Pra quem vai de avião da Cidade do Panamá para San Blás a única opção atualmente é a Air Panamá e os vôos saem do aeroporto Allbrook super cedo. O motorista enviado pela agência estava nos esperando no hotel pontualmente as 4h30 da madrugada (ui!). Eu já estava apostando que ele ia se atrasar, quebrei a cara. A van da Panama Travel Unlimited era decente e com jeito de nova, muito melhor do que 99% dos táxis na Cidade do Panamá. As crianças ainda estavam mais dormindo do que acordadas, e lá fomos nós ainda no escuro atravessar a cidade pro aeroporto. Felizmente cedo assim o trânsito não é um problema e chegamos lá em meia hora, bem na hora que o check-in da Air Panamá estava abrindo pros primeiros vôos do dia, as 6h. O terminal é novinho, limpo, fizemos o check-in rapidamente (as bagagens foram pesadas e nós também!) e fomos tomar café ali mesmo. Às 5h30 entramos na sala de embarque como nos foi informado e chamaram todo mundo pra embarcar uns 15 minutos depois. Parecia que a gente ia sair pontualmente, mas as nuvens foram mais rápidas e fecharam o aeroporto. Mas isso só durou uns 20 minutos, saímos no máximo com meia hora de atraso, nada mal depois dos relatos que eu tinha lido de vôos com 3 horas ou mais de atraso…
O avião era super antigo, para 20 passageiros contando com o piloto e o co-piloto, e tinha um monte de malas e bagagem dentro do avião mesmo, ocupando alguns assentos. Eram duas fileiras, uma de 2 poltronas e uma de 1, mas tudo super apertadinho e todo mundo andando abaixado lá dentro. Achamos uns lugares (não são marcados) e sentamos, torcendo pro tempo ficar bom e a gente não ter que chacoalhar naquele aviãozinho em alguma tempestade tropical. Quando decolamos, os prédios da Cidade do Panamá apareciam no meio das nuvens (do lado direito), mas como estávamos na outra fileira não conseguimos tirar boas fotos. O vôo até San Blás foi tranquilo, quando começamos a sobrevoar as praias e ilhas nosso queixo já começou a cair com aquele mar lindíssimo – pena que as janelinhas do avião eram tão sujas e arranhadas, mas dá pra ver pelas fotos como o lugar é espetacular. O avião começou a descer, chegou num micro aeroporto, a gente respirou aliviado…até o piloto falar que ali não era Playón Chico não, era um outro aeroporto antes, pra pegar mais gente, descarregar algumas malas e tal! Comédia, avião parando pra pegar passageiros assim que nem ônibus, então tá…umas pessoas saíram, algumas começaram a entrar e não tinha assento pra todo mundo. Uma moça foi sentada em cima de umas malas lá atrás (de uma das nossas malas por sinal!). Quando finalmente aterrisamos em Playón Chico, três passageiros descobriram que tinham que ter descido na parada anterior, mas como o piloto não falou nada, eles não tinham ideia. Era por isso que estava faltando lugar! Saímos todos do avião, telefonemas pra cá e pra lá, eles combinaram de voltar no aeroporto anterior pra levar os passageiros perdidos de volta. Enfim, como disse uma senhora suíça que mora no Panamá há 20 anos: Isso é o Panamá, não se estresse!
O pessoal do Yandup Lodge já estava lá nos esperando no aeroporto, junto com vários índios que estavam aguardando encomendas e algumas crianças curiosas da comunidade. Deixamos as malas num canto da pista, fomos pra trás do murinho ver o avião decolar e depois atravessamos a pista com as malas rumo ao pier de onde saem os barcos pro Yandup e pro Sapibenega, que é numa outra ilha igualmente perto. Eram 8h da manhã, entramos todos no barquinho e 10 minutos depois estávamos na “nossa” ilha pelos próximos 4 dias. Uma prainha linda, muitas conchas, coqueiros, gramado bem verdinho e as cabanas num dia que começou feio mas agora o céu azul começava a aparecer pra nos dar as boas-vindas.
Um funcionário do hotel anunciou as cabanas pra cada hóspede e fomos instruídos a deixar tudo na nossa cabana e ir direto tomar o café-da-manhã que já estava sendo servido (o café é servido das 7h as 8h30). Demos uma olhadinha rápida na cabana e fomos logo pro restaurante.
O café-da-manhã tinha sempre iogurte, cereal, leite integral, um suco (nesse dia foi de mamão papaia), café, umas fatias de pão, manteiga e geléia, e a parte “quente” varia. Nesse primeiro dia foram 2 ovos fritos (com a gema bem mole) e uma fatia de presunto. Tomamos café, demos uma olhada nos muitos peixinhos e conchas dentro de um cercado que eles tem ao lado do restaurante e fomos avisados dos horários e atividades do dia: as 9h40 o barco sairia para uma ilha pra gente aproveitar a praia, e no final da tarde (as 16h) o passeio seria até a comunidade Kuna ali pertinho. O almoço seria servido na volta do passeio de barco, as 13h e o jantar as 18h. Tudo cedo, mas faz todo o sentido de acordo com o roteiro de atividades e a luz natural.
Logo depois do café estava tudo com sol e vocês não imaginam a minha felicidade, porque a maioria das fotos no TripAdvisor tem quase sempre um céu cinza carregado de nuvens e eu já estava achando o sol seria artigo raro nessa área (sem contar os dias nublados que pegamos na Cidade do Panamá).
Corremos pra trocar de roupa e logo saímos pra conhecer a primeira ilha e a nossa favorita: Arridup, Ilha do Poço (o tal poço não existe mais, eu perguntei). Fomos apreciando a paisagem maravilhosa no caminho da ilha Yandup até lá, acho que levamos uns 15 minutos talvez. Quando chegamos naquela ilha deserta, com a água transparente perfeita, cheia de coqueiros, vi que a viagem naquele momento já tinha valido a pena. As crianças já foram logo pulando na areia e na água, apontando os peixinhos, correndo pra todo lado. Passamos 2 horas nesse lugar incrível, somente os hóspedes e os funcionários que nos levaram, e os índios pescando nas suas canoas ao redor. Fizemos um pouco de snorkel, vimos estrelas do mar, ouriços, peixinhos variados, um siri super camuflado, uma lula mudando de cor. Brincamos na areia, fizemos castelo, nadamos mais um pouco, uma delícia, a água na temperatura perfeita e o calor na medida certa, quente sem ser escaldante. Na ilha obviamente não tem nada, os funcionários levam apenas um isopor com água, cerveja e refrigerante pra quem quiser comprar, nesse dia a gente não levou nada pra comer mas também nem precisou. Na hora de sair eu apenas fiquei pensando na sorte que a gente deu de ver um lugar tão lindo em um dia perfeito como esse. Momento pra ficar na memória pra sempre.
As crianças tiraram um soninho no barco na ida pro hotel, afinal estávamos todos super cansados por termos acordado de madrugada. Chegamos e foi só o tempo de trocar de roupa pra ir almoçar. O almoço do dia começou com uma sopa de legumes que tinha aipim, cenoura, e outras coisas que não consegui identificar, mas estava gostosinha. As crianças comeram bastante. Depois trouxeram o prato principal: o meu foi um prato de siri bem gostoso com um toque de curry, batatas, cenoura e chuchu pra acompanhar. Para o Gabe e pras crianças eles trouxeram os mesmos acompanhamentos mas com frango grelhado ao invés do siri, porque tinham me perguntado se eles tinham alguma restrição e eu avisei que eles comem peixe mas não necessariamente frutos do mar (na verdade eu não sei se as crianças comeriam o siri mas como eles preparam tudo contado, seria um risco caso eles não gostassem de não ter outra coisa pra comer). De sobremesa sempre traziam frutas, não sei porque não tirei foto, acho que foi melancia dessa vez.
Depois do almoço, exaustos, fomos pra cabana tentar tirar uma soneca, eu e Gabe nos revezando olhando as crianças que estavam na maior energia (claro, eles dormiram no barco!). Acabamos resolvendo não ir no passeio da tarde porque estávamos acabados, ficamos na ilha Yandup mesmo explorando os cantinhos, a praia bonitinha e pequenina, até a hora do jantar. O tempo fechou de novo a tarde, com nuvens escuras com jeito de chuva, mas não choveu. Fizemos um picnic na varanda pras crianças com as coisas que eu levei de casa mesmo, leite em caixinha, biscoitos, uva passa, queijinho tipo polenguinho, eles adoraram a bagunça.
O jantar começou com uma salada de macarrão com alguns pedaços de pimentão, cebola e um tempero forte que não identificamos. A Julia não conseguiu comer muito, eu comi um pouco, o Gabe e o Eric gostaram. O prato principal que comi eu juro que não consegui identificar muito bem, eu acho que era um camarão mas não tenho certeza, com arroz com leve gosto de côco e uma saladinha. Pras crianças e pro Gabe trouxeram frango novamente, com os mesmos acompanhamentos. Estava gostosinho, aliás, de um modo geral a comida é OK: nem incrível nem ruim, básica e bem feitinha, comida caseira com frutos do mar fresquinhos (o que já é uma grande vantagem). De sobremesa se não me engano trouxeram abacaxi. Ah, e no almoço e jantar, a água mineral está incluída, refrigerantes, bebidas alcóolicas e sucos são pagos à parte (em dinheiro, no final da estadia). Mas com esse clima e passando o dia na praia, a gente tomava água desesperadamente mesmo, nem queria saber do resto.
Depois do jantar já está bem escuro, voltamos pra nossa cabana pra tomar banho e dormir, estávamos todos super cansados do nosso dia que começou as 4 da manhã! Quando deu 21h estávamos todos dormindo, debaixo dos mosquiteiros e com a brisa do mar passando pelas frestas e janelas da cabana. Eu estava preocupada com os insetos (eu ODEIO insetos com todas as forças) mas só vimos dois besourinhos pequenos e nenhum mosquito nesse dia. Ufa. Um primeiro dia perfeito em San Blás.
O post ficou enorme mas esse foi mesmo o dia mais intenso, os outros serão menores, prometo 😉
Veja outros posts dessa viagem:
1o dia: Chegando a San Blás: primeiro dia no Yandup Island Lodge
2o dia: Segundo dia em San Blás: ilha Iguana e manguezais em Kuna Yala
3o dia: Tempestade em San Blás e conhecendo a comunidade Kuna
4o dia: Último dia em San Blás na ilha Dupir
San Blás com crianças: como foi a nossa experiência em Kuna Yala
Viajando pro Panamá com crianças: o meu planejamento
Léo Araújo says
O que é essa ilha Arridup? Um verdadeiro paraíso!!!
Encantado com as belezas do lugar. Lu, depoiz faz um post com os custos médios de passeios e hospedagem por aí, pra dar uma ideia aos leitores.
beijos!
Luciana Misura says
Leo, é fácil porque é “all-inclusive” hehe. O Yandup custou $300 dólares a diária para família toda (o Eric não pagou, até 3 anos é de graça) na nossa cabana em terra firme (em cima da água é mais caro um pouco). No preço do Yandup está a hospedagem + 3 refeições diárias + 2 passeios por dia de barco + transporte do aeroporto pra ilha ida e volta. O pacotinho pra San Blás pra nós 4 por 4 noites saiu $1.825 incluindo o transporte do hotel pro aeroporto na Cidade do Panamá e na volta do aeroporto de Allbrook pro aeroporto de Tocumen + as passagens aéreas (na Air Panamá a Julia paga como adulto com 6 anos e o Eric paga a passagem de criança) + o Yandup, o que sai $456 por pessoa total ou $114 por pessoa por dia com tudo incluído, o que no final das contas não é absurdamente caro.
Léo Araújo says
Muito bom mesmo, Lu. E ainda bem que vcs deram sorte e pegaram dias de sol, o que faz isso ficar melhor ainda! 😀
Luciana Misura says
Ah, e só pra comparar, quando eu estava pesquisando Bocas del Toro, só de passagem aérea ia sair $300 por pessoa + uns $100 de hotel por dia + refeições + passeios (tinha ouvido em torno de $20-50 por pessoa por passeio de barco) o que no final das contas eu acho que ia sair mais caro do que San Blás, mas também não cheguei a fazer um orçamento detalhado nem pedi um pra agência (eles também fazem pacotinhos pra Bocas del Toro).
ingrid Littmann says
tudo lindo!!!adorei a sugestão do Leo Araujo.
ingrid Littmann says
desculpe, so vi agorinha que voce ja tinha respondido o Leo. obrigada
a pergunta do Leo era uma curiosidade antiga
Luciana Misura says
🙂
Liege Frank says
Lu, vc me mata, ne? Esta deixando todo mundo doido para ir para San Blas, lugar q ate semana passada eu nunca nem tinha ouvido falar. Eeee menina 🙂
Ah, eu tbm ia perguntar dos precos.
Obrigada
Valquíria Porto says
Então… adorei o que fez, mostrando as maravilhas deste local q até pouco tempo eu nem sonhava q existia. Sabe se tem passeio de um dia apenas pelo arquipélago? Se a empresa pela qual foi presta esse serviço. Desde já agradeço.
Luciana Misura says
Tem sim, e a agência que a gente usou oferece também. Mas a ilha visitada em um dia é também a mais cheia.
Valquiria Porto says
Obrigada pela resposta. Agora, sem querer abusar, já abusando, acha que vale à pena fazer o passeio de um dia só? A ilha é tudo isso mesmo, que vale o esforço? Desejo a vc e sua família um 2014 abençoado e com muitas e muitas outras viagens, com boas dicas para nós, iguais a estas.
Luciana Misura says
Não sei, Valquiria, não conheci essa ilha, então não sei dizer se é tão bonita ou não. Eu acho meio puxado fazer bate-e-volta até lá, mas se não tiver outro jeito, talvez valha a pena (eu acho que vi algum blog falando sobre esse passeio, mas não tô me lembrando agora qual foi, quando eu voltar pra casa dou uma procurada). Feliz Ano Novo pra você também, obrigada por ler o Colagem! 🙂
Valquiria says
Valeu. Obrigada mais uma vez.
Ana says
olá, vou ao yandup em novembro agora li seu blog, muito completo! Como sou muito gulosa, fiquei um pouco preocupada com a fominha que dá mais tarde depois do jantar, que pelo que li é as 18:00h, se quiser posso pagar por algo tipo uma ceia depois do jantar? ou posso levar alguma coisa, tipo queijos para comer com vinho ? biscoitinhos para tomar com chá antes de dormir ? e a luz, acaba alguma hora ou tem alguma iluminação restante na parte da noite? outra pergunta, tem algum meio de comunicação com o mundo exterior, tipo telefone fixo, celular, wifi ??? desculpe-me por tanta pergunta. beijos
Ana
Luciana Misura says
Ana, eles realmente tem pouquíssimas coisas de você ficar com fome depois. Eu levei várias coisinhas pra comer no lanche, principalmente por causa das crianças. Eles tem telefone fixo, mas celular e wifi não tem não.
Ana says
obrigada pela resposta, então também vou levar uns biscoitinhos para lanchinhos. Se não for abusar queria te fazer outra pergunta! Tem água quente para o banho ?
Ana
Luciana Misura says
É água fria, eu já expliquei no outro post: http://luciana.misura.org/2013/12/02/san-blas-com-criancas-como-foi-a-nossa-experiencia-em-kuna-yala/ Dá uma lida em todos os posts de San Blás 🙂
zé says
Olá, Temos mesmo de levar tudo marcado, ou chegando ao Panamá dá para fazer a nosso gosto ?? (Levando algumas ideias predefinidas, claro) …
Parabéns pelo post ….
Luciana Misura says
O Yandup tem pouquíssimos quartos (menos de 10) então eu não deixaria pra reservar na hora e correr o risco de não ter vaga.
Alexandra says
Luciana, tu é muito corajosa! Falo por conta do avião. Irei com meu marido em abril. Passaremos 4 dias em Aruba de depois chegaremos na terça a tarde no Panamá. Pretendo ir na quarta pela manhã DE 4X4 para San Blás. Ficar na quarta, quinta e voltar na sexta pela manhã. Desejo ficar na ilha Iguana (li que lá tbém é legal, não chega ser = a sua, mas o preço é mais em conta e parece ter o estilo da sua, porém mais simples). Minhas dúvidas são:
Você acha que dá para conhecer as ilhas bonitas neste tempo?
O que vc achou da ilha Iguana?
Contactei a empresa que vc foi, porém ainda não responderam.
Parabéns pelo blog, muito bem escrito!
Luciana Misura says
Alexandra, obrigada! Deve ser outra ilha Iguana viu, porque nessa área que eu fui não dá pra chegar de 4×4, somente de avião. É muito longe do local onde termina a estrada, eles falaram que seriam horas e horas de barco pra chegar. Tem 365 ilhas no arquipélago de San Blás, então tenho certeza que “ilhas bonitas” não faltam, mesmo sendo outras mais perto 😉