Eu estava há dias ensaiando pra escrever sobre os protestos no Brasil aqui no blog, e o #protestomaterno convocado pra hoje foi a desculpa que eu precisava.
“O Protesto Materno surgiu da vontade de mães fazerem algo pelo país, já que nem todas podem ir para as ruas com o seu filhote. O movimento começou com a adesão de mães blogueiras (mais de 150), que postam em seus blogs nessa sexta-feira suas visões e opiniões sobre o movimento legítimo e democrático que toma conta das cidades! O protesto reúne outras centenas de mães conectadas – que já estão divulgando o manifesto virtual via redes sociais – e as que decidiram levar essa união materna de volta para as ruas.
O intuito é engrossar as manifestações pacíficas que estão acontecendo pelo Brasil, apoiando mudanças além dos 20 centavos e que, sem dúvida, podem fazer da nação verde-amarela um lugar melhor para nossos filhos. Lutamos por educação, saúde, segurança, menos impostos, um basta a corrupção e impunidade.
Nem precisa ser mãe para divulgar o banner e a tag #protestomaterno, criados para representar a iniciativa – que pertence a todas as famílias brasileiras! Mas que fique claro; isso não é apenas a circulação de um banner bonitinho; é a união de pessoas realmente preocupadas com o futuro dos filhos!
Já são mais de 150 blogs maternos participantes, com o apoio de movimentos nas ruas de várias cidades. Nesta sexta-feira, às 10 horas da manhã, haverá um twitaço para balançar esse país!
Porque quem disse que mãe só entende de fralda?! Mãe entende do futuro dos filhos e quer o melhor para eles! Vem com a gente! Ajude, compartilhando, escrevendo, divulgando os links e acompanhando pela tag #protestomaterno! Também usamos #mudaBrasil #acordabrasil #vemprarua #ogiganteacordou.”
Foi com muito interesse que comecei a acompanhar os protestos acontecendo no Brasil desde o início do mês. Quem me segue no Twitter ou é meu amigo no Facebook está vendo todos os links que ando postando por lá diariamente. Minha família sempre foi muito politizada e desde criança fui muito envolvida em questões políticas. Participei de muita passeata na minha vida, grêmio estudantil, mas vi também muito líder estudantil usando o movimento pra promover sua própria carreira política em detrimento das causas defendidas pelos estudantes.
Já votei muito nos partidos “de esquerda” mas já há alguns anos nem neles acredito mais – a corrupção tomou conta de todos os partidos e níveis da política brasileira. Achei ótimo que a manifestação começou por causa dos 0,20 centavos, e que as pessoas se indignaram tanto com a repressão policial aos manifestantes que saíram pra defender seus direitos democráticos nas ruas. A insatisfação é geral com a classe política inteira, isso ficou claro.
Mas também ficou claro que o movimento precisa de líderes, de foco, senão acaba sendo desvirtuado por grupos que aproveitam o anonimato da multidão pra vandalizar e promover a sua própria agenda. Também não acho que a apropriação do movimento pelos partidos – não é uma marcha do PT, do PSOL, de nenhum partido específico, e nem uma marcha anti-PT, como tentaram alguns, seja o caminho (mas eles podem estar ali, sim, vale lembrar). Simplesmente porque os objetivos maiores vão além dos partidos completamente desacreditados que temos atualmente. Só que também não dá pra cair na besteira de hostilizar manifestantes dos partidos, porque eles tem direito de estar ali e de protestar tanto quanto qualquer um. Não dá pra esquecer que uma democracia precisa de partidos e de liberdade de expressão. Não adianta brigar com a polícia porque queremos exercer nosso direito de ir pra rua protestar num dia e negar o mesmo direito aos que estão ali se manifestando também no dia seguinte. E temos que lembrar: quando não tem partido nenhum, é uma ditadura. Não é disso que a gente precisa.
Meu problema com as bandeiras e causas partidárias nessa manifestação especificamente é tentar fazer um “fora Dilma” e “fora Alckmin”, entre outros, na carona de milhares de pessoas que não estão ali pra isso. Só pra focar nos dois citados, eles foram eleitos democraticamente, gritar fora um ou fora outro é trazer de volta aquela raivinha da época das eleições (democracia é saber perder também!) e tentar derrubá-los de forma duvidosa. Querer se aproveitar desse movimento em prol do país por causas que unem a todos nós pra promover a agenda eleitoreira de partidos e candidatos é trazer à tona um racha que não vai ajudar em nada. O buraco é mais embaixo. Há muito tempo todos nos queixamos de não ter em quem votar. Toda eleição é a mesma coisa: os candidatos são terríveis e a gente acha que escolhe o menos pior. Isso tem que mudar.
A pergunta que eu e pelo que vejo no Twitter quase todo mundo está se fazendo é: e agora? Como não perder esse momento quando as pessoas finalmente decidiram sair pra protestar, como canalizar essa energia toda pra alguma coisa que realmente mude o país? Tem muita coisa pra fazer claro, mas eu tenho um achismo fundamental:
Precisamos urgentemente acabar com todos os benefícios excessivos que os políticos brasileiros tem. Só os salários que eles ganham já são mais do que 90% da população ganha, se os brasileiros todos se viram com valores muito menores, não são eles que precisam de carro com motorista, auxílio-celular, auxílio-moradia, auxílio isso ou aquilo, nada disso é necessário. Todos esses “extras” tem que ser cortados o quanto antes. É essa perspectiva de fazer fortuna na política (entre outras coisas, claro) que atrai um monte de gente mal-intencionada. Se ser político fosse muita dor de cabeça e pouco dinheiro, quem ia entrar pra política seriam os idealistas, não os individualistas. Sem contar a economia monumental do dinheiro público, que poderia ser melhor utilizado em coisas como saúde e educação.
Tem muito mais a ser discutido, claro, mas não cabe tudo em um post só, então preferi focar nisso, que eu acho mais importante. Enfim, agora que o objetivo das manifestações (redução da passagem) foi atendido, que todo mundo já mostrou que usa o seu direito de protestar, e as manifestações estão sendo usadas por pessoas com agendas que não são necessariamente de conhecimento da maioria, não sei se é a hora de continuar indo pra rua sem liderança e sem uma proposta concreta. Ou alguém assume a liderança e coloca uma proposta em pauta ou acho que a coisa vai continuar descambando pro que aconteceu ontem em São Paulo e no Rio (e isso pode e será usado contra o movimento, embora seja difícil prever a que nível – seria desculpa para um golpe, como especulam alguns?). Temos que ir pra rua sim (na semana passada eu estava mesmo chamando #vemprarua, pela redução da passagem e para garantir nossos direitos de protestar), mas acho que agora temos que avaliar a situação. Não dá pra parar a cidade todos os dias sem saber por quê. Vamos nos organizar?
PS: Tinha me esquecido de comentar a famigerada PEC-37 que eu era contra mas agora que estou pesquisando mais a respeito estou mudando de ideia, vale a leitura dos ótimos esclarecimentos e assistam esse vídeo (uma amiga de Facebook que é delegada federal também deu um depoimento muito bacana lá no meu perfil, vou perguntar pra ela se posso copiar o que ela falou pra cá).
Livi Souza (Baianos no Polo Norte) says
Temos uma opinião bem parecida Lu, acabei de publicar o meu post da blogagem coletiva, não tão bem escrito e articulado como o seu mas tá valendo hahaha. As crianças estão fofas com os cartazes!
Tathiana says
Olá Luciana. Gosto muito do seu blog, e gostaria de recomendar a leitura do art. do prof. Túlio Viana sobre a Pec 37.
http://tuliovianna.org/2013/04/10/deixem-o-ministerio-publico-investigar/
Luciana Misura says
Obrigada, Tathiana, vou ler!