Semana passada estava lendo este artigo sobre alfabetização em mais de uma língua no site Multilingual Living e caiu como uma luva. A Julia está no início do processo de alfabetização bilíngue e nós estamos ensinando português e inglês ao mesmo tempo, que é basicamente o que a autora do artigo fez.
Nos livros que li sobre bilinguismo as autoras falavam pra ensinar primeiro a língua majoritária, mas como nós falamos só português em casa, ficava estranho ensinar apenas as letras em inglês por exemplo, já que não é a língua que falamos com ela. Então conversando com algumas pessoas que já passaram por isso e uma amiga professora trilíngue, que disse que podíamos ensinar as duas ao mesmo tempo e reverter pra uma só caso ela não acompanhasse, resolvemos que ensinaríamos inglês e português, de acordo com o que estivéssemos lendo no momento.
Como a Julia tem livros nas duas línguas, é natural que ela pergunte e fale sobre letras quando está lendo um ou outro, independente da língua em que esteja escrito o livro. Então seria no mínimo anti-natural só ensinar as letras em inglês e deixar o português pra depois. A gente acaba falando os sons nas duas línguas, até porque ela está mais acostumada com os sons das letras em inglês que é o que ela aprende na escola. Ela atualmente sabe o alfabeto todo tranquilamente em inglês, mas em português ainda não. Ela ainda confunde muito o “E” em inglês que tem o mesmo som do “I” em português por exemplo. Mas não temos pressa, ela ainda é novinha e só será alfabetizada oficialmente ano que vem.
Ela também escreve algumas palavrinhas, independente do idioma, como Daddy, Mamãe, Vovó, Vovô, Nonna, Papa, Gato, Eric, além do nome dela, claro. E copia tudo o que a gente escrever, ela “escreveu” cartões de aniversário pros avós de Michigan, que ficaram super contentes 😉 De qualquer forma, ela copia e vai treinando o que for, inglês ou português.
Pontos interessantes do artigo:
– Não se sinta pressionado em manter um equilíbrio perfeito entre as línguas quando ensinar a ler e escrever. Isso tirou um peso dos meus ombros! A gente ensina de acordo com o que surge na conversa, na brincadeira, num livro, em que língua for.
– Reconheça leitura e escrita como uma extensão de falar e entender. Encoraje comunicação em todas as formas e em todas as línguas, mas continue a dar atenção especial a língua minoritária, já que está receberá menos atenção em outras formas. A gente tenta sempre reforçar o que ela sabe em inglês e aproveitar pra falar como é em português, já que ela precisa evoluir na escola com o inglês mas se a gente não der uma forcinha pro português, não tem ninguém pra ensinar. O probleminha aí é que eu não tenho experiência com alfabetização em português no método que eles usam aqui pra alfabetizar em inglês, que é por som, eu aprendi por sílabas. Nem sempre é fácil fazer um paralelo entre as línguas usando dois métodos diferentes.
– Saiba que o aprendizado da leitura e escrita, assim como foi a aquisição oral das línguas, vai variar. Uma hora a criança pode achar uma língua mais fácil que a outra para ler ou escrever. A autora do artigo comenta que foi o caso com o filho dela, que uma hora preferia ler em espanhol, e depois preferiu inglês, até se sentir igualmente confortável nas duas línguas.
E claro, o conselho básico mas sempre importante: leia muito pro seu filho! Ela adora livros, então temos mais que aproveitar mesmo. Outra dica é fazer os seus próprios livros, juntos. A gente brincou de fazer um livro no final de semana passado e ela adorou, inventamos a história juntas e fomos escrevendo e desenhando em cada página. O livrinho criado foi em português, a história de um dragão que ao invés de cuspir fogo, queria cuspir água 😉
Enfim, estamos nesse caminho, em agosto desse ano ela entra na escola oficialmente para ser alfabetizada, então em junho de 2013 vamos reavaliar a situação. Se você tem filhos já mais velhos que lêem em mais de uma língua, estou interessada em saber qual foi o processo utilizado!
Barbarella says
Luciana, eu fui alfabetizada em português no método da Casinha Feliz, já ouviu falar? Minha mãe conta até hoje como eu aprendi mais rápido e melhor quando era comparada com primos da mesma idade que estavam sendo alfabetizados pelo método silábico. A Casinha Feliz é um método baseado em fonemas onde cada letra é um personagem que tem um som e muitas historinhas se desenrolam ao longo do processo de alfabetização. A letra “A” era a abelhinha, “F” era a faca, “V” era a vovó, por exemplo (lembro até hoje, haha). Joguei no google despretensiosamente e achei esse site ( http://www.acasinhafeliz.com.br/ ) que parece ser uma versão atualizada do mesmo método que eu estudei há anos atrás. Dá uma olhada lá. De repente pode te ajudar! E quando é o aniversário da Júlia mesmo? Eu faço os hamburguinhos para ela sim =)
Luciana Misura says
MUITO obrigada pela dica! Vou pedir pra minha mae comprar quando ela voltar pro Brasil, assim poderemos ensinar a Julia usando o mesmo metodo que ela ja conhece aqui 🙂 Valeu mesmo!
O aniversario dela e em agosto, mas imagina, nao precisa fazer nao. 🙂 Mas a ideia e otima! E da pra aproveitar pra outros temas…
marisa rechenberg says
Oi Lu! Em casa é uma baderna – portugues, espanhol e ingles – e na escola o Pedro aprendia tambem malaio e mandarim. Ele fez 4 anos e foi para a escola ‘de menino grande’: o liceu frances. A coisa legal e que na pre-escola ele aprendeu o alfabeto de maneira fonetica, ou seja, B era ‘b’, e assim ia. as vogais e uma ou outra consoante davam no na cabeca, claro. Chegando ao liceu, ele aprende em frances, mas sempre soletrei embalagens em portugues, e ele nunca se confundiu – podia ficar em duvida, mas ia adiante. O curioso e que de cara eu nao ‘tinha o direito’ de ler em ingles, depois nao podia em espanhol. Agora pode ser o que eu quiser (confesso que fazer traducao imediata se nao conheco a estoria e tenho sono, eh jogo duro!), e em seguida ele pede a estoria em portugues. Sem duvida alguma ele se sente mais a vontade em PT do que em qualquer outro idioma, mas tenho a impressao de que a fala esta dissociada da escrita, pois escreve o que eu peco para ele escrever, sem se dar muito conta de que idioma esta usando 😉
Acho que o mais importante eh tentar balancear as linguas que usem em casa, e que ela saiba que o que fala e ouve, tambem se traduz ao papel. O resto vem naturalmente 🙂
Luciana Misura says
Uau Marisa, entao ele se comunica com voce em portugues, com o pai em espanhol? E o ingles e com quem? E na escola e so frances? E o malaio e mandarim agora entram onde? Que loucura, me explica melhor isso ai 😉 Ele esta com quantos anos agora, acho que ele e um pouco mais velho que a Julia ne?
Claudia Dannemann says
Luciana, o processo de alfabetizaçao na Alemanha é bem tardio e isso inicialmente me incomodou muito. Mas eu decidi nao ir contra a corrente. Minha filha entrou com 6 anos na escola e antes, no Kindergarten, mal sabia escrever o nome. Eu comecei a ler com 4 como é muito comum no Brasil. Entao em alguns momentos eu até tive vontade de forçar, mas me segurei e nao me arrependo, porque a minha filha tinha uma maturidade para as letras que uma criança de 4 ou 5 nao teria. Fui a algumas palestras sobre bilinguismo e li muito a respeito e optei pelo esquema de só alfabetizar em português, depois do processo no alemao estar mais adiantado. No nosso caso, achei que valeu a pena. Ela lê com muita facilidade em português, sem que eu tivesse que ensinar muito, só estou enfatizando as diferenças e explicando os sons que nao existem em alemao como o til, nh, lh. Por exemplo: na primeira vez ela lê a palavra carinho como carin-ro, porque o h em alemao é falado. Ela repara que nao conhece a palavra assim, mas de imediato descobre que seja carinho. Enfim, escolhi um caminho que funcionou muito bem e estou satisfeita. Só gostaria que ela falasse mais português, mas a fase da rebeldia à língua por conta da escola é bem natural.
Eu gostei muito desse link do multilingual que você passou, principalmente por estar fazendo o experimento com crianças adotadas, sobre o qual encontrei um artigo numa newsletter do site. Acho interessantíssimo traçar os paralelos entre dois filhos (no nosso caso eles nao sao irmaos de sangue e têm histórias diversas). Uma das melhores liçoes que levei de um dos tantos seminários de adoçao dos quais participei é que a gente deve nao exagerar nas expectativas em relaçao aos filhos. E voilá: eu li a mesma coisa no site multilingual em relaçao à expectativa da criança ser fluente num idioma etc…. Ter uma surpresa positiva com a criança neste aspecto é bem mais agradável do que esperar algo que talvez a criança nao possa alcançar. Desculpe-me disvirtuei um pouco do assunto…
Voltando à alfabetizaçao, basicamente lemos muito. Atualmente faço download de textos pro Kindle pra ler com as crianças, além dos livros que temos. Escrevemos emails, carta pro Papai Noel em português, carta pra vovó e tios e assim vai. Tudo sem cobranças e na brincadeira. Há alguns links bem legais de jogos que eu também utilizo, por exemplo o jogo de forca, que também fazemos no papel. Em breve terei alunos de português que sao filhos de brasileiros mas que alegam ter dificuldade em ler e escrever no português. Acho que tirarei proveito da experiência para ensinar pessoas assim. Vamos ver…
Beijos
Claudia
Mari says
Olá Luciana,
eu cheguei no Canadá há tres anos e meu filho mais velho estava com 5 anos e já tinha começado a ser alfabetizado em portugues. Eu tentei continuar a alfabetização em portugues e deixar o ingles para a escola, mas percebi que estava sendo muito complicado para ele uma vez que ele não falava ingles. Então abandonei a leitura e escrita em portugues, mas continuamos falando só em portugues em casa. Agora que ele está alfabetizado em ingles eu percebi que ele tem muita facilidade para ler em portugues: lê fluentemente mas lê primeiro com sotaque e depois repete a palavra com a pronuncia correta. E estou pensando em começar a incentiva-lo a escrever também.
Com as meninas que chegaram aqui bem menores e já falavam ingles quando entraram na escola a coisa é bem mais facil. Eu posso soletrar as palavras em qualquer lingua e elas entendem perfeitamente (exceto o E do ingles e o I do portugues, que eu tenho que explicar em que lingua estou falando). E eu acho que é muito mais facil escrever em portugues.
Be says
Quando ela fala português, tem sotaque americano? O que percebi nos filhos das minhas amigas brasileiras, que nasceram e foram alfabetizados na escola em Inglês, mas aprenderam o português em casa, com os pais, é o sotaque americano. Tão bonitinho. Falam o português fluentemente, mas em algumas palavras, o sotaque americano é bem aparente e o ritmo da frases lembra o ritmo do inglês. Super interessante.
Teté says
ótimo post. eu cresci falando 3 idiomas, falei tarde por conta disso, confundia muitas vezes, mas cresci trilingue, o que é um ativo na minha vida. foi muito importante meus pais falarem sempre português comigo, assim nunca perdi morando fora. conheço brasileiros que falam só em inglês com os filhos por conta de marido/esposa que falam outro idioma o que não concordo. faz bem pra criança crescer ouvindo mais de um idioma, o ouvido fica polida e terá facilidade de aprender outros idiomas, além de bagagem cultural.
Karen says
Luciana, eu fui uma crianca trilingue (quem sabe ate’ quadrilingue? :-)), nasci em Israel, ouvia hebraico da baba’, mas em casa se falava frances, fomos morar nos EUA quando eu tinha 2 anos, fui alfabetizada em ingles. So’ cheguei no Brasil com 5 quando enfim aprendi portugues, que e’ minha mother language. Nao falei tarde, falei na hora certa e acho que sempre falei muito 🙂 Ingles era’ minha mother language ate’ os 5 anos, falava sem sotaque e depois aprendi portugues (no inicio com sotaque de americana, depois o unico sotaque que ficou no portugues foi o carioca 🙂 e quando falo hebraico em Israel perguntam se eu sou francesa. Sempre falei hebraico com meu filho, porque meu marido e’ israelense e nao sabe portugues (uma frase aqui outra ali) moramos nos EUA em 2007 por um ano mas ele perdeu muito do ingles, e se alfabetizou agora em hebraico (tem 6 anos). Eles aprendem ingles na escola mas eu reforco em casa. To falando de dois alfabetos completamente diferentes, o latino (ingles, portugues) e o hebraico … primeiro tenho que fazer ele entender que hebraico e’ da direita pra esquerda e ingles da esquerda pra direita 🙂
Tudo isso pra dizer … com calma … no final ingles sera’ a mother language da Julia, porque voces vivem ai e nao estao isolados do mundo exterior. Quando crescerem ela e o Eric falarao ingles entre eles, mesmo voces falando portugues, voces verao. Mas o portugues dela sera’ excelente, porque ela ouve voces, ouve os avos, tios etc, isso e’ muito sabio e saudavel. Eu nunca fui alfabetizada em frances, mas sei ler perfeitamente – porque e’ o mesmo alfabeto latino e meus pais falavam em casa frances. E eu falava com meus avos, tios e primos quando ia pra Franca. Escrevo frances mas com erros. Quando falo frances na Franca perguntam se sou canadense. Minha pronuncia em ingles e’ perfeita mas devo ter um leve sotaque. Escrevo ingles sem erros e corrijo americanos … ou seja, nao tem nenhuma receita, cada caso e’ um caso, deve ter mil livros, sabe que nunca me interessei? Acho que eu vivi mais do que qualquer livro pode explicar 🙂 Minha frustracao atualmente e’ meu filho nao me deixar mais cantar Nana Nene e Se Essa Rua Fosse Minha quando ele ta’ na cama, que eu sempre cantava quando ele era pequeno. Ele diz que e’ musica de nenem 🙂 Entao eu canto Eduardo e Monica do Legiao. E por que …? Ora, porque e’ enorme, quando termino ele ja’ adormeceu …
Karen
Israel
Graziela says
Lu, aqui em casa falamos so’ portugues com o Nicolas (que hoje esta com 4 anos) e quando ele comecou a ir para a escola (nursery – 3 anos) ele tinha contato com o ingles so’ da tv e dos grupos/ contacao de historias que participavamos.
Confesso que fiquei preocupada com a adaptacao dele, a questao da comunicacao, mas ele nao teve nenhum problema, sempre converso com a professora e ela sempre nos diz que esta tudo bem.
Agora ele ja comecou a fazer alguma mistura, as vezes pergunta algo em ingles e eu respondo em portugues. Outras vezes ele quer saber algo/ ou se alguem fala portugues e ele pergunta: Ela fala como nos ou como na minha escola?
Tem um blog que me ajudou muito e tem varias dicas sobre o bilinguimos (talvez voce conheca) e’ o Filhos Bilingues (http://filhos-bilingues.blogspot.com/).
Quero alfabetizar o Nicolas em casa em portugues, para quando voltarmos para o Brasil ele nao estar tao perdido, porem tudo tem acontecido de forma bem natural e com brincadeiras, nao temos nada sistematizado, so’ vou aproveitando os momentos e os interesses dele.
Abracos
Gra
Dri says
Eu sei que não é bem a pegada do post, mas eu sempre tive curiosidade em saber como vc “alfabetizou” o Gabe em português… Eu não sei como proceder!!
Marta says
Minha filha tem 3 anos e está cursando o maternal no Brasil, ela sempre teve dificuldades em falar, ainda não articula bem as palavras e fala pouco. Em janeiro estamos indo para Holanda e ela já vai entrar em uma pré-escola. Minha preocupação é se ela vai ter muita dificuldade no novo idioma, sendo que tem tb no português. Tava até pensando em começar a ensinar algumas coisas de forma bilingue, como o alfabeto, os números e as cores para ir dando logo um empurrãozinho, não sei se seria o correto.
Camila says
Olá Luciana
Gostei do blog e dos comentários!
Estou nessa sinuca, tendo um filho de 5 anos começando escola no Brasil, sabendo bastante inglês para quem aprende sozinho vendo tv
Ele estava começando a ser alfabetizado na escolinha que estava, e agora escolhemos uma bilíngue pra ele, que está focando na alfabetização do inglês ao invés do português…
Vc poderia me falar mais qual foi o “resultado” (risos) com a Júlia e compartilhar sua experiência agora já estando com tudo sedimentado pra ela? Tem algum artigo que já esteja no blog sobre isso que vc possa me passar o link?
Abs
Camila
São Paulo