dos pontos altos da viagem. Gabe também adorou, ficou totalmente intrigado pela música, ficou cantando a melodia o resto do dia.
De lá fomos para o castelo Nijo, famoso pelo seu piso “rouxinol” – você vai andando e o piso de madeira faz um barulho que parece um monte de pássaros piando – que foi construído como medida de segurança, um alarme anti-intrusos à moda antiga. O interior do castelo tem salas amplas, no centro, tudo em madeira e portas de correr separando as salas do corredor, que circula o castelo. As paredes das salas são todas pintadas com desenhos de árvores e animais, infelizmente não pode tirar fotos dentro do castelo. Os jardins são lindos, muitas cerejeiras em flor, lagos e pedras. Um cisne passeava silenciosamente nas águas do fosso interno.
Quando o castelo fechou, às 17h, ao som de “Old Lang Syne”, pegamos o ônibus até uma rua com calçadas cobertas e muitas lojas e cafés. Paramos em um café para relaxar e esperar a reabertura dos jardins do castelo às 18h, com iluminação especial das cerejeiras em flor. Detalhe importante de Kyoto: usar o metrô é bobagem, os ônibus são a melhor opção, pois tem pontos na maioria dos lugares turísticos. Tudo muito organizado, tem os números e horários de cada ônibus no ponto e um mapinha da cidade tem os números das linhas para cada ponto turístico. Sem falar nos pontos de ônibus mais moderninhos, que tem uma tabela mostrando o número do ônibus e se ele está chegando no ponto, uma bolinha que vai mudando conforme o ônibus se aproxima.
O castelo estava mesmo fantástico iluminado, os caminhos ladeados por centenas de lanternas e as luzes mais fortes estrategicamente apontadas para as construções principais e claro, as cerejeiras. Lindo. Ficamos lá um bom tempo, curtindo a atmosfera mágica criada pelas lanternas e flores, as torres brancas do muro do castelo ao fundo.
Com o jornalzinho de Kyoto para turistas em mãos, escolhemos um restaurante na área e seguindo o mapa, encontramos a rua onde o restaurante supostamente estaria localizado. Andamos a rua inteira duas vezes, perguntando pro pessoal que trabalha nas lojas onde ficaria o tal restaurante. Cada pessoa que a gente perguntava apontava pra uma direção diferente. É que o sistema de endereços japonês é tão complicado que até mesmo os locais tem dificuldade de encontrar um endereço específico. Até que finalmente um cozinheiro de uma lanchonete que estava fechando foi andando com a gente até uma ruazinha mínima que levava a uma outra rua menor ainda atrás da rua principal e que nunca teríamos encontrado, e vi a placa do restaurante (em japonês apenas, decorei os símbolos pra poder ir procurando placa por placa).
O restaurante, Sarara, pequenininho, uma gracinha, valeu muito a pena. Sentamos no balcão (só tinha duas mesinhas e o balcão) e um dos cozinheiros-garçons falava inglês razoavelmente (e tinha menu em inglês, com muitas fotos, ufa). Pedi sushi, que estava ótimo, fresquíssimo, e Gabe pediu três pratinhos (frango com molho missô, bife com molho de vinagre e uma pimenta japonesa que não lembro o nome e saladinha e porco cozido na sopa missô com molho de mostarda). Tudo muito bom, e batemos o maior papo com o cozinheiro, a dona do lugar (que só falava em japonês e o cozinheiro traduzia) e a outra moça que trabalhava na cozinha. No final das contas eles nos trouxeram bolinho de morango, porque era aniversário da dona, e eu pedi pra ele me ensinar como se diz “feliz aniversário” em japonês. A dona ficou toda boba e me deu uma sobremesa de graça, uma gelatina com sorvete que eu não gostei mas comi tudinho por educação. Na saída, eles nos levaram até a rua e a dona me abraçou e falou pra voltar lá outras vezes 🙂
Tem mais fotos originais no Flickr.
Todos os posts da viagem:
1o dia: Konnichiwa (boa tarde / bom dia)! (Tóquio)
2o dia: Adolescentes, cerejeiras e o guarda-chuva de 250 dólares (Tóquio)
3o dia: Segure o seu chapéu, jornal, picnic… (Tóquio)
4o dia: Isso é Tóquio
5o dia: Muita chuva em Tóquio
6o dia: It’s a small world after all (Disney Tóquio)
7o dia: Nikko, os italianos e os bêbados
8o dia: A caminho de Kyoto | Sayonara Tóquio!
9o dia: Kyoto, cidade das geishas
10o dia: Miyako Odori, uma tradição deslumbrante (Kyoto)
11o dia: Templos até debaixo d’água (da chuva) (Kyoto/Inaue)
12o dia: Nara e seus 1300 anos de história
13o dia: O castelo samurai de Himeji
14o dia: Takayama Matsuri, festival de primavera (mas que frio!) (Takayama)
15o dia: Shirakawa-go, uma vila que parou no tempo
16o dia: Takayama e muita confusão
17o dia: O final da saga
leticia says
adorei as fotos das cerejeiras iluminadas a noite…
Guilherme says
q perfeito… assiti o filme: Momoirs of gueixa ontem.. estou em clima japao msm… bjos
rosilande says
Imagino como deve ter sido lindo o espetáculo, pois ao ver as fotos fiquei imaginando(você me contagiou com o Japão, até musiquinha imaginei!!) as dançarinas se movimentando com graça. As fotos noturnas são lindas, as cerejeiras ficam bem tanto de dia quanto com iluminação noturna. Achei o restaurante realmente uma gracinha, aconchegante…muito gentil da sua parte cumprimentar a aniversariante, quebrando assim a distancia e proporcionando alegria.Bjs.
idarleth says
sou apaixonada por cerejeiras, ao ver as fotografias fiquei muito emocionada, simplismente lindas…