No final do ano passado eu dei uma entrevista para a jornalista Ana Lis Costa da revista Pais e Filhos, para a matéria de Férias da edição que está nas bancas agora em janeiro de 2014. A matéria ficou bem bacana, mas como eles entrevistaram muitas famílias, acabaram usando muito pouco do que eu (e todo mundo) tinha escrito (e apenas uma foto, o que foi uma pena). Então seguindo a ideia da Alexandra Aranovich do Café Viagem (que também foi entrevistada), estou publicando aqui a entrevista na íntegra. Agradeço a Ana Lis pela oportunidade de participar, muito bem acompanhada por mães viajantes nota 10!
1) Por que viajar com os filhos?
Porque adoramos viajar, faz parte da nossa vida e não vemos razão para não viajar com as crianças. Eles conhecem novos lugares e culturas, ouvem novas línguas, ficam mais abertos ao que é diferente e a experimentar as novidades, aprendem a ser mais flexíveis desde novinhos. Sabem que o mundo tem muitas caras, sabores, cheiros e que tem crianças de todos os tamanhos e cores por aí, mas que gostam de brincar tanto quanto eles.
2) O que os pais devem esperar de férias com crianças? E o que não esperar?
Um ritmo muito mais lento de viajar, com certeza a gente vê menos coisas com as crianças junto, tudo demora mais com crianças pequenas. Tem que parar pra trocar fralda, pra comer, às vezes parar pra descansar, e deixar tempo pra eles brincarem mesmo. O dia termina mais cedo ou termina com os adultos carregando as crianças dormindo de volta pro hotel, não vai ter restaurante sofisticado tarde da noite ou refeições sendo puladas durante o dia, nem um dia inteirinho dentro de um museu, as crianças não aguentam. O que você planejaria ver em 1 dia com um outro adulto vai levar facilmente dois dias, às vezes até 3 com as crianças!
3) Quais as viagens mais inesquecíveis que fizeram em família que recomendam para mães e pais?
Todos nós adoramos o Japão, fomos para Tóquio ano passado com as crianças por 15 dias e foi uma delícia. Nós já conhecíamos a cidade de uma viagem antes das crianças nascerem, então realmente não estávamos com pressa, e o Japão tem uma infra-estrutura excelente para quem viaja com crianças pequenas. Fomos muito bem recebidos, o Eric tinha 9 meses e a Julia quase 5 anos, no final das duas semanas ela disse que queria morar lá (foi a primeira vez que ela falou isso numa viagem). Também adoramos a Riviera Maia, no México, uma área lindíssima de praias, ruínas maias, cenotes, eco-parques, tem diversão para todas as idades. Fomos uma vez quando a Julia tinha uns 2 anos e a segunda vez quando o Eric estava com 5-6 meses e a Julia com 4 anos, aquele mar é maravilhoso, não tem como não amar. Os resorts de Cancún e Playa del Carmen acomodam famílias muito bem, nas duas viagens ficamos em resorts com apartamentos de 2 quartos, 2 banheiros e cozinha completa, na frente da praia.
4) Como escolher aonde ir, qual melhor roteiro, onde ficar? Onde vocês costumam pesquisar e a quem pedem dicas (se o faz)?
Pesquiso muito na internet mesmo, leio blogs, sites, revistas, jornais, reviews de outros hóspedes, em português e inglês também. Participo de grupos de viagens no Facebook, peço dicas para outros blogueiros que viajam com crianças. Mas no final das contas pra escolher o “melhor” é sempre baseado no temperamento e na personalidade das pessoas da família, porque o que é legal pra uma família não vai ser necessariamente o ideal para outra. Cada pai ou mãe sabe melhor que ninguém como são os seus filhos!
5) Como começaram a fazer viagens em família? Vocês se lembram da primeira vez que viajaram com criança? Como foi esta experiência?
Desde que a Julia nasceu, ela tinha 4 meses quando fizemos a primeira viagem de avião, morávamos em Seattle, Washington e fomos para Michigan passar as festas com muita neve e a família do meu marido. Quando você mora longe das duas famílias, acaba acostumando a viajar com as crianças desde sempre, senão as crianças não conhecem os parentes. A experiência foi ótima, ela se comportou muito bem nos vôos, não tivemos problemas com rotina e como ela estava mamando ainda, foi bem prático. Depois disso foram várias viagens que eu fiz a trabalho e levando ela junto, e outras pra visitar a família. A primeira viagem só por diversão mesmo ela tinha 1 ano e 8 meses, fomos para Aruba por uma semana, praias mansinhas ótimas para os pequenos. Mas a essa altura ela já era veterana de hotéis e aviões.
6) Qual dica você daria para famílias que querem economizar na viagem de férias?
Pesquisar preços e decidir pra onde ir com antecedência, ficar de olho na internet nas promoções, não deixar pra comprar na última hora. Também acho legal ter vários destinos na listinha de possibilidades, assim quando aparece uma promoção pra algum deles, você já decide a viagem ali mesmo. Eu sempre tenho pelo menos uns 5 lugares na cabeça pra onde quero ir na “próxima viagem”, mas se aparecer uma super promoção posso até resolver ir pra um lugar completamente diferente. Saiba que lugares da sua lista são alta ou baixa temporada na época que você quer ir, se tem algum feriado nesse período, isso tudo ajuda a encontrar os melhores preços (e lugares menos cheios também). E tenha alternativas: todo mundo que quer ver neve no inverno no Brasil (em julho) corre pra Argentina, Chile, mas as estações de esqui nessa época são alta temporada. Se você quer economizar e ver neve sem necessariamente esquiar, pode programar uma viagem pro norte dos EUA em janeiro ou fevereiro, que vai ser baixa temporada em Nova York por exemplo, ou mesmo Seattle, que é uma cidade onde raramente neva mas tem estações de esqui nas montanhas ao redor (curtimos muito a neve em Seattle em fevereiro, nas montanhas). Saindo do lugar comum você encontra melhores preços. Se você vai pra praia quando todo mundo está indo, pode ter certeza que vai pagar mais caro.
7) Dá para curtir as férias “em casa”? Já tiveram essa experiência?
A gente sempre viajou…!
8) Quais os itens básicos que as viagens de férias têm que ter? (Para que a experiência seja positiva a todos os membros da família?)
Tem sempre que intercalar passeios que interessam mais os adultos (leia-se onde as crianças tem que se comportar, falar baixo, não podem correr e tal) com lugares onde as crianças possam brincar e correr. Não precisa ter parque temático ou museu de criança, nem resort com recreação, mas precisa ter locais onde as crianças possam ter liberdade de brincar, falar alto, gastar energia, rolar na grama se quiserem. Eu tento sempre colocar uma praça depois de um museu (ou antes) por exemplo, incluo playgrounds simples mesmo, onde eles podem brincar com outras crianças que moram no lugar, tomar um sorvete, essas coisas corriqueiras que não costumam entrar em roteiros de adultos mas que são o que as crianças curtem muito. Minha filha até hoje fala do passeio de pedalinho no Parque Ueno em Tóquio, uma coisa simples que ela amou. E uma parada pra brincar na neve numa praça vai render muitas memórias boas, com certeza.
9) Como você faz em relação à alimentação das crianças durante viagens? Relaxam ou tentam manter uma ‘rotina’?
Um pouco de cada coisa. A gente acaba mantendo uma rotina de horário, até porque eles pedem pra comer sempre no mesmo horário mesmo, mas o que eles comem é mais livre do que em casa. Tento manter uma alimentação razoavelmente saudável mas eles acabam comendo mais sanduíches, mais macarrão e mais sobremesas do que em casa, até porque nem sempre a gente está a fim de pedir um prato pra eles provarem e não gostarem e ter que jogar fora e pedir outra coisa. Sempre que posso passo em supermercados, compro frutas e itens para o café-da-manhã (leite, cereal, queijos) e lanches pra levar comigo durante o dia. No Brasil os restaurantes são chatos com troca de itens nos pratos, mas aqui nos EUA eles costumam aceitar bem se você quer trocar batata-frita por brócolis ou outros legumes, pedir frango ou carne sem molhos, e aí a gente vai meio que montando um prato um pouco mais saudável. Tento balancear, se comeu uma pizza numa refeição, na outra procuro um franguinho com legumes, mas não entro numa paranóia pra não estragar a viagem, senão a gente não relaxa.
10) Como lidar com os banhos, os horários de dormir e acordar e a arrumação do quarto/casa onde se hospedam? Quais as dicas que vocês podem dar em relação a estas questões que saem um pouco do roteiro nas férias?
Depende muito do casal e das crianças, de como é a rotina em casa fora das férias. A minha filha era extremamente flexível com horários mas o meu filho é um reloginho, acorda sempre na mesma hora, tem sono sempre na mesma hora, fome idem. Então a gente já sabe e já se antecipa. Não marco passeios ativos pras crianças pra hora que ele está com sono, por exemplo vou a um museu e coloco ele no carrinho pra dormir, assim ele tira um soninho e a gente tem mais tranquilidade pra ver o que quiser. A arrumação é sempre um pouquinho por dia, não pode deixar acumular pro último dia senão é um estresse pra arrumar malas, arrumar o apartamento ou casa e ter que sair. Mas tem que conhecer os seus filhos, tem criança que fica com sono e dorme no restaurante na hora do jantar e tem criança que abre o berreiro, os pais tem que saber os filhos que tem e agir de acordo. A Julia ficava chata com sono no final do dia, então muitas vezes a gente comprava comida e levava pra comer no quarto do hotel se estava muito tarde, pra evitar estresses nos restaurantes. Assim ela comia, dormia logo e a gente jantava em paz. Já o Eric deita e dorme onde estiver, é outro esquema. Eu escrevi um texto no blog sobre isso há um tempinho, a maior dica é conheça os seus filhos, não adianta seguir mil dicas de uma família que tem uma rotina e temperamento completamente diferente da sua; pode ser a pessoa mais viajada do mundo que não vai dar muito certo.
11) O que não deixam de levar em viagem nenhuma?
Brinquedinhos pequenos, livros preferidos e o iPad com filmes e joguinhos pras crianças. Quando a paciência das crianças acaba, quando nenhum brinquedo mais distrai, os livros foram lidos e relidos, os filminhos no iPad costumam prender a atenção deles pelo menos por uma meia hora.
12) Você são um casal que adoram viajar com os pimpolhos. E sabem fazer isso! Quais os lugares mais exóticos que conhecem e que são, sim, possíveis de serem conhecidos com as crianças?
O Japão é considerado exótico mas tem uma super infra-estrutura pra quem viaja com crianças pequenas, o mais difícil é chegar lá. Os japoneses são educados, prestativos, é tudo muito limpo, a comida é ótima e saudável (e vai muito além do sushi), tem muita coisa interessante pra ver e fazer. Acabamos de chegar de San Blás, no Panamá, que é uma região costeira com ilhas controladas pelos índios da tribo Kuna, um lugar isolado do mundo, mas que a família inteira curtiu. Tive que levar absolutamente tudo, fraldas, lencinhos, lanchinhos, colete salva-vidas, é quase que como ir pra um acampamento, já que não tem lugar onde comprar nada disso por lá. Mas são praias lindas e mansinhas, o clima é uma delícia, e tem uma infra-estrutura que eu considero mínima pra quem viaja com crianças (leia-se um banheiro funcionando direitinho, comida decente, espaço pras crianças brincarem e correrem tranquilas). A Escandinávia não considero exótico mas não costuma ser um lugar pra onde as pessoas pensam em ir com a família, é um lugar frio mas super preparado para as crianças, fomos para a Dinamarca e Suécia (Copenhagen e Estocolmo) em agosto e adoramos. Dos ônibus aos restaurantes eles tem tudo o que os pais precisam pra passear com os pequenos (trocadores, lugar pra carrinho, comidinhas legais, lugares pra brincar, etc) e muitas atrações culturais interessantes, além das cidades serem lindas e terem muitos parques e áreas verdes.
13) O que a mãe – e o pai! – devem ter em mente antes de sair em viagem com família?
Paciência, flexibilidade, e pode botar mais um pouco de paciência. Tudo vai demorar mais do que demorava quando era só o casal que viajava. Pra sair do hotel de manhã, pra fazer as refeições, tudo leva mais tempo. Eu e meu marido raramente tomávamos café-da-manhã, no máximo a gente comprava qualquer coisa ou saía comendo uma barrinha de cereal, e agora temos que sentar com as crianças pra tomar um café de verdade. Não adianta ter uma lista interminável de coisas pra fazer a cada dia, escolha uma ou duas que são as principais e o resto, se der pra ver, ótimo – se não der, não estresse. Seja flexível e saiba quando trocar a ordem do que você quer ver de acordo com o humor das crianças. Não adianta forçar a barra quando elas estão de saco cheio, só vai estragar o seu dia, melhor trocar a programação do que ficar irritado. Tem que saber ir com a corrente, não remar contra ela.
14) Ter roteiro ou não seguir roteiro?
Tenha roteiro sim, mas seja flexível com ele. É sempre bom pesquisar e saber o que tem de legal pra fazer, que tipo de atividades, o que você tem mais interesse em ver e o que é mais legal pras crianças, até pra poder alternar e não programar um dia super maçante pros pequenos e um outro dia que seja chato pros adultos. O bom é poder misturar e de acordo com o nível de energia e humor da família toda, escolher o que é mais adequado naquele momento. Saiba quais são as melhores atrações pra um dia de sol e calor e onde ir quando chover ou estiver muito frio. E saiba os horários de cada coisa, assim se você decidir trocar as atrações, não chega lá num dia que está fechado ou que fechou mais cedo. Planejamento é essencial, mas a flexibilidade dos adultos pra se adaptar as situações é que vai definir o sucesso da viagem.
15) Como lidar com “a culpa” quando a viagem não é aquela dos sonhos? (Tipo, quando só chove numa viagem à praia?).
Existe culpa? Isso é a vida, tire o melhor proveito da situação. Clima é imprevisível, doenças são imprevisíveis, o que está fora do seu controle não tem jeito. Isso é uma ótima lição pra todo mundo, adultos e crianças. Já tivemos muitos vôos atrasados, cancelados, dia de viagem inteiro perdido por causa disso, malas extraviadas, criança doente em viagem, reserva que na hora não foi honrada, ninguém conseguindo acordar na hora de um passeio por causa do fuso horário, o negócio é não ficar remoendo. Na hora dá uma raiva mesmo, mas se não tem o que fazer, tem que respirar fundo e seguir adiante. A gente vai aprendendo isso com a vida, tem dias que somos melhores ou piores, mas o negócio é aproveitar o que tem de bom e deixar o ruim pra lá.
16) O que é “férias” para vocês?
Passar tempo juntos, descobrindo coisas novas e curtindo cada momento, seja tomando sorvete na pracinha ou em um museu em Estocolmo admirando um barco do século 17. Cada coisa tem o seu espaço, e você vai se surpreender com o que as crianças lembram depois!
Gostou? Todas as nossas viagens em família estão aqui: Viajando com Crianças.
ingrid Littmann says
Amei Lu! é super importante respeitar o relogim das crianças, otimas dicas!!como sempre supimpa! este ano precisarei de algumas diquinhas suas, beijocas
Luciana Misura says
Brigada Ingrid! Opa, dicas de onde, diga aí? 😉
Paula says
Oi Lu, sou leitora do seu blog há tantos anos que nem lembro como cheguei aqui, acho que foi através de outros blogs de brasileiros expatriados, pois sempre gostei de ler sobre isto (deve ser reflexo de um sonho adormecido, rsrrs). E hoje também leio o Aprendiz de Viajante, também adoro os blogs da Claudia (acho incrível a força de vontade dela em ir morar nos Eua, lembro quando ela contava isto lá no extinto blog dela) e adoro a Helo também (gosto do senso estético dela e do humor, hehehe). Bom, queria mesmo dizer que sou fã dos seus blogs e acho a forma como vc vive com sua família incrivel e inspiradora. Ainda não tenho filhos, e adoro ver como é possível viajar e curtir a vida de casada com os filhotes a tira colo. Obrigada por compartilhar suas histórias e experiências conosco. A Julia é linda e o Eric, um fofo!! (que vontade de apertá-lo, hehehehe). Vcs formam uma linda família. Muitas viagens para vcs!!! 🙂
Luciana Misura says
Obrigada Paula, por acompanhar o blog há tanto tempo, e pelo comentário 🙂 Acho que aproveitar as viagens com os filhos só depende da gente (na maioria das vezes)! Espero que você aproveite muito quando tiver os seus também!
Liege says
Aah Lu! Dona da minha inspiração 🙂 chegamos na Bahia Honda em 20 mins.
Luciana Misura says
Êêêê que delícia! 🙂
Debora says
Adorei! Principalmente quando vc fala dos imprevistos… Não dá para estressar com o que não podemos mudar!
Bjs