Esse post era pra ter entrado no ar no dia das crianças, mas como a gente estava viajando, acabei não conseguindo terminar de escrever a tempo! O pessoal do grupo Viagens em Família combinou mais uma blogagem coletiva, pra falar das viagens da nossa infância.
Meus pais sempre gostaram de viajar e levavam a gente junto desde bebês. Mas as viagens eram bem diferentes das que faço hoje com meus filhos: viagem pros meus pais era sinônimo de contato com a natureza, ir pro meio do mato acampar ou um hotel fazenda, com direito a cachoeira, rio, pescaria, passeio a cavalo. A nossa área de exploração era o estado do Rio (litoral nos acampamentos e casas alugadas e o interior pelos hotéis fazenda) e o litoral de São Paulo, sempre de carro. A gente praticamente nunca viajava pra áreas urbanas pra conhecer uma cidade por exemplo, a única viagem que eu me lembro pra uma cidade foi pra São Paulo, quando fomos à Cidade da Criança, eu tinha uns 9-10 anos. Sei também que fomos a Brasília quando eu tinha um ano, visitar parentes e conhecer a capital, mas dessa viagem eu não me lembro.
Felizmente meu pai já tinha passado da fase dos slides quando a gente começou a viajar (a viagem deles até Bariloche passando por Punta del Este está toda em slides, e me lembro de pedir pra ver muitas vezes quando eu era criança!). Mas tem muiiiitas fotos na casa deles lá no Rio, eu tenho poucas comigo pra ilustrar esse post.
Lembro quando eu era bem pequena de ir sentada no banco de trás em meio a um monte de travesseiros, cobertores, colchonetes, e um monte de outras tralhas com o meu irmão bem pequenininho, a caminho de um acampamento. A nossa barraca era bem grande, dessas que tem quartos, varanda, área coberta e fechada onde meus pais montavam a “cozinha”. Eles levavam tudo, mesinhas, fogareiro, panelas, comida, lampião a gás, galões e mais galões de água, era muuuuita coisa mesmo. Tudo enfiado dentro de um Fusca, e depois num Chevette. A gente chegava, os adultos montavam a barraca, quando fomos ficando maiores a gente passou a ajudar também. Lembro que a barraca era pesadíssima, nada como as barracas levinhas de hoje! Na maioria das vezes acampávamos nas praias selvagens da estrada Rio-Santos. Praias lindas, eram limpíssimas, antes da usina nuclear ser construída e nos empurrar pra mais longe, e depois fomos fugindo dos condomínios residenciais que começaram a ser construídos praia após praia. Segundo a minha mãe, eu tinha 9 meses quando acampei pela primeira vez.
Passamos muitos anos acampando com tios e primos, a gente passava o dia brincando na praia, tentando pescar com o meu avô (mas a nossa paciência era pouca), fazendo guerra de bola de areia, catando água-viva na beira d’água, pescando siri de noite, catando maria-farinheira na areia a noite, com lanternas, e colocando num balde pra depois contar quantas a gente pegou…depois um dos tios comprou uma lancha e a gente passeava de lancha também…pegávamos pitangas e cajus nas árvores, fazíamos fogueira de noite, víamos as estrelas, meu pai e o tio tocavam violão de vez em quando. Em algumas ocasiões fazíamos pipoca ou batata doce assada na fogueira. Uma vez vimos uns pescadores que colocaram três tartarugas marinhas enormes com o casco virado pra elas morrerem e eles fazerem sopa de tartaruga, lembro que a gente não entendia porque, queríamos desvirar as tartarugas. Uma vez alguém pescou um peixe que veio com uma moréia enrolada nele, foi a sensação entre a criançada. O cheiro de hidratante Nívea (o tradicional) até hoje me lembra acampamento, porque era o que a minha mãe passava na gente depois do banho todos os dias. E não me lembro quando começou, mas a gente usava protetor solar sim, no início era apenas SPF 4 ou 8, haha. Ah, também lembro de dormir com o barulho forte das ondas, e das noites de ressaca, quando os homens saíam das barracas pra ficar de olho no mar e às vezes cavar barreiras na areia pra proteger as barracas.
Os hotéis fazenda eram outro capítulo, a gente adorava andar a cavalo, era a diversão principal todas as vezes. Lagos, cachoeiras e rios para pescaria ou pra tomar banho eram o máximo. Lembro até hoje do hotel fazenda (Pedras Negras) que tinha um restaurante separado para crianças, a gente adorava comer lá. O hotel fazenda (Santa Bárbara) fez uma “caça ao tesouro” pelo terreno do hotel inteiro que mobilizou todas as crianças do hotel. Adoramos os passeios a cavalo do hotel Boa Esperança, que tinha um jardim interno que eu me lembro até hoje, achei a coisa mais linda da minha vida de criança. Também lembro do hotel Vale do Sol, enorme, com um lago onde pegamos muitos peixes, e tinha uma “discoteca” só pras crianças. Também lembro de passear a cavalo e dos carrapatos no hotel Arcozelo. E sim, eu me lembro de todos os nomes de cor, sem precisar consultar nada (depois dizem que criança não lembra das coisas!).
Fora dos acampamentos e hotéis fazenda, de vez em quando a gente alugava casa em Cabo Frio ou Rio das Ostras, durante o verão. Lembro da Praia do Forte antes do calçadão e dos prédios, da Praia das Conchas sem nenhum quiosque, eram outros tempos! Búzios então era uma aventura, péssima estrada, uma loucura pra chegar lá. Uma vez em Rio das Ostras eu e o meu irmão estávamos nadando e ele começou a ser puxado pela corrente, foi um susto.
Também adorei a viagem que fizemos para Ilhabela, a nossa aventura de carro atravessando a péssima estrada até a Baía dos Castelhanos está guardada na memória até hoje. E o nosso último acampamento, quando fomos pra Penedo, ficou na memória: a barraca alagou logo que a gente acabou de montar, quando caiu uma tempestade torrencial! Acabamos dormindo numa pousada mesmo, hehe. Mas aí eu já era adolescente, o meu irmão passou a ter uma reação alérgica a picada de mosquito e meus pais desistiram de continuar acampando. Fora que já estava bem mais difícil encontrar lugares legais pra acampar, a expansão imobiliária já tinha atingido todos os lugares que a gente conhecia e gostava.
Ah, não posso deixar de falar dos livros! Minha mãe sempre comprou vários livros sobre países do mundo, coleções sobre história ou do tipo National Geographic com florestas remotas, Grande Barreira de Corais, savanas africanas, e livros de arte também. Eu lia tudo e desde aquela época já ficava olhando onde estavam os meus quadros preferidos e pensando que um dia eu tinha que ir naquela tal National Gallery em Londres ou naquele tal Louvre em Paris pra ver os quadros ao vivo. A Escandinávia e o Japão por exemplo já são paixões antigas, eram dois dos livros que eu mais gostava. 🙂
Só fui fazer a minha primeira viagem internacional com 17 anos, quando fui a Paris, com o namorado na época e a turma dele de faculdade.
Mas o gostinho de viajar já estava sendo cultivado, independente do tipo de viagem!
E você, viaja com a sua família quando criança? Quais são as suas memórias de viagem? Se você tem blog, participe da blogagem coletiva também. Se não tem, pode responder aqui nos comentários!
Outros blogs participando:
1. Claudia Rodrigues Pegoraro – Felipe, o Pequeno Viajante
2. Karen Schubert Reimer – As Aventuras da Ellerim Viajante
3. Francine Agnoletto – Viagens que Sonhamos
4. Thyl Guerra – Viajando com Palavras
5. Marcia Tanikawa- Os Caminhantes
6. Adriana Pasello – Diário de Viagem
7. Sut-Mie Guibert – Viajando com Pimpolhos
8. Andrea Barros – Do RS Para o Mundo
9. Andreza Trivillin – Andreza Dica e Indica Disney
10. Patricia Papp – Coisas de Mãe
11. Camila de Sá Marquim – Na Viagem com Camila
12. Débora Segnini – Gosto e Pronto
13. Débora Galizia – Viajando em Família
14. Aryele Herrera – Casa da Atzin
15. Andréia Mannarino – Mistura Nada Básica
16. Tatiana Dornelles – Destino Mundo Afora
17. Manu Tessinari – Cup of Things
18. Valéria Beirouth – It Babies
19. Luciana Misura – Colagem
20. Amanda Lago – Batendo Perna pelo Mundo
21. 21. Erica Kovacs – Viagem com Gêmeos
Valéria Vieira Beirouth says
Muito bom! Tão bacana recordar esses momentos felizes da infância, né? O Eric é a sua cara! Abraços.
Luciana Misura says
Sim, muita viagem boa pra lembrar 🙂 Hehe o Eric é o meu mini-me e a Julia é a cara do pai!
Amanda Lago says
Ah, as revistas da National Geographic!!! Elas me faziam viajar em sonhos. Comprei a minha primeira com 11 anos. Lembro até hoje que tinha uma reportagem sobre as “mulheres girafa” da Tailândia. Boas lembranças!!!
Abraço
Luciana Misura says
Amanda, eu adoro essas revistas e meus pais compravam, mas eu estava falando de uns livros que a minha mãe tinha (uma coleção) que era no estilo das revistas, não sei o nome deles, mas eram todos sobre lugares super remotos (e a maioria até hoje ainda é bem inacessível)!
Thyl Guerra says
Que máximo Luciana, quantas aventuras. Sempre quis acampar na praia, mas nunca fiz. Muito legal conhecer a sua experiência de infância. Adorei o post.
Bjs
Thyl @viajandpalavras
Luciana Misura says
Thyl, eu acampei muito, e o meu marido (americano) também acampou muito quando era criança. Mas pergunta pra gente se a gente quer acampar hoje em dia…rsrsrs! A gente ainda vai fazer uma viagem de motorhome com as crianças, com certeza, mas acampar mesmo a gente já esgotou a nossa cota!
Luciana Betenson says
Muito bacana o texto, Lu! Acabei de escrever no post da Manu, acho que tivemos muitas experiências semelhantes e a semente de viajantes foi plantada na nossa alma desde cedo. E isto que passamos aos filhos hoje. O que mais me espanta é que viajávamos apertados, em carros sem ar condicionado, imagine então ipods, games, dvds rsrs… e dava tudo certo né? 😀
Luciana Misura says
Lu, tô indo lá ler o texto da Manu! E você não vai participar? Escreve também! 🙂 Com certeza a gente viajava de forma bem mais simples, hoje em dia está muito mais fácil. Foi o que a Claudia Rodrigues falou no post dela, as facilidades aumentaram e ainda tem tanta família com medo de viajar com os filhos (mas também acho que as famílias hoje são muito mais dependentes de babás do que eram na nossa época).
Aryele says
Oi Luciana,
Gostei da lembrança do cheiro do creme Nīvea, boa recordação sua, mais um sentido envolvido nas viagens, rs.
Praia na infância para mim tem cheiro de rayito de sol (que as mulheres usavam) e de hipoglós ( uma camadinha no nariz da criançada para não torrar com o sol) rsrs
Bjus.
Luciana Misura says
Hahaha Aryele, hipoglós acho que a gente não chegou a usar, mas me lembro do Caladryl pra queimaduras!
Francine Agnoletto says
Luciana,
Deve ter sido muito legal os acampamentos de vcs.
Eu lembro que a gente sonhava em acampar. dai uma vez, meu pai pegou uma barraca dessas grandes emprestadas e carregamos o Corcel e fomos felizes da vida pro camping. Ja comecou tudo errado, porque meu pai é todo atrapalhado e não tinha noção nenhuma de como se montava uma barraca, rsrsr. Os vizinhos tiveram que montar a nossa barraca. Dai, de noite, deu uma chuvarada e alagou tudo. Amanheceu e levantamos acampamento. Foi minha primeira e única experiencia e ainda frustrada, rsrsr.
beijooo e parabens pelo aniver do Eric!
Luciana Misura says
Hahahaha nooossa, esse acampamento foi “férias frustradas” total! Então você ainda tem que acampar “direito” hein, faz que nem a gente e planeja alugar um motorhome no futuro!
Marcia Tanikawa says
Oi Luciana!
Como vc falou, tivemos experiências bem semelhantes…rsrs..
Acampamento, aquela estrada horrorosa para Castelhanos em Ilhabela, barracas quase arrastadas por ressacas, barracas pesadíssimas, impossíveis de acreditar nas barracas com estrutura de alumínio de hoje… e o mais engraçado é que apesar das dificuldades e perrengues, é uma parte que não me deixou traumatizada (aos contrários das pescarias, que era um porre de chatice!), os acampamentos sempre ficaram na memória e ainda hoje gostamos…
Só tem uma coisinha… estou vendo que eu devo ser uma das mais “veteranas” da tchurminha aqui… pelas suas fotos, devo ter uns bons 15 aninhos na sua frente…hehehe….
Um grande abraço!
Marcia
Luciana Misura says
Marcia, acho que você calculou a minha idade errada, você tem mais de 50 anos? Porque eu tenho 36…!
Debora Galizia says
Hoje em dia não tem mais campings como antigamente, né? Era muito comum as familias acamparem..
Sabe que meu filho também adora tudo relacionado a países e o Japão exerce um fascinio incrivel para ele… Também compro livros sobre países para ele… Espero que ele tambem tenha estas recordações da sua infância..
E de motorhome, vc já viajou? É muito comum nos Estados Unidos, né?
bjs
Luciana Misura says
Debora, ainda não viajei de motorhome, está na nossa listinha de viagens a fazer 😉 mas apesar de ser bem mais comum aqui nos EUA do que no Brasil, eu conheço pouca gente que já viajou de motorhome por aqui, conto nos dedos de uma mão!
Erica says
Oi Luciana
que legal o seu post! E as fotos!!! Olha a cor da água! tem uma foto sua tomando banho bebezinha, bem transparente!!
Muito bom acampar naquela época né? Nossos pais eram super aventureiros! Hoje também não tenho mais coragem não!! beijos
Luciana Misura says
Com certeza, ainda existiam lugares “intocados”…é triste pensar que a maioria desses lugares não existe mais ou estão poluídos…!
Silmara Colombo says
Como diz o ditado “Antes tarde que mais tarde”, por isso também fiz um post para a blogagem coletiva, embora a minha deveria se chamar “As viagens que não fiz na infância”…rs Bjos e feliz 2014.
elda do carmo araujo pereira says
Que legal, Luciana! Logo que vi o seu post no Facebook com aquela foto, pensei: é Brasília, é a Água MIneral!!! Acho que uma das poucas coisas de que me orgulho ainda no meu país (que amo) é a minha cidade de adoção, Brasília! Amei a foto!