E hoje finalmente foi votada na câmara a reforma de saúde que o presidente Obama estava tentando passar praticamente desde que tomou posse. A reforma passou, o que é certamente uma vitória histórica, mas muita coisa importante foi deixada de fora no projeto final.
Realmente o sistema de saúde aqui tem que mudar, é completamente absurdo um país de primeiro mundo como os EUA que deixa seus cidadãos sem opção de tratamento nenhum se não tiverem como pagar. Muita gente que trabalhou a vida inteira e teve plano de saúde quando fica doente se vê sem emprego e sem plano de saúde, ou descobre que os planos não pagam seus tratamentos e tem que vender suas casas e tudo o que possuem para conseguir se tratar. Ainda assim, muita gente vai a falência e não consegue dinheiro para cobrir todas as despesas médicas. Mas por conta da hipocrisia de políticos que usaram seus votos para promover suas próprias agendas, o projeto aprovado não tem a public option, que era um dos pontos mais importantes da reforma, que permitiria que cidadãos escolhessem entre planos privados caríssimos ou o plano público (pagando o plano público diga-se de passagem). Essa opção seria a salvação para muita gente que paga caríssimo por planos privados ou que simplesmente tem planos privados negados porque já teve doenças que os planos privados acham que não vale a pena cobrir. E ontem na negociação final para passar a reforma na câmara, ficou decidido que o plano público não vai cobrir abortos – diga-se de passagem, o único procedimento médico que não vai ser coberto pelo plano (ou seja, quem tem dinheiro continua fazendo aborto nos estados onde aborto é permitido, e as mulheres que são pobres e terão o plano público vão continuar não tendo dinheiro para isso, a hipocrisia continua).
As mudanças na reforma que foram feitas na câmara ainda tem que ter o voto final do Senado, mas como o Senado já passou a reforma em dezembro, o presidente pode assinar a lei antes mesmo desse voto para confirmar as mudanças. Os Republicanos, que votaram todos contra, já estão pensando em como podem bloquear a reforma. Espero que o presidente consiga levar a lei adiante e implementar as mudanças, tão necessárias em um país onde ninguém sabe se um dia vai ficar doente e ter seu tratamento negado.
Bel says
Não entendi esse public option, Lu. A pessoa poderia ter um plano caro sem pagar por ele?
Luciana Misura says
Bel, o public option era o plano de saúde que o governo ia vender, digamos assim. Qualquer pessoa poderia escolher comprar o plano do governo ao invés de um plano privado (para as pessoas que tem renda acima de um determinado valor e não se qualificam para o plano público grátis). Tem famílias aqui que pagam mais de mil dólares por mês de plano privado (pai, mãe, 2 filhos, JOVENS!). Essas pessoas poderiam escolher o plano do governo e pagar um valor bem mais baixo. E para pessoas que tem cobertura negada pelos planos privados isso seria a salvação. Por exemplo, se você teve um transplante, um câncer, os planos de saúde podem negar a sua cobertura. Então essas pessoas poderiam comprar o plano de saúde do governo. Infelizmente essa opção foi removida em dezembro.
lala says
Eu não conheço muito bem a legislação dos EUA, mas pelo que pude perceber, am alguns aspectos ainda estamos em melhor situação aqui no Brasil. Sou funcionária da Prefeitura, e desconto 2% do meu salário básico, posso realizar vários exames, com direito a internação e dentista. O ruim ficou por conta da saída de dois hospitais que eu gostava muito, mas perto do que vejo aí…. Por aqui é ruim, mas ainda não vi ninguém perdendo casa para poder se tratar, e quando o plano não cobre… sempre tem os recursos judiciais para solicitar o tratamento pela rede pública!
Luciana Misura says
lala, o Brasil está muito melhor do que os EUA no acesso a saúde. Pelo menos existe um sistema público, que mesmo não sendo maravilhoso, atende a quem não tem uma opção particular. Aqui não existe opção pública, é tudo 100% privado. Quem não tem plano morre de medo do que pode acontecer, e quem tem plano nunca sabe se na hora H vai ter a cobertura que precisa. Sempre falo pra todo mundo e repito: se vier aos EUA a passeio, não deixe de fazer um seguro-saúde pra viagem, porque se você passa mal e precisa ir pra emergência do hospital, pode ter que pagar contas absurdas (a mãe de uma amiga minha aqui que estava visitando passou mal e foi pra emergência, custou quase 4 mil dólares e ela nem ficou internada nem nada).
Roseli says
Luciana.. como sua amiga resolveu o problema com o hospital? Pagou?? Estou com problemas com um hospital. P