Chegamos ontem da nossa viagem ao Panamá: passamos um dia e meio na Cidade do Panamá e rumamos para San Blás, a região na costa do mar do Caribe com as mais de 300 ilhas dos índios Kuna que tem autonomia do Panamá (na língua deles, a região se chama Kuna Yala). Ficamos no Yandup Island Lodge, um pequeno hotel rústico na ilha de mesmo nome, e aproveitamos 4 dias nesse lugar quase que intocado, pontilhado por ilhas ainda desertas, a presença humana se resumindo a uma canoa com um índio pescando aqui e ali. Praias lindas e um povo simpático e educado, com uma cultura interessantíssima, tentando se adaptar ao mundo de hoje. Foi uma experiência e tanto, nós adoramos, e as crianças também!
Falando um pouquinho da logística…eu estava preparada pra muita confusão, atrasos, mas felizmente tudo correu da forma que foi prometido: o motorista nos pegou no hotel pontualmente, o vôo da Air Panamá no avião de 20 pessoas saiu quase no horário (o aeroporto fechou por uma meia hora devido a neblina, e saímos assim que as nuvens se dissiparam), os índios que trabalham no Yandup estavam lá pra nos pegar no aeroporto quando o avião pousou e nos levaram de barco pro hotel logo em seguida (10 minutos de barco, como prometido). Na volta a mesma coisa, tudo aconteceu nos horários marcados, o vôo chegou e saiu no horário, o motorista estava nos esperando na Cidade do Panamá. A única reclamação fica por conta do carro super pequeno que nos buscou, mas o pessoal da agência de viagem com quem reservei o trecho de San Blás já falou que foi um imprevisto porque a van deles estava com problema e eles mandaram esse outro carro. Depois de ler muitos depoimentos falando como a Air Panamá é terrível, com seus famosos atrasos de muitas horas; como os índios Kuna são desorganizados, como os motoristas não aparecem, foi um alívio que tudo tenha corrido como deveria. A Panama Travel Unlimited foi a agência que eu usei e fica aqui devidamente recomendada.
O hotel era exatamente como descrito, uma ilha do tamanho de um campo de futebol com coqueiros e 10 cabanas, uma pequena praia de areia muito lindinha, e um restaurante com uma bela vista pro mar e pro continente, com seus morros e florestas. Nos surpreendemos com a variedade da comida em relação ao que tínhamos lido, depois dou mais detalhes, mas raramente os pratos foram repetidos. Na chegada perguntaram se as crianças ou algum de nós tinha restrição – serviram frango pras crianças e pro Gabe quando a comida era alguma coisa que eles não comiam como polvo ou siri. Sempre tinha arroz, um dia teve macarrão, e legumes como cenoura, batatas, aipim, brócolis, etc. Julia e Eric não tiveram problemas com a comida. Só vi 2 mosquitos durante os 4 dias, conto nos dedos das mãos os insetos que apareceram dentro do nosso quarto (as cabanas não tem vidros, as janelas são de treliça, sempre abertas, apenas com cortinas). Os índios que trabalham no Yandup são bem organizados, falam espanhol e um inglês básico mas suficiente pras informações do dia-a-dia, a gente se comunicava num portunhol mesmo, e em último caso, inglês.
As 10 cabanas são bem grandes, são 6 em cima da água e 4 em terra firme. A nossa eu pedi em terra firma na hora da reserva porque fiquei com medo do Eric na cabana em cima da água, e foi a decisão mais acertada mesmo, eu teria ficado maluca com ele na outra cabana. A nossa tinha uma cama de casal e duas camas de solteiro pras crianças, mosquiteiros, uma cadeira de balanço, o banheiro (com chuveiro, vaso sanitário e pia que funcionam normalmente, ao contrário de muitos outros hotéis em San Blás), uma varanda ao redor da cabana toda com duas redes e uma cadeira de balanço (que as crianças ficavam correndo dando voltas, subindo e descendo da grama para a varanda). O Yandup utiliza energia de painéis solares e imagino que eles tenham um gerador também, mas não vi. Tivemos eletricidade durante a noite toda, só de manhã depois do nascer do sol é que eles desligavam a energia. Nas 4 noites que passamos lá tivemos duas faltas de luz rápidas em duas noites, antes do jantar, mas foi coisa de 20 minutos no máximo cada vez, se tanto. A iluminação nas cabanas é pouca, uma única lâmpada perto da porta de entrada, e uma dentro do banheiro. Todos os dias depois do café-da-manhã, enquanto a gente saía para o passeio das praias em outras ilhas, o quarto era arrumado. E durante o café-da-manhã os funcionários falavam da programação do dia, que ficava escrita em um quadro-negro no restaurante.
Visitamos 3 ilhas nos passeios da manhã: Arridup (Ilha do Poço, duas vezes), Diadup (Ilha Iguana) e Dupir (Ilha da Travessia). Nos passeios da tarde fomos a Comunidade, que é a ilha onde os índios moram, ao Manguezal, e acabamos não indo no passeio do Cemitério porque fiquei na dúvida se seria adequado pras crianças (e quis aproveitar a luz do dia pra arrumar as malas). O passeio da Cachoeira eu já sabia que não ia dar pra fazer com as crianças porque é uma caminhada pela mata de 1 hora e meia pra chegar lá. As ilhas são lindas, Arridup foi a nossa preferida. Areia branquinha, água em vários tons de azul e verde, super transparente, temperatura perfeita. As praias são OK para mergulho, nada espetacular, vimos muitos peixinhos pequenos, ouriços, siris, lulas, estrelas do mar, mas não achei o coral muito colorido não, e em termos de quantidade dos peixes e variedade não foi o lugar mais legal onde mergulhamos. Claro que a Julia curtiu o que viu, e até conseguiu usar a sua máscara e snorkel um pouco dessa vez. Nas idas e vindas para as ilhas e nesses passeios, eram dois barcos do hotel para acomodar todo mundo, um com espaço pra umas 20 pessoas e o outro pra umas 8 no máximo. E eles tinham salva-vidas pra todo mundo nos barcos, mas não vi salva-vidas para crianças (como a gente levou os nossos pras crianças, pode ser que eles não tenham oferecido por isso, mas a neném da outra família que estava por lá estava sem salva-vidas, então imagino que eles não tenham para bebês mesmo).
Demos sorte com o clima, pegamos 3 dias de sol (mas sempre com nuvens) e um nublado sem sol, com uma chuvinha fina que insistia em cair. Como chove muito no Panamá e nessa área em geral, aumentando o número de dias que você fica por lá, melhores as suas chances de pegar sol. A maioria dos turistas ficava apenas duas noites, o que eu acho um risco enorme de pegar somente chuva e dias nublados (o que pode acontecer mesmo ficando mais dias, claro, mas é mais difícil). Das 4 noites acho que choveu umas 3 durante a madrugada, sendo um dia de tempestade tropical mesmo, com direito a muitos raios e trovões. Incrivelmente não tivemos nenhuma goteira na cabana, nem entrou água de nenhuma forma.
Pra não dizer que é um paraíso perfeito: muito lixo jogado no mar vem parar nas ilhas, então você vê garrafas plásticas, latas, sacolas e afins trazidos pelo mar. Não me espantou (porque eu já tinha lido a respeito e já tinha visto isso em outras praias em locais diversos) mas o Gabe ficou incomodado. E tem uns insetos pequenininhos, do tamanho de um pontinho de lápis, na areia das praias, que resolveu que eu era a sua pessoa preferida pra morder. Nem o repelente que eu passava todos os dias antes de ir pra praia resolvia. Mas nem o Gabe nem as crianças foram picados, o alvo era apenas eu! Eles voltaram com uma ou duas picadas cada um, se tanto, eu voltei com mais de 30…enfim, isso acontece até quando a gente visita os meus pais no Rio, então só comprovei o meu status de ímã de inseto (eu digo que o melhor repelente pra minha família é viajar comigo, já que todos os bichos vem pra cima de mim e esquecem dos outros). O Eric não gostou nadinha do banho frio, ele chorava toda vez pra tomar banho. A Julia não se incomodou, disse que a água “nem era tão fria assim” (e eu concordo com ela, passado o primeiro choque não era muito fria mesmo).
As crianças se divertiram nas praias, correndo pelo gramado da ilha, na varanda da cabana, vendo os muitos peixes e pelicanos debruçados nas grades do mirante do hotel, andando do restaurante pra cabana com lanternas à noite, e tiravam um cochilo nas idas e vindas do barco para as ilhas. Cardumes enormes de peixinhos pequeninos estavam sempre ao redor dessa passarela que liga o restaurante a esse quiosque com muitas redes no meio do mar. A gente sempre dava uma paradinha pra ver os peixes. Tinha uma outra família por lá (eles eram panamenhos) com uma bebê de 11 meses, então não éramos os únicos doidos com crianças 😉 Os índios Kuna adoram crianças e foram super atenciosos com os pequenos. A maioria absoluta dos hóspedes eram casais, e mais da metade eram turistas europeus, conhecemos holandeses, suíços, espanhóis, outros sul-americanos e encontramos um casal brasileiro também.
Nos próximos dias vou escrever com detalhes um post pra cada dia nesse lugar incrível, aguardem! 🙂
Veja outros posts dessa viagem:
1o dia: Chegando a San Blás: primeiro dia no Yandup Island Lodge
2o dia: Segundo dia em San Blás: ilha Iguana e manguezais em Kuna Yala
3o dia: Tempestade em San Blás e conhecendo a comunidade Kuna
4o dia: Último dia em San Blás na ilha Dupir
San Blás com crianças: como foi a nossa experiência em Kuna Yala
Viajando pro Panamá com crianças: o meu planejamento
Tatiane says
Lu, adorei ler seu post. Tenho entrado em crise pensando em que destinos colocar nos meus próximos 2 anos de viagem, considerando, que tenho 30 dias de férias e feriado prolongados apenas, porque tô planejando começar a pensar em filhos pra depois desses 2 anos.
Sempre fico pensando como eu vou pra Ásia com criança, mas seu post me animou. Talvez me prive de ir logo que tiver ou em fazer determinadas trilhas, mas vi que não é impossível viajar com crianças pros lugares que sonho em conhecer. E San Blás está muito na minha bucket list. 😉
Luciana Misura says
Tatiane, definitivamente filhos não são impedimento para viajar, mas claro que dependendo da idade tem destinos mais ou menos apropriados 🙂 Com planejamento e disposição dá pra continuar viajando com as crianças, a gente só mudou um pouco a ordem da bucket list com eles!
Barbara Ribeiro says
Adorei!!!
Você vai fazer sobre a Cidade do Panamá tb?
Aff…uma pena não poder ir pra San Blás!! Espero que ainda esteja assim por muitos anos…não vire “o paraíso que já foi limpo”!
Luciana Misura says
Vou sim Barbara, mas como já tem muitos posts sobre a Cidade do Panamá nos blogs que recomendei, vou deixar pro final! A gente não fez nada de diferente por lá, infelizmente o Biomuseo ainda não está aberto, só em 2014.
Mauricio Oliveira - Trilhas e Aventuras says
Que delícia de lugar, Lú!
Adorei o relato e as fotos estão show.
Adoro quarto de hotel desse jeito… em Jericoacoara fiquei em um assim tb. Mto legal.
Bjs
Luciana Misura says
Brigada! Não sabia que em Jericoacoara tinha hotel assim não, legal! Outro lugar que está na minha bucket list…
Marcela says
Adorei!!! As criancas devem ter se divertido muito. 🙂
Luciana Misura says
Eles amaram, não paravam um minuto, quando não estávamos na praia eles estavam correndo pela varanda ou pelo gramado 😉
Livi says
Fiquei apaixonada pela beleza e simplicidade do lugar, imagino como as crianças devem ter gostado. Desconectar do mundo de vez em quando faz bem. 😉
Duas perguntinhas: seus filhos tomam leite antes de dormir? Como fazia?
Luciana Misura says
Livi, sim, nem senti falta do mundo conectado não…e com duas crianças a gente nunca fica “sem nada pra fazer” né, rsrs. Não, meus filhos não tomam leite antes de dormir, mas mesmo assim eu levei leite em caixinha pra eles (porque não sabia o que ia ter no café-da-manhã). E eles tinham leite integral no café, imagino que se eu precisasse pra noite não ia ter problema eles arrumarem um copo pra cada um (de graça ou cobrando um “extra”, porque eles cobravam $1 ou $2 por chá, refrigerante, bebidas extras).
Daisy Couto says
Luciana, adorei a sequência de post do Panamá! Viajei também com as crianças para New Orleans, estávamos em Houston e fomos de carro, eu queria ir para a Disney e meu marido sugeriu New Orleans como alternativa, tinha ouvido muito falar como uma viagem boemia e focada em adultos. Eu fui então pesquisar, essa pesquisa aconteceu por volta de março e seu post na época foi minha referência para me deixar animadíssima com New Orleans!! ( postei no meu blog sobre New Orleans com crianças, depois dá uma olhada, e me fala o que achou do meu roteiro, ele teve muitas influências do seu …hehe)
Esse post sobre o Panamá levantou uma possibilidade de viagem que também não tinha pensado ainda. Achei as fotos lindas, parece um paraíso! e pertinho de Houston, onde devo morar em breve breve, se Deus quiser!!!
Tenho alguma dúvidas: Só tem essa opção de avião teco teco para chegar à ilha? Quando fomos para Morro de São Paulo/Bahia, fomos de catamarã para fugir do teco teco, é possível aí?
Outra dúvida, qual o custo médio dessa viagem? Pode me responder por email, se preferir. Somos também 4.
Essa é a época do ano que mais chove?
Abraços
Daisy
Luciana Misura says
Daisy, pra chegar a essa ilha do Yandup, só de teco teco mesmo, não dá pra ir de barco. Falei do custo aqui: http://luciana.misura.org/2013/12/03/chegando-a-san-blas-primeiro-dia-no-yandup-island-lodge/#comment-680686
E sim, essa época do ano chove, mas chove muito no Panamá de um modo geral.