O quadragésimo segundo post da série Por que viajar com crianças? é com a Maíra Ribeiro, do blog Murici do Mato.
Conta pra gente, Maíra:
Nossa família sou eu, 30 anos, meu companheiro, 32 e nossa filha, 1 ano e 4 meses. Sou paulistana, bióloga e servidora pública, trabalhamos também com produção cultural e moramos em Nova Xavantina, interior de Mato Grosso. Mantenho e colaboro em vários blogs, mas não são necessariamente sobre maternidade e viagens.
1) Por que viajar com os filhos?
Moramos numa cidade de 20.000 habitantes no interior do Brasil, cerca de 1.400 km de nossa família, longe também de aeroportos e de grandes centros urbanos. Assim, antes mesmo de nossa filha nascer, viajar um dia inteiro já fazia parte do nosso cotidiano e do cotidiano da maioria das pessoas que moram nesta região. Quando ela nasceu, simplesmente adaptamos nossa rotina pra mais uma viajante nos nossos roteiros. Até hoje nunca viajei sem minha filha, nem que a viagem fosse só eu e ela, até hoje ela amamenta e nunca consegui nem imaginar viajar, mesmo a trabalho, sem ela. Além disso, como vivemos longe da família, mesmo se quiséssemos não temos com quem deixá-la. Aqui onde moramos tem muitos lugares naturais para ir: cachoeiras, praias de rio, trilhas no cerrado, mirantes, etc. então mesmo sem viajar, gostamos de passear bastante. Além disso, trabalhamos com comunidades indígenas e nossa filha já foi muitas vezes em aldeias. A maioria das nossas viagens são mistos de passeio e trabalho, tentando juntar o lazer com ações produtivas – e desde a chegada da nossa filha – com a vivência familiar. Não me preocupo com o fato de ela futuramente nem se lembrar dos passeios, mesmo ela novinha, podemos ver que está curtindo o momento! Confesso que, agora, eu adoraria viajar com meu companheiro sem nossa filha, pra curtirmos outras coisas, mas viajar com ela já virou trivial.
2) Como foi a primeira viagem com as crianças?
Com 3 dias nossa filha viajou 150 km pra ir pro pediatra, na cidade vizinha e desde cedo, fizemos passeios próximos, e viajamos também pra visitar a família. Mas considero que nossa primeira viagem em família a passeio mesmo foi uma semana viajando pelo Mato Grosso, quando nossa filha tinha dois meses. No roteiro fomos de carro até a capital Cuiabá a 700 km daqui, na ida paramos em Barra do Garças, e na volta fizemos uma parada na Chapada dos Guimarães. Pelo caminho, visitamos algumas cachoeiras, mirantes e em Cuiabá, visitamos amigos e realizamos o lançamento de um documentário que produzimos. A Isadora era bem novinha, então, no carro, ela passava a maior parte do tempo dormindo. Tem um relato e algumas fotos aqui.
3) Qual foi a viagem mais legal da família?
Apesar de pequenininha, nossa filha já viajou bastante. Em família, viajamos de férias em setembro passado pra Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Ela já estava com 7 meses e curtiu de montão os passeios. Fizemos passeios de mais fácil acesso, mas só de estar naquele lugar lindo com nossa família inteira, já era muita alegria. Tínhamos acabado de adquirir um canguru/mochila pra fazer trilha com bebê e ela ficou super-confortável nas andanças, chegava a dormir ali. Outra viagem memorável, mas que não foi com toda a família, foi para o Pará. Fiz um curso sobre sistemas agroflorestais de 3 semanas, e a nossa filha, então com nove meses, foi junto à tiracolo. Pra tal façanha, convidei minha prima pra ser babá durante esse período. O curso foi puxado, na maior parte do tempo eu estava em curso, mas sempre nos encontrávamos na hora do almoço e no fim do dia. Elas também iam junto nas viagens de campo. Foi incrível, fiquei emocionada de poder vivenciar tantas experiências junto com minha filha, banhando no rio Amazonas, tomando açaí e creme de cupuaçu junto às comunidades ribeirinhas e agrofloresteiras. Nossa filha se saiu superbem e virou a mascotinha do grupo, com todos cuidando dela e ela se relacionando com todo o grupo.
4) Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou viajando com crianças?
Muitas vezes tive que viajar sozinha com minha filha. Aí, o sufoco é entrar e sair do ônibus ou avião, pegar malas, etc. com uma criança no colo. Quando ela era novinha, colocava ela na tipoia/sling e nos virávamos. Quando ela começou a andar, ficou mais fácil, quer dizer mais devagar, mas mais fácil e mais divertido, porque é tudo novidade pra ela também. Em muitos momentos, não hesito em pedir ajuda ao motorista e outras pessoas, nada como contar com a solidariedade humana. Viajar com criança também muda toda a rotina do bebê, essencial para a saúde e equilíbrio dos pequenos. Assim, alguns processos em andamento como desmamar à noite ou aprender a comer comida, às vezes voltavam atrás após uma viagem. Sempre quando se viaja, o sono não é o mesmo, mas, não sei se é por tanto viajar ou por crescer, cada vez mais, as viagens tem sido menos impactantes na rotina da nossa filha. Confesso que abuso do poder de acalmar que o mamar faz durante a viagem, seja de carro, ônibus ou avião. Mas apesar de falar aqui dos pontos felizes, não é fácil viajar com bebê. Como disse, sempre viajei com ela, até porque não tenho opção. Então, por um lado, decidi que não deixaria de fazer coisas que gosto por causa da minha filha e que as faria com ela como uma experiência enriquecedora pra todos. Sem dúvida temos que diminuir nosso ritmo, e encaixar o ritmo do bebê nas viagens.
5) Qual é a sua dica número 1 pra outras famílias viajantes?
Quando estava preparando meu chá de bebê, pedi dicas sobre o que incluir na lista, uma amiga me disse: “o bebê precisa de muito pouco, pense que a maioria das coisas servem para facilitar nossa vida de pais”. Levo esse pensamento pra quando vou viajar: penso em levar o básico para suas necessidades e o que vai me ajudar a cuidar dela. O resto, a própria viagem ajeita. O bebê especialmente até os seis meses, tem suas necessidades essenciais de sono, mamar (e carinho, é claro). Na verdade, depois de nos acostumarmos a nova rotina de mãe e pai, é a melhor fase para viajar, porque levamos o alimento (leite materno) e carinho conosco e um bebê-conforto ou carrinho são suficientes pro aconchego do seu sono. Depois que começou a comer, levamos sempre pras emergências frutas fáceis de comer como mexirica, biscoitos simples como de polvilho, e água, que é essencial (e o leite materno). Além disso, acostumamos a dar a comida que comemos para ela, afinando o que comemos pro que ela precisa, e o que ela come pro que a gente tem acesso. Então, em relação à comida, a preocupação com o que ela ou nós vamos comer é a mesma. Quando ela não andava, levavamos sempre uma tipoia pois é mais versátil e prático para pequenos trechos. Pra viajar em lugares abertos, não pode faltar chapéu, protetor solar, repelente, roupas confortáveis e, de novo, água! Viajar com criança, ainda mais para lugares naturais e com pouca infraestrutura não pode ter frescura. Me inspiro bastante nas famílias que conheço aqui, que não tem carro, não tem o monte de apetrechos para crianças e cuidam tão bem de seus filhos. Depois de uma experiência ruim com ônibus, decidi sempre comprar duas passagens de ônibus e viajar a noite. Eu prendo o bebê-conforto num banco e depois de uma mamada, com o balanço do ônibus, ela capota e só acorda de manhãzinha, ela fica segura e eu durmo tranquila. No avião, eu costumo dar de mamar na hora que o avião sobe e desce pro ato de sugar diminuir a pressão do ouvido.
6) Qual será a próxima viagem de vocês?
Em julho, sairemos de férias e viajaremos novamente para a Chapada dos Veadeiros, Goiás. Haverá o Encontro de Culturas Tradicionais, no qual tem várias apresentações musicais e culturais. Também ocorre encontro indígena, no qual participam diversas etnias que fazem um panorama geral de sua cultura. Não tenho dúvida que nossa filha se encantará com as apresentações, e nós também. Estamos planejando ainda para o fim do ano, nossa primeira viagem internacional para o México.
Obrigada, Maíra! Interessantíssimo o seu relato, uma realidade completamente diferente das famílias que moram nos grandes centros urbanos – obrigada por participar!
Se você viaja com os filhos e quer participar dessa série de entrevistas, entre em contato. Se você ainda não tomou coragem, espero que esse e os próximos posts da série sirvam de inspiração.
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lola says
é isso Maira, Ale e Isadora. aproveitem a vida como vocês gostam e sempre admirei sua coragem e sua disposição. filha é alegria e não empecilho. Parabéns pelo seu relato. gostei.
Fernanda says
Ótimo relato! Uma vida rodeada pela natureza, adorei a foto da pequena com os índios.