Lá no ótimo site Multilingual Living eles publicaram um gráfico com 12 mitos do bilinguismo, tirado do livro Raising a Bilingual Child, da autora Barbara Zurer Pearson. Pra quem não lembra eu já falei desse livro aqui, e recomendo muito pra todos os pais que pensam em educar ou já educam seus filhos bi- ou multi-língues. Eu fiquei super intrigada com essa lista quando li o livro há alguns anos e continuo achando que alguns pontos são polêmicos, então quis trazer aqui pro blog. A Corey Heller, editora do Multilingual Living, me autorizou a traduzir e publicar a lista aqui, com os devidos créditos e links. Pra quem quiser baixar o gráfico em inglês, é só clicar aqui. Segue a tradução, eu juntei as perguntas com as respostas porque acho que fica mais fácil de ler.
Esses são 12 mitos sobre crianças bilíngues e o que sabemos sobre esses mitos:
1. Crianças bilíngues começam a falar mais tarde do que crianças que aprendem somente uma língua. MITO
Não existe evidência científica que comprove essa teoria. Crianças bilíngues ou que falam apenas uma língua dividem o mesmo prazo considerado normal para o desenvolvimento da fala.
2. Crianças bilíngues começam a escola em desvantagem com relação a crianças que só falam uma língua, e nunca conseguem chegar ao mesmo nível. MITO
Pelo contrário, crianças bilíngues tendem a ter uma curva de aprendizado mais acelerada que crianças que só falam uma língua.
3. Crianças pequenas aprendem línguas como uma esponja. MITO
Crianças realmente parecem ter mais facilidade para aprender uma língua do que um adulto, mas não devemos subestimar o esforço requerido para aprender uma língua e não devemos esperar que elas aprendam perfeitamente desde o início.
4. Crianças bilíngues são como duas pessoas que falam uma única língua em uma mesma pessoa. MITO
Existem capacidades especiais que pessoas bilíngues possuem que pessoas que falam uma única língua não tem. Bilíngues normalmente tem uma língua dominante que se compara a de uma pessoa monolíngue, e uma língua mais fraca que eles usam menos. Em qualquer conversa, bilíngues podem escolher usar uma ou duas línguas.
5. Você tem que ter talento para línguas para conseguir aprender duas línguas ao mesmo tempo. MITO
O aprendizado de uma língua desde cedo não requer nenhum talento especial, é parte do desenvolvimento humano, assim como aprender a andar ou enxergar com os dois olhos.
6. Se crianças bilíngues tem notas menores em testes nas escolas públicas isso mostra que eles tem menos capacidade do que a média das crianças que só fala uma língua. MITO
Os testes padronizados aplicados nas escolas públicas americanas levam em consideração apenas uma parte da capacidade de uma criança bilíngue (já que testa apenas uma língua, que é o inglês), e compara com a capacidade total de uma criança monolíngue (que só fala inglês mesmo). As notas médias de crianças bilíngues não levam em consideração línguas dominantes e como se comparam à língua testada. Não existem ainda testes padronizados que são apropriados para crianças bilíngues (na ocasião que este documento foi escrito).
7. Imigrantes latinos nos EUA resistem aprender inglês e querem que todo mundo aprenda a falar espanhol. MITO
Poucos imigrantes latinos não falam inglês (proporcionalmente ao número total). Não existem programas suficientes para ensinar inglês para suprir a demanda de todos os imigrantes. Programas que usam Espanhol e Inglês ajudam as crianças a aprenderem inglês mais rápido e melhor.
8. Algumas línguas são mais primitivas que outras e portanto mais fáceis de aprender. O motivo pelo qual tantas pessoas aprendem inglês é que o inglês tem menos gramática que outras línguas. MITO
Não existem línguas primitivas ou línguas sem gramática. Todas as línguas são infinitamente complexas e ainda assim, é possível aprender.
9. Falar uma segunda língua por si só já é uma recompensa. MITO
Isso pode até ser verdade para um adulto, mas não podemos esperar que as crianças vejam da mesma forma. Temos que mostrar que a segunda língua é valiosa para elas, mostrando e criando oportunidades para que elas entrem em contato com pessoas interessantes que fazem coisas fascinantes que usam a segunda língua.
10. Pais que não falam uma segunda língua perfeitamente vão passar seus erros e seu sotaque para seus filhos. MITO
Isso só seria verdade se a criança nunca ouvisse ninguém além dos pais em questão falando a segunda língua, o que não é muito comum.
11. Se uma criança bilíngue tem problemas em uma ou duas línguas, parando de falar uma das línguas vai corrigir o problema. MITO
Não existe evidência que isso é verdade. Crianças que tem problemas com duas línguas normalmente também tem problemas com uma.
12. Só existe uma forma de educar uma criança bilíngue. MITO
Os pais são os experts nesse assunto. O único jeito errado de educar uma criança bilíngue é decidindo criá-la monolíngue. Se você ainda não começou, agora é a hora!
O número 1 da lista “Crianças bilíngues começam a falar mais tarde do que crianças que aprendem somente uma língua” pra mim é o mais polêmico, porque eu escuto o contrário de muitas mães que criam seus filhos bilíngues. Não sei aí se caberia uma explicação da autora…porque existe um prazo muito grande para o desenvolvimento normal da fala – tem criança que fala muito antes de completar um ano, e criança que não fala quase nada até dois anos, e ainda é considerado normal. Então pode ser que como as crianças bilíngues ainda estejam dentro desse prazo, ela tenha classificado como mito, mas seria interessante esclarecer se as crianças bilíngues começam a falar mais “tarde” que as crianças monolíngues, mesmo esse “tarde” estando dentro do prazo normal. Por exemplo, se crianças bilíngues começam a falar em média 2 meses depois de crianças monolíngues (estou chutando!), mas ainda dentro do prazo normal de desenvolvimento da fala. Talvez realmente não exista diferença nenhuma, afinal ela já pesquisou centenas de famílias ao longo dos anos, mas realmente é muito diferente das histórias que ouço no dia-a-dia. No nosso caso a Julia falava umas palavrinhas com 1 ano e com um ano e meio já fazia frases simples, então ela realmente estava equiparada a crianças monolíngues. Vamos ver como vai ser com o Eric.
O item 10 “Pais que não falam uma segunda língua perfeitamente vão passar seus erros e seu sotaque para seus filhos” é muito interessante, porque é o caso do Gabe falando português com a Julia. Ele aprendeu português depois que ela nasceu, na verdade aprende junto com ela. E como ele só fala português com ela, fala muita coisa errada, porque ele não sabe conjugar verbos corretamente, erra muita concordância, forma frases muitas vezes na ordem errada, por aí vai. Ela fala muito melhor do que ele, porque escuta a gente falar (eu, meus pais, todos os outros amigos brasileiros, fora os livros, cds, desenhos em português), mas tem palavras que ela aprendeu errado com ele que sim, nós temos que corrigir. Mas sinceramente, prefiro mil vezes que a criança aprenda uma segunda língua com alguns erros ou com sotaque do que não aprender!
O item 11 “Se uma criança bilíngue tem problemas em uma ou duas línguas, parando de falar uma das línguas vai corrigir o problema” é comum nos EUA e já ouvi também de casos no Brasil por um simples motivo: são países onde a maioria da população é monolíngue, e a maioria das escolas e professores não estão preparados ou acostumados ao ensino bi- ou multi-língue. Então ainda existe a noção de que se a criança está com dificuldade é melhor “parar” de ensinar a outra língua. Isso vem mudando, mas ainda é um conselho corriqueiro.
E vocês, pais que educam seus filhos bi- ou multi-língues, o que acham dessa lista?
Bel says
Tenho tanta coisa a falar que preciso fazer uns dois posts. A Diana fala português, papiamento e espanhol fluentemente. E como a tv é em inglês e ela entende bastante e fala um pouco (tem uma professora de música irlandesa). E está tendo aulas de holandês na escola, mas ainda não se anima a falar frases, só palavras.
Por isso, pra mim, ficar discutindo monolinguismo x bilinguismo é só a ponta do iceberg.
Luciana Misura says
Eu não acho que o que a autora falou vale somente para o bilinguismo não…mas o que mais vejo é um monte de pais lutando pra manter os filhos bilíngues no dia-a-dia, o que dirá 3 ou mais línguas. Que bom que a Diana está falando várias! Como é que você está planejando manter todas elas?
Helo says
Em casa a Lau só escuta a gente falando em portugues. Por sorte o Martin fala direitinho. Ela aprende espanhol qdo a gente esta com amigos ou avos dela ou mesmo no jardim. Daqui um tempo eu te comento como ela esta indo Lu… Bjos Helo 🙂
Luciana Misura says
Helô, que legal 🙂 Depois fala sim! Mas ela vai aprender espanhol de qualquer jeito depois!
Christina says
Eu sou meio cetica quando o assunto sao “estudos”, “pesquisas”. Nao eh porque nao tem estudos comprovando algo, que esse algo nao existe. Sal fazia mal pra pressao, agora nao eh bem assim. Crianca soh devia tomar leite ate os 6 meses, agora nao eh bem assim.
Minha filha estah as vesperas de completar 2 anos e em termos de fala, ela estah mais “atrasada” do que a maioria das coleguinhas dela daqui de Londres e de filhos de amigos no Brasil. Fala algumas poucas palavras, nao forma nenhuma frase. MAS… uma das amiguinhas, mezzo Coreana, mezzo irlandesa, 2 meses mais nova, fala frases completas, fala coreano e ingles. Minha mae era coordenadora de uma escola internacional no Brasil e ela disse que em geral os gringuinhos, filhos de pais bilingues, demoravam mais a falar, mas nao era nada anormal, e quando falavam, eram fluentes e tagarelas e ultra inteligentes.
Acho que rola muita ansiedade dos pais (presente!), que comparam os filhos com os dos outros. Tenho certeza de que minha filha esta dentro dos padroes normais da fala, mas eu morro de ansiedade querendo que ela fale logo.
Luciana Misura says
Isso é verdade, volta e meia pesquisas são desmentidas…
Eu acho que o negócio é esse mesmo, que provavelmente as crianças que falam mais de uma língua começam depois das que falam uma (de modo geral, não todas, claro) mas ainda dentro do prazo normal.
Sobre a ansiedade, acho que todo pai e mãe quer que o filho fale logo, normal! Eu também ficaria ansiosa.
Daisy Couto says
Christina, eu falei com 1 ano e pouco, meu irmão com 2 anos e meio e minha irma com 4 anos. Meu filho mais velho falou com 1 ano e pouco e meu mais novo falou com 2 anos e meio. Moramos todos no Brasil, somos monolingues. Todos nós tivemos bons desempenhos na escola e fizemos faculdades em instituições renomadas. Acredito que cada criança tem seu tempo. E sim, as pesquisas tratam de médias. As conclusões são limitadas. Deveríamos pegar os estudo e ler também os resultados e conclusões mas quem tem tempo.Bjs
Daisy Couto says
Christina,
quis dizer os resultados e discussão. bjs
Neda says
Este é um assunto muito querido, principalmente por que eu nasci em um lar bilíngue. O primeiro item dever ser o mais polemico, pessoalmente não acho que o aprendizado simultâneo de duas ou mais línguas atrase ou acelere a fala. Em parte por que em minha casa somos todos tagarelas desde cedo e por que eu acho que se houvesse um atraso as crianças bilíngues em geral começariam a falar depois dos dois anos, fora do intervalo considerado normal. Creio que o desenvolvimento da fala está mais relacionado a características de personalidade e estimulo. Uma coisa é certa, sempre há um idioma que domina, pode que nem sempre seja o mesmo e que a fluência seja equivalente, mas sempre pensamos em um único idioma de cada vez.
Bem interessante.
Neda
Luciana Misura says
Neda, estava lendo o seu post sobre bilinguismo da blogagem coletiva, muito legal! Concordo com você…acho que pode ser um pouco mais “tarde” mas não é fora do normal.
Marina Soares says
Oi, sou Marina e descobri seu blog “fuçando” outro e que grande surpresa eu tive! Moro em Akita (Japão) há mais de 3 anos, sou fonoaudiologa casada com um uruguaio. Não temos filhos ainda, mas sempre falamos sobre que língua falariamos. Eu, certamente falarei português, ele espanhol e dependendo de onde estejamos morando nosso filho será exposto a língua local. Em Teresina (minha cidade natal) fui professora de inglês para crianças entre 3 e 6 anos e era impressionate quão rápido eles aprendiam. Por ter vivenciado e por ter lido muito sobre por causa da minha profissão, não concordo muito com o ponto 3 (Crianças pequenas aprendem línguas como uma esponja. MITO). Não acredito que seja MITO!!! Cientificamente é provado que por causa da plasticidade neuronal, crianças conseguem aprender uma segunda língua mais rápido e por isso acho que podemos considera-los como esponja. Não estou querendo dizer que a autora esteja errada, apenas tenho um ponto de vista diferente! Acredito que o aprendizado de uma segunda língua é IMPORTANTÍSSIMO e estimula a criança/adulto a terem curiosidade sobre as diferentes culturas e a entender que no mundo globalizado, temos que ter o nosso diferencial.
Luciana Misura says
Oi Marina, bem-vinda! Eu interpreto o que a pesquisadora falou no item 3 de uma forma diferente que você. Sim, as crianças tem capacidade pra aprender rapidamente um idioma, mas muita gente pensa que não precisa fazer nada, que é só expor a criança ao idioma e pronto – ela vai aprender automaticamente. Infelizmente a gente vê que não é bem assim: muitos filhos de brasileiros que eu conheço por exemplo não falam português. Então a capacidade existe, mas não é sem esforço que isso vai acontecer.
pacamanca says
Por enquanto a Carol fala português muito bem, embora já esteja começando a inserir coisas do italiano quando falada, pois as línguas são muito parecidas. Por exemplo, frequentemente bota o sujeito no final da frase, coisa típica do italiano. Ou fala coisas do tipo “já fiz” quando acaba de fazer xixi, em vez de “acabei”, porque em italiano se diz “ho fatto” (literalmente “fiz”). O português do Mirco é terrível e ele confunde muito com o espanhol, que ele fala razoavelmente bem, mas ele faz um esforço grande pra só falar português com ela. Por enquanto tem funcionado; ela nunca ousou falar italiano com a gente.
Eu sinceramente não concordo com o mito 1; TODAS as crianças que eu conheço expostas a mais de uma língua em casa começaram a falar tarde. A Carol mesmo só começou com dois anos e meio.
Agora, coisa chata é ter que ficar explicando pra esse bando de pangarés aqui que putz grila, eu falo português com ela porque é a minha língua, é tão difícil assim de entender? Porque mesmo que não houvesse vantagens em ser bilíngue, eu jamais conseguiria falar com ela em outra língua que não a minha, mas neguinho não entende. Quando me dizem “mas ela tem que aprender italiano, ela mora na Itália!” tenho vontade de socar. Ultimamente eu respondo com uma pergunta: “Ela mora onde mesmo?” “Na Itália”. “Então ela vai aprender italiano querendo ou não.”
Luciana Misura says
Hahaha a Julia também uso o fiz dessa mesma forma que a Carol 😉 Ela fala “eu fiz um arroto” ao invés de “arrotei” pra dar um exemplo recente que ela acha hilário!
Eu só conheço 1 criança aqui no nosso grupo de Austin exposta a 2 línguas que começou a falar depois dos 2 anos, todas as outras começaram a falar antes. Podiam não ser suuuper fluentes mas falavam razoavelmente sim.
Haja paciência pra responder esse pessoal! Ainda bem que eu não ouvi nenhuma abobrinha parecida…E eu achei que aí na Europa o pessoal estava mais acostumado com multilinguismo…
pacamanca says
Itália, Europa? Desde quando= 😉
Flavia says
Oi, na minha casa eu falo portugues, meu marido fala servi-croata e moramos no Canada. Meu filho mais velho comecou na creche aos 11 meses. Com 1 ano e meio, meus filhos ja diziam duas palavras juntas nos 3 idiomas, sem misturar. Aos 2 anos, os dois ja formavam frases completas, sendo que a menina, que nunca frequentou a creche, fala bem melhor portugues e servo-croata que o irmao.
Quando vamos ao Brasil, ninguem nota sotaque gringo nas criancas.
Concordo com a Neda. Somos uma familia de tagarelas, a personalidade influencia muito mais que a quantidade de idiomas falados. Reza a lenda familiar que aos 10 meses eu ja falava algumas palavras, antes de caminhar.
Criancas que falam tarde provavelmente falariam tarde falando 1 idioma.
Luciana Misura says
Mesma coisa aqui em casa, concordo com você. Eu comecei a falar com 9 meses (tem fita cassete que o meu pai gravou!), meus dois filhos falaram cedo, independente dos dois idiomas.
Lelei says
Eu vivo me intrometendo nos assuntos com as amigas que têm bebes que querem que falem as duas línguas. Por enquanto não posso dar muito pitaco, mas legal os mitos e aqui em casa Mr.W já está aprendendo português porque eu acho que o modo como vocês fizeram (português em casa e inglês na escola) seria o modo mais lógico de se aprender. Depois se não tivermos babies, pelo menos ele aprendeu a língua pra quando vamos pro Brasil e vemos os amigos e família de qq maneira 🙂
Luciana Misura says
Tem muita gente que usa OPOL (one parent one language), acho até que é o método mais usado por casais que falam línguas diferentes. O nosso caso não é muito comum. Mas sinceramente comparando os resultados a Julia fala melhor o português do que os filhos de amigos que usam OPOL, então eu recomendo muito fazer o mesmo esquema. Claro que tem um monte de famílias por aí que vão te dizer que os filhos falam super bem mesmo usando OPOL (e eu conheço uma menininha da idade da Julia que fala também super bem o português) mas na minha experiência do dia-a-dia, é uma minoria…
Claudia says
A conclusao básica que tiro ao ler esta lista é que nao dá pra generalizar em hipótese alguma, afinal seres humanos sao diferentes entre si, assim como famílias e contextos sao diferentes entre si. Concordo com as duas meninas acima e discordo da lista nos pontos 1 e 3. Acho que até uns 3 anos de idade, criança é esponja sim. Eles captam tudo e nao tem vergonha de nada, repetem quase como papagaio. Basicamente todas crianças bilíngues que conheço começaram a falar mais tarde. Minha filha só falou aos dois anos e meio e é uma criança muito tagarela e desenvolta. Ela se comunicava até os dois anos e meio por interjeiçoes e palavras criadas por ela mesma. E eu estimulava horrores, tanto que cheguei a achar que ela tinha um problema, porque todos à minha volta torravam o saco com essa demora.
Eu ainda me pergunto se é bom (se é que existe bom ou mau na história), o pai falar portugues com a criança, mesmo que nao ele seja fluente nessa língua. Meu marido também faz isso, porque aqui minha filha rebelou de vez e nao quer falar mais nada de português, desde que entrou na escola. Ele acredita que mostrando que fala a língua, as crianças se motivem mais. Parando pra pensar, quantas crianças convivem com babás semi-analfabetas no Brasil, que acabam falando português direito de qualquer maneira? Se bobear vale tudo, porque quando meus filhos percebem que eu falo outra língua estrangeira, eles aguçam a antena ao máximo. Entao, de vez em quando falo inglês, francês ou italiano e ficamos brincando de ver se eles entendem. Afinal eu também cresci exposta a muitas línguas e meus pais nao sao totalmente fluentes em todas as que introduziram em casa.
Luciana Misura says
Claudia, com certeza, temos exemplos e mais exemplos completamente diferentes…mas pesquisa é pesquisa né, um número grande de crianças foram acompanhadas e eles tem dados pra mostrar…se é uma pesquisa significativa ou não eu não sei avaliar, mas a autora é uma pesquisadora há muitos anos e acompanhou centenas de famílias.
O maior problema nessa história toda é aturar os intrometidos não é não? Porque a gente já fica meio ansiosa e aí vem um bando de gente chata pra falar “ooooohhhh mas ele não fala AINDA?” e aí a coisa só piora…
Eu acho ótimo o pai (ou mãe) falar qualquer língua, nativa ou não. Tem famílias inteiras que decidem que querem que os filhos falem uma outra língua e ensinam, mesmo os pais não sendo nativos. Não consigo ver nenhum problema em aprender uma outra língua. Acho que no Brasil a gente tem uma idéia boba de que tem que falar perfeito, sem sotaque, bla bla bla, mas eu NUNCA vi ninguém aqui nos EUA (americano ou de qualquer outra nacionalidade) se preocupar com isso! Dane-se o sotaque, eu trabalhei com gente de tudo que é país desde que vim morar aqui, todas com sotaques fortíssimos, muitas com péssima gramática, mas todos estavam bem-empregados porque eram competentes em suas áreas de atuação. Enquanto isso o povo no Brasil fica com vergonha de falar porque tem sotaque, faça-me o favor…vão os indianos, chineses, japoneses, russos, pegando os empregos todos com seus sotaques fortíssimos!
Barbara says
Bom, eu nao posso opinar alem do topico 1, porque o Jonas falou a primeira palavra um mes antes de fazer dois anos e ainda nao avancou muito alem disso. Soh agora ele comecou a imitar os nossos sons (quando a gente fala alguma coisa ele tenta repetir). Ouco muita gente com filhos bilingues falar que seus filhos tambem comecaram tarde – e outros regulam exatamente com os monolingues.
Tenho uma amiga com uma filha da mesma idade que o Jonas e a garota ja fala varias coisas em ingles, alemao e grego!
O que me intriga MESMO eh saber quao complexos sao os raciocinios do Jonas. Vejo criancas de dois anos por ai fazendo argumentacoes super complexas, e fico me roendo de curiosidade para saber se o Jonas tambem eh capaz de pensamentos complexos, mas nao consegue coloca-los em palavras; ou se ele ainda esta num nivel mais basico de “reasoning”.
Mas eh so curiosidade mesmo, porque na pratica nao faz a menor diferenca.
No final das contas ele eh que ta certo, “taking his time” em vez de entrar na corrida para ver quem faz as coisas antes.
Luciana Misura says
Pois é, tem criança que fala tarde mesmo nunca sendo exposta a mais de uma língua e vice-versa…difícil entender o motivo.
Entendo exatamente o que você está querendo saber 😉 Eu também ficava louca pra entender que tipo de pensamentos, que entendimento do mundo a Julia tinha quando falava pouquinho. Eu acho que eles entendem bastante viu, só não sabem expressar ainda ou então simplesmente não estão prestando atenção! Mas uma coisa eu já ouvi de mães que tem filhos que falaram “tarde”: depois que eles começam, não param mais, querem tirar o atraso…hehe!
pacamanca says
Isso de tirar o atraso eu posso atestar, a Carol não cala a boca um minuto sequer! Às vezes peço pra ela ficar calada só um minutinho, pra eu poder pensar, porque cansa pra caramba! 😛
Mas Barbara, esse lance de entender o raciocínio também me deixava bolada. Tem coisas que não precisam ser faladas pra gente entender – por exemplo, outro dia a Carol usou um casaco que não tem aquele negocinho dentro do colarinho pra pendurar nos pegs, a Carol ficou parada pensando como poderia pendurar o negócio, pensou, pensou, e acabou pendurando na casa do botão. Achou a solução dela. Tenho certeza que você deve ter observado várias coisas assim com o Jonas! Quando ele começar a falar você vai ficar de boca aberta com as ideias dele 🙂
Barbara says
Que coisa mais fofa essa de pendurar o casaco pela casa do botao! Essas ideias que eles tem (justamente por nao terem tanta ideias armazenadas na cabeca) sao geniais.
O Jonas as vezes faz as coisas de acordo com a logica dele, nao lembro de nenhum exemplo, mas eh engracado ver ele pensando e colocando um raciocinio cheio de etapas em pratica.
E Lu, eu posso imaginar como vai ser quando ele comecar a falar. Sendo filho meu, acho que vai ser uma briga para ver quem vai ficar calado e ouvir o outro! 🙂
Luciana Misura says
Hehe aproveite o seu silêncio enquanto pode!
Luciana Misura says
Adorei a solução dela! Menina inteligente é isso aí 😉
Juliana says
Bom, tenho um nenem de 5 meses e meio entao estou me interessando muito por esse assunto… 🙂 Nos somos dois Brasileiros vivendo na Australia. Aqui em casa so falamos Portugues, com varias expressoes em Ingles misturadas no meio da estoria… rsrsrs… Por enquanto meu bebe so escuta Ingles atraves da TV e radio, quando saimos na rua e estamos com outras pessoas que so falam Ingles e quando eu canto musiquinhas ou leio livrinhos para ele em Ingles. Gostaria muito que ele fosse bilingue ao menos para conseguir se comunicar com as nossas familias no Brasil (ja que eles nao falam Ingles).
Muitas maes de criancas bilingues que eu conheco dizem que suas criancas so comecaram a falar depois das outras. Elas nao estavam “atrasadas”, comecaram a falar ainda dentro do “tempo normal” mas depois da maioria das criancas de mesma idade mas que vinham de familias que falam somente Ingles. Uma delas inclusive me falou que a filha dela so comecou a falar mesmo quando passou alguns meses no Iraque (mae e pai sao Iraquianos) e depois ao voltar para a Australia comecou a falar mais em Ingles tambem.
Vou ver se consigo uma copia desse livro que voce sugeriu Luciana. Voces acham que vale a pena ler sobre esse assunto ja agora ou mais tarde (ele so tem 5 meses e meio como falei)?
Luciana Misura says
Juliana, acho que vale muito a pena ler agora sim! Aliás, é bom você ler pra vocês já começarem a tirar essas muitas expressões em inglês do dia-a-dia do português 😉 Eu faço questão que meus filhos sejam bilíngues justamente pra poder falar com a família do Brasil.
Lu Azevedo says
Adorei o post e a discussão! Pois eu estou comprovando que realmente criança não aprende como esponja. Uma coisa aqui, outra ali o Nicolas absorve, mas é preciso sim estimular, criar oportunidades e desenvolver o interesse dele. No momento criamos o “jogo” do como se fala “tal coisa” em ingles? E agora ele passa o dia nos perguntando. É bem fofo. O que mais me impressiona nas crianças é a memória. Não precisa repetir muitas vezes pra eles aprenderem o novo vocabulario.
Sobre crianças que aprendem duas linguas ao mesmo tempo terem atraso, acho que não é mito não. Talvez, como vc mesma raciocinou, haja um atraso, mas não fora do normal. Mas que há atraso, há. Pelo menos nas familias que eu conheço.
E quanto ao Gymboree, ja ouvi muito falar disso, mas aqui onde moro não tem. A gente se mudou pra uma cidade pequena um pouco afastada de Vancouver (aka roça, rsrs), onde a vizinhança é otima, as montanhas são lindas, mas Gymboree não tem não. 😀 E vamo que vamo!
Beijos!!!
Lu
Luciana Misura says
Lu, acho que é por aí – as crianças tem facilidade mas não é que elas vão “automaticamente” aprender uma outra língua assim só por ouvir e mais nada. Acredito que muitos pais tenham cometido esse erro, de achar que ia ser fácil porque afinal as crianças aprendem rapidinho, e depois acabaram vendo que seus filhos não aprenderam e hoje não falam mais de uma língua.
Mas não precisa ser “Gymboree”. Pode ser um play group, uma contação de história numa biblioteca pública, qualquer atividade pra criança em inglês por uma horinha que você consiga arrumar. O melhor é que tenha um adulto coordenando, assim ele aprende a seguir instruções básicas, mas se não tiver, pelo menos vai se entendendo com as outras crianças. Beijos!
Alessandra says
Oi gente eu tambem moro na Italia mas fui para o Brasil na ocasiao do nascimento da minha filha e fiquei la ate que ela tivesse 11 meses por motivo de saude agora ela tem 14 meses e fala apenas papa, mamae, bo (para acabou) bebe (para animais) nene (para os bebes) bum bum, pepe( para sapato) e estou mega preocupada porque tava achando que nao esta aumentando o vocabulario. Eu so falo em portugues com ela e meu marido so em italiano. Entre nos falamos em italiano e ela esta acostumada a assistir a galinha pintadinha, os pequerruchos e os dvds do baby einsten. Percebo que ela ja compreende as duas linguas porque pedimos para que ela faca alguma coisa nas duas linguas e ela faz. Sera que a minha preocupacao e bobeira?????
Christiane says
Ola Luciana, curti muito toda essa conversa… meu marido morou 10 anos nos eua e eu eu tb morei la, falamos ingles fluente e resolvemos falar em ingles em casa com nossa filha! moramos no brasil! ela escuta muito o portugues da minha sogra e da moca que trabalha com agente e e exposta ao portugues toda vez que saimos de casa tb!!!! ela esta com 2 anos e 4 meses e ja fala algumas frases, tipo May I have more water please…. this is a red crayon mommy… mas ainda nao e uma tagarela… fico muitas vezes com receio de estar ensinando o ingles para ela…. mas como ja conversei com varias pessoas que sao bilingues e me aconselharam a nao desistir…. e ansiedade mesmo de ver ela se expressando bem…e muitas vezes rola comparacoes tb de ver criancas da idade dela que falam o portugues super bem…. e se expressam super bem… mas enfim …. ela esta comecando a contruir frases em ingles agora, e varias palavras ela sabe falar em ingles e portugues…. vou postando aqui como ela vai se desenvolver… gostaria de ter seu email se possivel! grande abraco Christiane
Luciana Misura says
E assim mesmo Christiane, nao desista! Sua filha um dia vai te agradecer muito por ter feito isso!
Christiane says
outr coisa, eu ensinei a julia linguagem de sinais quasndo ela tinha 8 meses e aprendeu direeitinho, ela com 10 meses, sabia pedir com sinais e se comunicar… more, please, water, food, sorry,….e depois aprendeu outros sinais! hj ela alem de estar comecando a formar frases, conta ate 20 no dois idiomas e sabe o alfabeto em ingles… e e como outras maes disseram…o ato dela nao ser tagarela ainda muita gente fica questionando…. chato neh abraco kika
Luciana Misura says
Mas ela poderia nao ser tagarela mesmo aprendendo apenas uma lingua…nem todas as criancas falam muito e nao aprendem na mesma velocidade. Conheco criancas pequenininhas tagarelas em uma lingua assim como em duas, e vice-versa.
Renata says
Tenho uma filha de 5anos estou alfabetizando ela em
portugus simultneamente com o ingls. Estou indo sem preocupaes aos
poucos ela est entendendo as diferenas fonticas e fazer uso delas.
Os pais que desejam filhos bilingues precisam realmente estarem
dispostos. Tenho uma amiga que a filha demorou aprender o portugus,
foi para o daycare onde est aprendendo o ingls. Agora ela fez 3
aninhos a me pergunta em portugus ela responde em ingls.
Lamentavelmente ela no est falando bem nem uma e nem outra lingua.
Felizes so os filhos que possuem pais esclarecidos e dedicados.
Abraos. Parabns pelo assunto compartilhado.
Luciana Misura says
Obrigada Renata! Realmente precisa mesmo de dedicacao, senao as criancas nao aprendem…ou esquecem quando vao pra escola! Abracos!
Felicia Jennings-WINTERLE says
Cara Luciana,
Excelente texto!!
Você conhece o documentário BraZil com S?
http://www.brasilemmente.org/brazil-com-s.html
luciana says
preciso de um help, li alguns comentários, o artigo é muito bom, mas veja minha situação: sou brasileira, moro em são paulo, casada com um chinês (que fala bem português) e moro com minha sogra, que só fala em chinês com meu filho, 1 ano e 4 meses. Percebi que às vezes ele solta algum fonema chinês, mas não sei se essa situação é suficiente para ele se tornar bilíngue. Ele não fala praticamente nada, quando quer mamar ele diz “maaaammaaa”.
Luciana Misura says
O seu marido poderia falar com o seu filho só em chinês além da sua sogra, já ajudaria bastante!