O Douglas mora em Oceanside na Califórnia, é leitor do blog e me mandou uma mensagem essa semana fazendo algumas perguntas. Ele contou um pouco da história dele: é médico no Brasil e está validando o diploma nos EUA. Perguntei se não toparia escrever um post pro blog contando como é esse processo de validação do diploma, porque já recebi emails perguntando como validar diploma médico nos EUA no passado mas não tinha a menor ideia de como funcionava isso. Ele topou na hora e escreveu esse ótimo texto que tenho certeza que vai ajudar vários outros médicos brasileiros que tem vontade de fazer a mesma coisa. Com a palavra, o Dr Douglas Falleiros:
Minha esposa é americana. Nos conhecemos há 2 anos e nos casamos no mês passado, mas desde o início do ano estou morando nos Estados Unidos. Havia a opção dela se mudar para o Brasil, mas achamos melhor eu me mudar para a América. Em agosto presto a primeira prova para validar meu diploma aqui.
Sim, é possível você validar seu diploma de médico nos Estados Unidos. Não é um processo simples e rápido, mas também não é um bicho-de-sete-cabeças! É só prestar as provas (e ser aprovado), que o seu diploma será validado aqui. É mito que você terá que voltar à faculdade por 1 ou 2 anos. Mas a má notícia é que a residência médica não é aceita aqui. Você pode ser o Ivo Pitanguy no Brasil, que aqui terá que começar a residência do zero.
A prova para validar o diploma aqui é a mesma que os estudantes de Medicina americanos prestam para serem médicos. É como se fosse uma prova da OAB, mas para Medicina. A vantagem é que essa prova é também utilizada para a classificação na residência médica. A USMLE (United States Medical Licensing Examination) é composta de 4 testes, os famosos STEPs! Obviamente que todos são em Inglês. Eles querem exatamente avaliar se você tem proficiência na língua e conhecimento médico suficiente para exercer a Medicina aqui. Também será necessário enviar traduções juramentadas do diploma e do histórico escolar, junto com um formulário autorizando que eles confirmem esses seus dados junto à sua faculdade.
Vamos às provas. Elas são disponíveis durante o ano todo. Uma vez que você pagou a inscrição e eles confirmaram seus documentos, pode agendar as provas quando quiser. Mas praticamente existe uma única chance para cada prova. Se você tirar uma nota ruim, não é possível prestar a prova novamente para tentar uma nota melhor. Você carregará essa nota por toda sua vida.
O Step 1 avalia os assuntos relacionados ao ciclo básico da Medicina (você terá que estudar Bioquímica novamente!). E o pior é que essa é a prova mais importante para a classificação na residência. O Step 2 é dividido em duas provas: Clinical Knowledge e Clinical Skills. O Step 2 CK é a prova teórica da parte clínica da Medicina e o Step 2 CS, a prova prática. As duas focam o diagnóstico das patologias. Há alguns anos não é mais necessário prestar o TOELF, mas a proficiência em Inglês é avaliada no Step 2 CS. Você terá que atender pacientes americanos e fazer o diagnóstico das doenças. E é exatamente nessa prova que a maioria dos estrangeiros são reprovados. A última prova, o Step 3, também avalia a parte clínica, mas agora não só o diagnóstico, mas todo o tratamento do paciente. O Step 1 e o Step 2 CK podem ser prestados no Brasil, mas o Step 2 CS e o Step 3 só nos Estados Unidos. As inscrições para as 4 provas custam aproximadamente 5 mil dólares para todo o processo (veja site)
Após essas provas você está apto a prestar para a residência. Diferente do Brasil, que você é obrigado a prestar uma prova em cada instituição que você tiver interesse em fazer sua especialização, aqui só os Steps são necessários. Para classificar os candidatos eles fazem o Match, uma combinação entre os seus locais de interesse e o interesse das instituições, baseado, é claro, nas suas notas.
Aprovado na residência, sua dor de cabeça ainda não acabou. Ainda existe a questão do visto. O residente pode conseguir, ou o visto J1 ou o H1B. O J1 é um dos vistos mais restritivos! Ele te permite ficar o período da residência nos Estados Unidos, mas ao final do programa você é obrigado a voltar para o seu país de origem e permanecer pelo menos 2 anos. Mesmo que você consiga o Green Card durante a residência (casando, por exemplo), terá que cumprir os 2 anos fora. O H1B é mais maleável. Esse visto permite ajuste de status, mas há um número limitado de emissões por ano e médicos também concorrem com as outras carreiras. Para os hospitais, esse visto é mais trabalhoso, por isso eles acabam optando por gerar o J1.
Enfim, tornar-se médico aqui não é fácil! As provas são cansativas e difíceis. O processo todo é longo e caro. Mas uma coisa é boa, é um processo bem transparente e honesto. Se você fizer por merecer, com certeza, conquistará o seu lugar aqui.
Se quiser saber mais sobre o assunto, acesse a página da USMLE e da ECFMG (Educacional Commission for Foreign Medical Graduates). Há também o blog do USMLE Brazil com várias informações e relatos. Também aconselho comprar o livro First Aid for the USMLE Step 1 – Tao Le. Você tem todas as informações bem detalhadas. Tem até um capítulo especial para os estrangeiros.
Obrigada por compartilhar a informação Douglas, tenho certeza que vai ser muito útil pra outros médicos brasileiros como você. Boa sorte nas suas provas!
Se você é um profissional brasileiro que teve que passar por um processo de validação de diploma nos EUA (dentista, farmacêutico, engenheiro ou qualquer outro), vou adorar se você escrever contando como foi esse processo!
Erica Andrade says
Parabéns Dr Douglas. Que sua carreira no USA seja brilhante! Sucesso
LornaBittencourt says
Douglas, na verdade não é necessário voltar ao Brasil (ou sair dos EUA) por 2 anos. Basta que o médico solicite um waiver e tenha um sponsor em uma área “undersurved” (o país quase todo precisa de médico) que o médico estrangeiro pode ficar aqui. Não é difícil de conseguir, é, na realidade, bem tranquilo. O médico precisará preencher mil papéis, lidar com o Brasil e com os EUA, mas Como você bem falou no post, hoje em dia os hospitais quase não estão dando o H1B para residentes, então é o único jeito. Ah, o J1 tem a vantagem de que a esposa pode trabalhar (meu caso). Estou super afiada nesse assunto, pois estamos aplicando para o waiver nesse momento.
Fico feliz de ver médicos brasileiros conseguindo virar médicos aqui também 🙂
Letycia says
Olá uma dúvida que gostaria de tirar seria caso vc tire uma nota baixa, no outro ano/novo processo para revalidar eu não poderia tentar novamente? Obrigada.
Natasha says
Boa noite!
Estou fazendo medicina na Russia, a ideia era me formar aqui e ir trabalhar nos Eua, mas a informação que encontrei é que o diploma russo não é reconhecido lá. Alguém poderia me ajudar? Existe algum outro meio de validar esse diploma lá ou tenho que fazer a faculdade de novo??
Leonardo says
Olá Natasha, provavelmente você irá ter que fazer a residência médica nos EUA para que seu diploma seja reconhecido lá, ou seja, durante a sua faculdade de medicina, ou após você irá ter que fazer os Steps, quando fizer todos, você pega sua nota e aplica para residência nos EUA. Procure saber mais sobre os Steps. Espero ter ajudado.
Ed says
Não diria que conseguir um “waiver job” é algo bem tranquilo, especialmente nos dias atuais. Eu conheço esse processo com grande profundidade, mesmo porque tenho o visto H1B. Algumas considerações sobre equívocos no texto: Existem muitos hospitais que sponsor H1B hoje em dia. É evidente que a maioria esmagadora terá que aplicar para o J1 visa, mas não diria que é algo que beira o impossível. Para se qualificar para o visto H1B o médico precisa ter feito todos os steps (O problema é o 3, que que não é um requerimento para seleção pela maioria dos programas. Os outros todo mundo que entra numa residência vai ter). Sobre o mito de que o médico terá que concorrer com outros profissionais pelo visto, bom isso não procede. Não teria como funcionar, pois o processo standard de H1B sponsorship funciona numa timeline incompatível com a da residência. A aplicação deve ser feita e 1o de Abril e o funcionário só pode começar a trabalhar em 1o de Outubro. As residências geralmente começam em 1o de Julho. Todos os hospitais que sponsor H1B são “cap-exempt”. O que significa isso? Basicamente, esse H1B não segue as regras comuns. Ele não possui um cap. O médico não compete com ninguém pelo visa, não participa de loteria alguma. E também não precisa seguir a timeline standard do H1B, podendo começar no dia 1o de Julho sem problemas. Isso ocorre pq programas universitários, comunitários afiliados ou instituições non profit têm tratamento especial em relação o H1B. De fato, se trata de um visto superior e permite aplicação para green card e mudança de status, sem qualquer necessidade de contornar a home residency requirement, pois ela não existe para médicos com H1B. O principal drawback é o fato do visto precisar de uma petição elaborada por attorney at law ou pelo departamento de imigração da universidade. A maioria dos médicos irá precisar de premium processing, que é mais de $1000, pois o H1B demora muito para ser processado por vias normais. Outro problema é a dificuldade de se conseguir subespecialização com esse visto, visto que poucos hospitais têm interesse em sponsor.
Silvia finocchi says
Olá Lorna tudo bem? Meu genro e médico ginecologista no Brasil ele tem curiosidade de saber mais sobre como conseguir validar o diploma , se vc quiser me passar seu contato meu e-mail e silfinocchi@gmail.com agradeço por sua atenção ! Muito obrigada
douglas says
ola, bom dia, tudo bem? gostaria de tirar uma duvida…
sou dentista, formei em 2009, gostaria de saber quais as possibilidades de conseguir um trabalho ai como auxiliar (ASB, no Brasil) não sei como é a nomenclatura certa ai, é uma exigência na clinica ter um auxiliar de dentista? tem que fazer algum curso? é obrigatório? como seria o tramite? desde já agradeço.
Leonardo says
Ola! Tenho cidadania americana, mas sou formado em medicina no Brasil. Estou na residência de psiquiatria e ou psicólogo também, teria alguma facilidade em exercer a medicina na América?
Ed says
Não
Rafael Ramos says
Boa noite! Gostei muito das dicas. Gostaria de saber se eu como, endocrinologista formado no Brasil, por exemplo, posso atuar como endocrinologista nos EUA sem ter realizado a residência nesse país e sem utilizar esse título, atendendo a comunidade brasileira que, hipotéticamente, sabe que eu tenho esse título no Brasil. Muito obrigado e parabéns pelo trabalho.
Daniel S. says
Não pode, pois vc estaria exercendo a profissão ilegalmente nos EUA. Vc tem que passar pela validação do diploma bem como fazer a residência.
Silvia Leite says
Olá, tenho residencia de clinica medica e dermatologia. Mas aqui no Brasil conseguimos trabalhar como clinico sem fazer residencia. Podemos trabalhar nos EUA tb como generalista sem fazer residencia? Quanto tempo dura a residencia de dermato aí? Grata
Alessandra says
Olá
Ao fazermos a residência nos EUA, podemos já optar pela mesma especialidade que exercemos no Brasil ou seria uma residência em clínica geral?
André says
E o fator idade? Alguem com 42 anos para validar o titulo, teria espaço ou oportunidade em serviços de residência?
Alexandre Machado says
Ola andre. Tenho 46 anos. Esta e a minha duvida também. tenho um formação boa aqui para o Brasil, fiz faculdade e residência na usp, doutorado em neurociências na usp, varias publicacoes internacionais mas a questão da idade pode pesar. infelizmente não tenho uma resposta. vamos aguardar. Única coisa que sei e’que o STEP1 fica bem mais fácil quando esta fazendo a residencia ou acabou recentemente.
DEB says
Gostaria de saber se eu, médica, estiver indo pros EUA com visto H2 (pois na verdade meu marido é H1) eu posso validar meu diploma, fazer residencia médica e trabalhar após?
Luciana Misura says
Não tenho ideia.
Cristiane Tuma says
Uma vez aprovada na residência, o visto será concedido independente do visto do seu marido. Geralmente, J1.
Carlos Monturil says
É VERDADE QUE EXISTE FACULDADES QUE NÃO SÃO ACEITAS PARA QUE OS ALUNOS FORMADAS NELAS VALIDEM O CURSO?, OU SÓ DEPENDE DO ALUNO PASSAR NAS PROVAS?.
MARIANE says
Sou médica e estou terminando a residência aqui no Brasil. Meu marido mora na California e tem visto L.
Já estou me preparando para os steps. Gostaria de saber se daqui há 2 anos, quando ele e eu conseguirmos o green card, o meu ingresso na residência seria ‘menos difícil’ que com o visto L1.
Jade says
Olá, me formarei pela UBA (universidad de Buenos Aires) ano que vem e gostaria de fazer residencia e validar meu diploma nos EUA, seria o mesmo processo que é no Brasil?
Enéas says
Olá Jade, conseguiu tirar sua dúvida sobre validação de diploma de medicina da UBA nos EUA? Estou interessado na mesma questão!
Karen says
Ainda estou fazendo o CBC para fazer medicina na UBA, mas ja penso em fazer minha residência nos EUA também. Se tiver alguma informação, ou alguém puder passar algumas dicas, também estou interessada.
Alexandre Machado says
Olá, tenho uma formação medica aqui no Brasil que considero muito boa.com PhD, varias publicacoes internacionais, ligado a grupos de pesquisa. Porem tenho 46 anos, gostaria de saber se vale a pena tentar prestar o UMSLE ou se minha idade e’ um empecilho a ser considerado nas faculdades americanas? Grato
nilmara chumacero says
Existe uma lista das faculdades de medicina que são aceitas para revalidação nos EUA?
Monica Hayashida says
Bom dia As regras mudam dia a dia para os medicos, aqui os Estados Unidos, pois os Brasileiros sao bem mais preprados. Revalidar o diploma independe do visto que esta aqui.
Good Luck everybody.
Monica Hayashida says
On September 24, 2017, President Trump issued a proclamation which modified key components of Executive Order 13780, including the country-specific travel restrictions. Information on the proclamation that may be relevant to United States Medical Licensing Examination® (USMLE®) Step 2 CS examinees is available on the Resources on Presidential Proclamation page.
Examinees are encouraged to monitor the Resources on Presidential Proclamation web page. New information, as it becomes available, will be posted there.
Em 24 de setembro de 2017, o presidente Trump emitiu uma proclamação que modificou os principais componentes da Ordem Executiva 13780, incluindo as restrições de viagem específicas do país. Informações sobre a proclamação que podem ser relevantes para o Exame de Licenciamento Médico dos Estados Unidos® (USMLE®) Etapa 2 Os candidatos a CS estão disponíveis na página Recursos na Proclamação Presidencial.
Os examinados são encorajados a monitorar a página da Rede de recursos na presidência presidencial. Novas informações, à medida que elas se tornem disponíveis, serão publicadas lá.
Daianne Nogueira says
Adorei!
LILIAN CISI PELIELLO CARDOSO says
Sou Brasileira, naturalizada americana.Moro no Brasil. Sou médica formada no Brasil. Pelo que entendi, no meu caso, aparentemente haveria a necessidade de passar nas provas do USMLE e fazer nova residencia médica nos EUA, sem necessidade de voltar para o Brasil. Correto?
Ranna.V says
Oi, Meu nome é Ranna e meu sonho é ser Médica Cirurgiã nos EUA, tenho 17 anos e estou no segundo ano do ensino médio, então, minha vida e meus estudos tá tudo corrido por causa de ENEM, vestibular e outros cursos. Vi que no texto do Dr.Douglas tem que começar a residência nos EUA tudo do zero assim que você consegue revalidar seu diploma médico nos EUA. Então, pra mim não ter que fazer a residência do zero depois que eu revalidar meu diploma, eu posso por exemplo, pedir um visto americano quando eu estiver no quarto ano da faculdade de medicina(já que são 6 anos de faculdade), aí quando meu visto for aprovado e aceito dois ano depois (quando eu já tiver acabado de me formar na faculdade), eu termino a faculdade e faço a residência lá depois que eu revalidar meu diploma ou nem preciso revalidar ja que vou ter o visto? Já que vou ter meu visto americano aí já vou revalidar meu diploma médico, então, não vou precisar fazer a residência do zero já que estarei começando a fazer? Eu terei que fazer essas mesmas provas mesmo que eu ainda não tenha feito residência ou eu vou ter que fazer residência no Brasil de qualquer jeito? Ou eu farei provas diferentes ja que ainda não fiz a residência?
Rosane Santiago says
Sou brasileira, pretendo fazer Medicina na UBA e exercer nos EUA, e para quem queria saber se o curso é reconhecido nos EUA, a resposta é SIM. Segundo os critérios de elegibilidade dos USMLE (https://www.usmle.org/pdfs/bulletin/QF_Eligibility.pdf), eles só reconhecem as universidades listadas nesse site https://www.wdoms.org/ que vocês podem fazer a pesquisa por país e já existem 48 universidades ARGENTINAS e 248 BRASILEIRAS, cadastradas nesse sistema. Espero ter ajudado vocês, boa sorte!
victor hugo says
sou brasileiro, mas estou estudando medicina no paraguai, saberia me informar se muda alguma coisa em termos de documentação e prova para revalidação de diploma paragauio para os eua
Letícia says
No caso de um neurocirurgião, ele necessitaria de 5 anos de estágio, ele teria que refazer esses 5 anos de estágio nos EUA?
Savanah says
Alguém pode me dizer que a residência médica é remunerada? quantos anos demoram? Grata
Wallace Irwin Flores Souza says
Na residência,vc ganha 1000 dólares por mês
Dre e says
Quero fazer na uba para validar nos EUA
Quais faculdades dos EUA aceitam?
tenison says
É possível passar nestas provas sem fazer um curso pago?