Ontem desde cedo todas as rádios e TVs só tinham o mesmo assunto, o aniversário de 11/09. Indo para a aula eu estava ouvindo as pessoas que ligavam para a rádio para falar o que elas sentiram quando o ataque aconteceu e o que mudou em suas vidas. Uma mulher contou que ela estava vendo o atentado na TV com seu filho de 5 anos e que ele perguntou “Mamãe, qual filme estamos assistindo?” e que ela não sabia o que dizer.
Na aula, um dos professores deu o seu depoimento na visão americana, que essas pessoas que fizeram tudo isso “não suportam ver um país onde todas as pessoas são livres”. Ai, ai, faça-me o favor…
A professora ligou a TV para assistirmos ao discurso do presidente Bush (e fiquei pensando que provavelmente todas as professoras neste país estavam fazendo a mesma coisa, só que o público não era uma turma de adultos como nós, estrangeiros, que sabemos distinguir o que é bobagem do orgulho americano, e sim para milhões de crianças que devem ter pensado como são maus esses árabes e como nós somos bonzinhos). Não sei se passaram o discurso na íntegra no Brasil, mas começou bem, dando uma força as familias das vítimas e depois descambou para uma babada nacionalista nos militares todos e o tom de ameaça que é característico desse cowboy. O ar de desaprovação ficou na sala, e talvez por isso a professora tenha desligado a TV e mudado de assunto.
Eu realmente fiquei chocada com o que aconteceu, não acho justificável de nenhuma forma e me solidarizo com as pessoas que sobreviveram e as que perderam familiares nessa tragédia. Não é porque eu não concordo com a política externa americana que eu acho bem-feito ou ignoro o que houve. Como bem disse a menina afegã que deu o depoimento que eu linkei aqui há alguns dias, vidas tem igual valor, não interessa se nos EUA, no Afeganistão ou no Brasil. O presidente aqui ainda não aprendeu isso, a maioria dos americanos nem pensa nesse tipo de coisa, mas não é por isso que a vida dessas pessoas vale menos.
Eu tô aqui há quase dois meses, não é muita coisa, mas o que vi até agora foi preconceito zero com imigrantes. Não estou dizendo que isso é uma verdade imutável e que é assim no resto do país, estou falando do que eu vi. Vi muitos estrangeiros por aqui, todos trabalhando em diversos lugares e profissões, junto com os americanos, que nada mais são do que a mesma mistureba que nós brasileiros. Todo mundo tem uma avó italiana, um avô alemão, um bisavô irlandês, uma tia-avó polonesa. Ou mesmo pais chineses, japoneses, indianos. Ou mexicanos, porto-riquenhos, o que for. Já fui atendida em muita loja por pessoas que falavam pouquíssimo inglês, que eu nunca imaginava que iam ter emprego por aqui. No trabalho do meu marido, tem um monte de gente de um monte de lugares do mundo, incluindo brasileiros e muitos indianos. E, por incrível que pareça, ainda não conheci ninguém que tenha alguma história ruim para contar da imigração. A gente só reclama da comida.
Por que eu estou escrevendo isso tudo? Porque eu, e quem me conhece sabe, sempre fui muito crítica com os EUA e até os meus 18 anos me recusava a estudar inglês por causa disso. Minha mãe e meus amigos da escola sabem bem que eu era umas das poucas que optou pelo espanhol. Depois comecei a estudar inglês por necessidade, por causa do trabalho (afinal, computadores e a língua inglesa andam de mãos dadas) e por ironia do destino, me casei com um americano. Para mim é muito estranho morar aqui, um lugar que eu sempre critiquei e que agora é a minha casa e onde tenho que construir a minha vida. Tenho que fazer a lição de abrir a cabeça e tentar ver as coisas a partir de um novo ponto de vista todos os dias, e felizmente o que eu tenho visto é melhor do que eu esperava. Claro que a minha opinião em relação a política externa é a mesma, e todos os estrangeiros da minha turma compartilham. Mas agora eu tenho que enxergar os por quês desse país e o que faz tanta gente vir pra cá, e ficar.
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