Pelos comentários do post anterior, dá para ver que não estou sozinha com essa história de princesa. Para quem não mora aqui nos EUA não dá pra entender a dimensão da coisa, mas as menininhas (devidamente influenciadas pela mídia, e muitas pelos pais também) são obcecadas com princesas – as da Disney principalmente. Não acho nada demais uma menina curtir contos de fada e brincar de faz-de-conta que é uma princesa, vestir uma fantasia de Cinderella no Halloween, faz parte da infância e espero que a Julia se divirta com tudo isso. O problema é que a coisa aqui vai muito além: de usar somente roupas rosa cheias de enfeites, saltinho, tiara de pedrinhas na cabeça no dia-a-dia, a atitude princesa é a que mais me incomoda. Rola um alto grau de consumismo, muita vaidade desde cedo, e o pior, o sentimento de entitlement – que em bom português, é achar que tem direito a tudo, fazendo por merecer ou não, por se achar especial de alguma forma. Logicamente não é porque uma garotinha curte as princesas que ela vai virar uma Barbie arrogante e mal educada, mas o que eu puder fazer pra Julia não entrar de cabeça nessa cultura, vou fazer.
Na parte estética, pra vocês verem como o negócio tem uma força enorme: já vi garotas de 17-18 anos, terminando o segundo grau, que na sua festa de formatura usaram tiaras de princesa e se vestiram de acordo. As festas de formatura por aqui são bem no clima também – vestidos longos e vaporosos, que dão mais força para essa fantasia das meninas. Nas cidades maiores é um pouco diferente e mais moderno, mas na grande maioria das cidades, as garotas estão tentando reviver os contos de fadas. Não conheço uma garota dessa idade no Brasil que considerasse ir a uma festa de tiara na cabeça (só se fosse a fantasia!), iam se sentir completamente ridículas e infantis. O culto a jóias entra de carona nessa história também. Termina na expectativa monstruosa em cima do futuro noivo de comprar o anel de diamante mais caro que puder e passa pelas propragandas de dia dos namorados no mesmo nível.
Já no quesito comportamento, o que eu acho triste é a idolatria a essas princesas dos contos de fada tradicionais que são sempre as mocinhas indefesas, esperando o príncipe pelo tempo que for, incapazes de se defender ou se virar sozinhas (os filmes mais recentes vem mudando esse papel, mas a imagem é sempre do príncipe salvando a princesa). Sinceramente não quero a Julia fissurada nesse tipo de modelo. Ela tem sim livros com contos de fada com todas as princesas tradicionais que conhecemos, os filmes idem, mas a gente não dá a menor ênfase no fato das personagens serem princesas, em roupas, castelos e afins, e sim no resto da história. Sei que ela vai ser muito exposta a isso tudo quando for para a escola, então a gente vai fazendo o que puder pra não antecipar essa situação.
Enquanto isso a gente vai lendo um dos livros preferidos dela, que ganhou dos tios, eu nem conhecia e eles acertaram em cheio: The Paper Bag Princess. É a história de uma princesa muito bonita que gosta de um príncipe igualmente lindo, eles estão prometidos um para o outro. Um dragão destrói o palácio da princesa, suas roupas todas e rapta o príncipe. Ela fica furiosa, e resolve resgatar o príncipe por conta própria, vestindo apenas um saco de papel porque das suas roupas lindas só sobraram cinzas. Ela é esperta, engana o dragão, e quando chega para resgatar o príncipe, ele que é fútil acha um absurdo o estado em que ela se encontra (descabelada, mal vestida, suja). E ela responde à altura: dá um belo fora nele por se preocupar somente com aparências e vai embora sozinha. 😉 Essa sim é uma princesa que tem seus valores!
Baxt says
Luciana, ainda nem temos filhos mas eu li o seu post pro Hiro ontem, porque eu sempre falo a mesma coisa: o dia que eu tiver filha, nao vou estimular nada essa maluquice de Princesas. Eh meio ineviavel que ela queira se vestir de rosa e coisas assim, e eu nao vou proibir – mas pelo menos nao vou estimular.
Uma vez li uma materia bacana sobre o fim dos tomboys (que eh uma palavra sem traducao pra portugues, que define aquelas meninas que sao meio “meninos” na infancia). Na minha opiniao os tomboys acabam virando as mulheres mais interessantes (sera que eu acho isso porque eu era meio tomboy tambem? 😛 )
Ah sim, o dia que vc tiver tempo, seria levar se vc pudesse escrever sobre peer influence ai nos EUA, os valores na escolinha, das outras maes e tal. Isso eh uma coisa em que eu penso bastante.
Eliane Pechim says
Super oportuno e apropriado o seu post. Não tenho filhos ainda, mas morando aqui nos EUA já tive a oportunidade de observar a mesma coisa que você. Outro lance que me incomoda MUITO são os concursos de beleza para meninas. As mães colocam as pobres crianças para enfrentar verdadeiras maratonas de desfiles e sessões de fotos, sempre posando como mulheres adultas: roupas, maquiagem, acessórios. Tudo pesado. Num lugar cheio de pedófilos como este, não sei como essas mães não têm medo de expor as filhas assim. Até eu descobrir que muitas delas também foram queens quando criança, ou não conseguiram ser e tentam mais tarde se realizar através das filhas. Ou seja, é uma praga que passa de mãe para filha. A infância é tão curta, para que apressar as coisas e erotizar essas meninas desse jeito? Cada um com seu cada um, mas fico horrorizada com esses concursos.
Debora says
OI Luciana,
Sou mãe da Alice, de 9 meses, e foi um sufoco fazer o enxoval dela sem rosa. Eu e meu marido não compramos nenhuma roupa rosa (tarefa dificil), em compesaçào todas que ganhamos foram rosa ou Lilas.
Outra coisa que me incomoda é a fixação por tema que existe aqui no Brasil, quando estava gravida todo mundo me perguntava, qual era o tema do quarto…vontade de esganar, agora que estou organizando a festinha de 1 ano dela, é a mesma coisa, qual o tema da festa?.
Além disso, brinquedos de meninas aqui é tudo um grande curso de domestica. Ë panelinha, tábua de passar roupa, maquina de lavar e por ai vai…nunca tem um kit advogada, médica ou engenheira….
Apesar da Alice ser a nossa princesa, não queremos, como vc disse, passar valores errôneos a ela, como moda, aparencia, fragilidade, dependencia…….o negócio é torcer e ver no futuro, se o que plantamos hoje deu resultado. Boa sorte para todas nós.
Beijos para vc e para a Julia.
Debora e Alice
Luciana Misura says
Bárbara, exato, tem uma diferença grande entre proibir e estimular. Não sou radical a ponto de proibir porque acho que faz parte da infância, mas a mídia e sociedade já estimulam muito então os pais não precisam ajudar…Sobre ser “tomboy”, acho que a definição de tomboy aqui vai além de gostar de brincadeiras de menino e é mais uma rejeição das coisas “de menina”, mas posso estar enganada porque não li muito a respeito, só estou falando do que vejo. Como a Julia não vai para a escola ainda não me sinto apta a escrever sobre peer pressure, tenho pouco contato com esse mundo das escolas por enquanto.
Eliane, sim, os concursos de beleza são um mundo de horrores a parte, sinceramente eu acho que do jeito que eles fazem aqui deveria ser proibido e considerado abuso. Coitadinhas dessas meninas!
Debora, hahaha sei muito bem o que você está falando! Eu não sou anti-rosa mas eu faço questão que a Julia tenha roupas de todas as cores além do rosa. Justamente ganhamos muitas roupinhas rosas ou lilás então eu praticamente só comprei roupa de outras cores pra balancear. Também não sou ligada em temas não, o aniversário de 2 anos da Julia vai ser muito colorido com cataventos e pronto. Coisa simples, sem “personagens”, sei que um dia ela vai pedir então até lá vou adiando. Eu acho todos esses brinquedos legais, só a distinção “pra menina” e “pra menino” é que não faz sentido. Conheço muitos meninos que adoram todos os brinquedos domésticos assim como as meninas que gostam dos brinquedos “de menino”, a gente vê bem que são os pais que acabam determinando com o que os filhos vão brincar, se fosse pelas crianças elas brincariam com tudo 🙂 Boa sorte pra vocês também, espero ver essas meninas todas futuramente independentes e confiantes pra fazer o que bem entender, sejam profissionais ou donas-de-casa.
Isabella says
Excelente texto! Vejo que não estou sozinha…no meu caso vivo numa constante luta com a minha mãe que a enche de bonecas do gênero–o assunto já foi, inúmeras vezes, tema central da minha terapia. Adorei a dica do livro. Quando voltar de viagem vou comprar para a filhota.
Abraço,
Luciana Misura says
Hehe e a minha mãe vai pelo mesmo caminho se eu não segurar 😉 O livro é ótimo, agora quero comprar outros do mesmo autor pra ver se são espertinhos como esse.
Elaina says
Luciana, eu nao tenho filhos ainda mas jah me preocupo com esta pressao da sociedade americana (alias, tem acontecido no Brasil tb). Concordo plenamente com voce, a crianca deve ser livre p brincar com tudo, independente de ser brinquedos p meninas ou meninos. Quando eu era pequena brincava de bonecas com minhas amigas de vez enquando, e outras vezes de carrinho d controle remoto e video game com meu irmao e amigos deles. Meus pais nunca me colocaram pressao. Antes de eu nascer meu pai comprou um carro de controle remoto enorme, pensando que eu seria menino, depois que nasci ele me deu o carro do mesmo jeito, e brinquei com ele por anosss, ateh depois que meu irmao nasceu, eu dizia que o carro era meu, haha.
Bom, voltando ao assunto. Outro dia, trocando canais na tv vi uma cena de um programa de Reality Show, “THE REAL HOUSEWIVES OF NEW JERSEY” e fiquei impressionada com algo que eh bem o que voce esta falando. Uma das housewives tem 3 filhinhas, e a mais velha deve ter no maximo 5 ou 6 anos de idade e as outras mais novas uns 2 e 4 mais ou menos… eu fique impressionada como as atitudes das meninas. Os quartos com camas em formato de camas de princesas, e closet cheio de vestidos, roupas de marca, sapatos…as atitudes das meninas eram atitudes de adolescentes de 17, 18 anos, de se vestir, se maquiar, jeito de falar. A de 5 (ou 6) anos tem um celular!!!!!! Neste epsodio ela estava sendo escalada p fazer um comercial ou fazer parte de um filme nao lembro, quando a mae dela perguntou se ela toparia, ela disse: CLARO, BOOK ME, I AM IN! GOSH, EVERYBODY WANTS ME THESE DAYS!
Aquilo me deixou doente. Eu tenho tanto medo de ter filhas assim um dia, influenciadas pela cultura daqui…
Seu post eh otimo! OBrigada por compartilhar conosco.
BEijos
Luciana Misura says
Elaine, fiquei horrorizada com esse programa de TV que você mencionou! Já tinha ouvido falar absurdos dessas mulheres mas isso foi demais! É pra deixar qualquer pessoa doente ver uma criança tão novinha já se comportando dessa forma. Não quero nem ver essas meninas quando estiverem na adolescência, lá pelos 15-16 anos. Vão ser insuportáveis e se não tomarem cuidado, vão ter algum problema de imagem, anorexia e afins. Triste! Mas se a mãe é assim, não tem muito jeito da filha não ser…ai ai!
Dani says
Lu,
Engraçado que venho pensando nisto também, apesar de não ter filhos. Há poucos dias no aeroporto fiquei horrorizada ao ver uma menina de seus quatro anos de sandália plataforma, de salto alto! Na hora pensei no perigo da garotinha cair ou torcer o tonozelo! Há pouco tempo a esposa de um amigo do Blake nos disse que tinha levado a filha de seis anos a manicure! Socorro!
Longe de mim ser xiita, mas acho uma pena quererem abreviar a infâncias das meninas desta forma. O pior é que aqui no Brasil a coisa está indo pelo mesmo caminho.
Bjs
PatriciaUk says
Eu tenho 2 meninos e quando eles eram pequenos sempre istimulei eles a brincarem com tudo – tiveram cozinha com panelas e afins, bonecas com banheiras, ambos amavam um carrinho de bebe que puxavam por todos os lugares (era azul), uma cazinha de bonecas da playmobil e joginho de cha. Mas agora que cresceram ( 5 1/2 e 3 anos) eles nao querem mais saber e sao totalmente anti brinquedos de ‘meninas’, ainda fazem os chazinhos mais so! Que pena… mas como sou super foodie, eles me ‘ajudam’ muito na cozinha e sao doidos com ingredientes e a arte de cozinhas e tenho certeza que a minha futura nora me amara por isso! rsrsrsrs
Esse negocio de princesas ate que nao me incomodam, mas sim os High School Musical, Bratz Dolls, pois acho que influenciao as meninas a quererem ser bonitas e sempre na moda, para ser feliz tem que ser famosa e cantora etc. Minha sobrinha queria uma barbie e achei no email uma barbie medica!! Um pouco melhor nao e?
Adriana says
Acho que essa cultura de “Princess” eh um pouco mais fraca aqui na Inglaterra, mas no geral, se compararmos as Inglesas (adultas) com outras Europeias, elas sao MUUUUITO peruas!
E essa fantasia toda de princesas continua ateh os 30… E apesar de que toda a fantasia de casamento e noivado nao seja tao forte quanto nos EUA, aqui (ao contrario do resto da europa) tambem eh bem forte, e apesar de que no geral nao vejo uma pressao quanto ao tamanho do diamente, ainda TEM que ter. Ai do homem que nao puder comprar um diamante pra namorda! Tenho amigas que moram junto com seus namorados ha anos e se recusam a casar porque seus namorados ainda nao podem comprar o diamente “que elas merecem” e ter o casamento de princesa que sonharam (todas as noivas Inglesas – independente da idade – casam usando coroas e tiaras!).
Claudia Souza says
Olá a todas. Cheguei aqui indicada pela Julie Pereira e adorei o texto, o blog e o clima da caixa de comentários. Então, eu acho que essa coisa de princesa é meio arquetípica e faz parte do processo de identificação de gênero da menina. É parecido com o menino com os super-heróis. Coisa muito normal, desde que não seja reforçada, estimulada ou pior “enfiada goela abaixo” culturalmente como tem acontecido da parte do Mercado e de algumas mães mais incautas. As meninas entre os 4 até uns 8,9 anos ficam meio peruinhas mesmo e a gente não entende muito porquê, pensa “mas eu nunca fui assim! da onde ela tá tirando isso?” Tá tirando de modelos extremos pra conseguir se identificar. Depois vai dosando, é meio pendular o movimento do desenvolvimento. O fato é que já no início da adolescência a maioria das meninas encontra seu próprio estilo, mais real, tendo elaborado esse modelo inicial que é importante pra construir sua feminibilidade. Nós mulheres somos diferentes mesmo, temos as nossas “frescuras” mas vamos à luta rsrsrs Eu sou também escritora e estou com um livro infantil no prelo sobre isso. Quando estiver pronto venho aqui avisar pra vocês. Mas adianto que a minha princesa é muito fora dos padrões também. rsrsrs Abraços!
Silvia says
Adoro vir aqui tanto pelos posts tanto como pelos comentarios, sempre tem uma discussao interessante. Cheguei atrasada, mas la’ vai:
Nao tenho como comparar com os EUA, mas aqui no Canada’ tambem tem essa cultura de princesa e e’ raro, raro mesmo ver uma menina de 10 ou menos vestindo algo que nao seja rosa ou roxo (e e’ sempre o mesmo tom de rosa ou roxo). Eu desde pequena desgostei de rosa porque era a cor pra meninas, sempre quis ter carrinhos e outros brinquedos de meninos que pareciam mais divertidos pra mim do que as barbies… So’ fui fazer as pazes com o cor de rosa depois de mais velha, e mesmo assim continua sendo uma cor meio dificil de se achar meu guarda roupa. Acho mais saudavel deixar a crianca ir descobrindo o que interessa a ela, mostrar coisas diferentes… se a menina depois acabar escolhendo so’ gostar de rosa e de barbies e’ outra coisa, mas acho legal expor a crianca a outras maneiras de se brincar.
Uma coisa que eu tambem tenho uma certa pinimba (termo tecnico) e’ com as pre-adolescentes e adolescentes que andam com maquiagem carregada o dia inteiro, antes de morar aqui eu desconfiava que fosse so’ coisa de filme americano. Mas nao, as garotas efetivamente andam de maquiagem pesada o tempo todo, pra tudo, quase que uma escravidao. Nao deixa de ser um dos sintomas de quem foi criada pra ser uma princesa cor de rosa, como nao foi o meu caso acabo achando isso um tanto quanto estranho.
Vicky says
Adorei a dica do livro!!!! E meu conto de fadas preferido é o Shrek, desde a primeira vez que assisti!!!!! 😀 Estou apavorada com a idéia de criar filhos aqui nos EUA.
Joana says
Oi!
Eu descobri o seu blog pelo da Ariana (Dri Everywhere), e também estou morando fora do Brasil (Alemanha).
Eu tenho 26 anos e sempre achei que essas princesas que só esperavam o príncipe não estavam com nada.
Tem um desenho animado Japonês (eu juro que é legal!) chamado “A Viagem de Chihiro”, em que os pais da menina são aprisionados e ela tem que vencer vários desafios ara libertá-los. Ela até conhece um menino com o qul tem uma relação mais próxima, mas o grande desafio dela é lembrar o próprio nome. Ou seja: dá uma ótima mensagem pras meninas, em que a heroína é aquela fiel a si mesma.
Fica a dica…
Beijos
Joana