Quando a minha amiga Heliene disse que ia a Fernando de Noronha com os seus filhos pequenos (o mais velho tinha 6 e a mais nova com 4), pedi logo pra ela me dar todas as dicas depois. Afinal, muita gente fala que Fernando de Noronha com crianças é furada, que tem pouca infra-estrutura, que os adultos não aproveitam, mas é um dos lugares que está na minha lista de lugares a conhecer – levando os meus filhos, com certeza. Pois a Heliene chegou e escreveu esse post recheado de dicas e fotos lindas, pra quem está pensando a ir a Fernando de Noronha com crianças vai ser um belo incentivo! Fala, Heliene:
Um Não-guia de Fernanda de Noronha
Sem medo de usar superlativos: Fernando de Noronha é o lugar mais incrível, mais lindo, mais *natureza* que já conheci na vida. E, certamente, a viagem mais maravilhosa que fiz com os meus pequenos viajantes: Nick, com 7 anos e Bibi, com 4 anos. E olha que eles já andaram rodando o mundo, por lugares quase-tão-incríveis.
Noronha nos deu de presente momentos especiais demais. As crianças voltaram com a mesma empolgação dos adultos; e os adultos muito felizes por experienciar Noronha através dos olhinhos deles. Porque só criança consegue dar a mesma medida de euforia para o encontro com 5 golfinhos que fazem piruetas e para a poça de lama no caminho do buggy.
A única restrição turística foi a descida de 50m, que inclui 2 escadas fincadas nas pedras, para acessar a Baía do Sancho. Muito risco para os pequenos! Apreciamos à distância.
Fora isso, eles fizeram de tudo: de furar onda até o pôr-do-sol na Cacimba do Padre a observar os famintos Atobás na praia da Conceição. Desbravaram os 3Km do Atalaia (sem nenhum pedido de colo, o que foi muito impressionante) para fazer o mergulho de flutuação com os tubarões no berçário; encararam snorkel na praia do Porto, onde encontramos raias pintadas e tartarugas; e tomaram muito vento de buggy no cabelo.
Sentaram para ouvir a palestra do Projeto Tamar sobre tartarugas marinhas – sendo que Nick saiu de lá inimigo de caranguejos (predadores das tartaruguinhas) e inspirado para escolher a profissão: decidiu que vai ser biólogo do Tamar.
Eles também nos acompanharam em todos os bistrozinhos fofos- e nos ajudaram a eleger o Varanda e o Cacimba como os melhores restaurantes da ilha (só não se arriscaram no meu cheesecake de jaca!)
E o porquê do Não-Guia? Porque Fernando de Noronha é o tipo de viagem que você apenas vai!
Veja também: todos os hotéis de Fernando de Noronha no Booking.com
Viajei a vida toda usando “reviews” para ajudar nos planos e me guiar nas escolhas. Começando pelo Guia 4 Rodas, que aprendi a usar aos 6 anos de idade. Esse conhecimento me deu mais do que poder: me garantiu supremacia absoluta nas viagens de família. Com o guia na mão, meu pai dirigindo, minha mãe preocupada com o setlist das fitas cassete e a minha irmã ainda iletrada, eu passei a escolher monocraticamente onde parar, onde comer e onde dormir.
E fez-se a Internet. Comecei a cultivar uma obsessão pelo fórum da Fodors. Encarava o planejamento de viagem como um desafio, uma oportunidade para provar a minha eficiência turística. 😉 Eu TINHA que chegar na fila do check-in do aeroporto com o roteiro definido, com o melhor quarto (do melhor hotel) reservado, e com a lista de restaurantes imperdíveis em mãos.
E fez-se a vida com filhos. Aí, o simples fato de chegar no aeroporto com todos os filhos e documentos correspondentes a tempo de fazer o check-in, já passou a me garantir uma medalha de honra ao mérito, por eficiência turística e gerenciamento de caos sob pressão.
São três tipos de turismo que se pode fazer com crianças. Tem o turismo pronto – tipo Disney, Club Med e similares (já fizemos, check!). Também tem a viagem programada para sair dos planos – aquela que você sai com uma lista de 5 lugares pra conhecer, acaba indo a 2 e descobrindo 4 pelo caminho. Nova York, por exemplo, foi assim. Por culpa dos meus pequenos (e muita sorte minha!), passamos 3 dias desvendando cada canto, cada chafariz, cada casinha do Central Park. E, por fim, o terceiro tipo de turismo com crianças: quando você arruma a mala (se der tempo) e apenas vai! Noronha, por exemplo.
Mas para quem ainda se cobra o mínimo de organização e planejamento turístico, listei abaixo as poucas coisas que você precisa saber antes de chegar lá.
1. Escolher um hotel
São 3 categorias:
· Hoteis estilo “Ilha de Caras” – que, na minha opinião, não combinam nem com o estilo “pé-no-chão” de Noronha, nem com uma viagem com crianças. Porque viagem com crianças também tem que deixar adulto feliz – e nenhuma mãe é feliz tendo que controlar o nível de decibéis dos filhos na piscina. Então, se você não está indo se casar com o Paulinho Vilhena ou não é uma sub-celebridade que vai abrir o coração em uma viagem patrocinada pela Caras, favor pular esta categoria.
· Pousadas sem luxo e sem piscina; mas com charme, ar-condicionado e um staff acolhedor,
· E, por fim, as famosas casinhas de pescador; que adicionam vários pontos de “espírito aventureiro” à sua viagem.
Acabamos parando na excelente pousada Mar Atlântico (que se encaixa na segunda categoria), do Tuca Sultanum, filho do Zé Maria, que é a figura mais conhecida da ilha. Para quem não sabe: Zé Maria está para Noronha, assim como Mickey está para Orlando.
Pausa para uma confissão: assim que entrei no quarto, fiquei com vontade de ir correndo para uma pousada de pescador. Achei a Mar Atlântico charmosa demais, branca demais e rústica de menos. Fiquei com receio legítimo da “brancura” do quarto afetar a nossa experiência em Noronha. Minhas palavras, no momento da hesitação: “Não viajei 10 horas para ficar no Marriott de Noronha”. Marriott porque estava tudo muito arrumadinho, com conforto na medida, dentro de padrões – acho que, no fundo, eu esperava um banheiro com cortina de plástico no box. 😉
Com muita paciência, fui convencida de que seria bom ter um ar-condicionado no final do dia; e de que eu não perderia pontos no quesito “espírito aventureiro” por me hospedar em uma pousada confortável e dormir em um colchão fofo, dentro de um quarto que ostenta xilografia nas paredes. Ajudou também o fato das crianças terem se sentido em casa desde o primeiro minuto. Pausa para uma retratação pública: mandou muito bem na escolha da Mar Atlântico, amor!
2. Alugar um buggy
Uma palavra: imprescindível!
Só há uma estrada de asfalto em Noronha: os 7Km que ligam o Porto à Baía do Sueste. Fora isso, você vai encontrar estrada de terra e muitos buracos no caminho – que só podem ser desbravados com um buggy e um motorista competente.
3. Repelentes
Já tinham nos alertado sobre repelentes, mas não sobre o tipo correto. Comprei 2 garrafinhas do Exposis Extrême, apliquei e reapliquei em todo mundo, muitas vezes – mas não adiantou. Fomos devorados pelos maruíns!
O Exposis não tem DEET como ativo repelente de insetos, mas uma substância comparável, a Icaridina. Não funcionou. E quem for optar por um produto com DEET (eu,da próxima vez); tem que ficar de olho no índice. O OFF da farmácia tem 7% de DEET; mas para lugares como Noronha, um repelente assim só seria eficaz se reaplicado de 5 em 5 minutos.
4. Infra-estrutura
Tudo o que você ouviu falar sobre a falta de infra da ilha é verdade. E eu vejo muita beleza nisso. As praias não tem barracas, banheiros, chuveiros e nem um lugarzinho para comprar água.
Com exceção da Sueste, que já tem um quê-irritante-de-Disney: além de barracas, banheiros e chuveiros, tem lojinha vendendo golfinho de pelúcia e cupcakes na saída.
Algumas mães me perguntaram sobre o preparo da ilha para atender emergências médicas. Se alguém quebrar um braço, por exemplo, tem que ir com um aviãozinho da FAB para o continente. Quando meu filho ameaçou pular de um lugar alto, falei: “Toma cuidado que você vai quebrar um braço!”. O garçom do Restaurante Varanda completou: “Toma cuidado que o avião da FAB ainda não voltou de Recife!”
Acho que já escrevi demais para um não-guia. Quando a Lu Misura fez o convite para escrever para o Colagem, pensei logo nisso. Na importância de não ter lido absolutamente nada sobre Noronha, na delícia de descobrir in loco; nas recomendações que ganhamos de presente dos moradores; e, por fim, na liberdade de poder ir 3 vezes na praia que a gente amou- mesmo que isso significasse deixar de conhecer lugares novos (nenhum ser humano, que acabou de ser curado de uma compulsão em planejar cada detalhe de viagem, faria isso com a consciência tranquila se tivesse uma lista de lugares para conhecer).
O não-planejamento nos leva ao encontro bonito com o acaso. O que os americanos chamam de Serendipity – e é umas das palavras mais difíceis de traduzir para o português – combina com Noronha. Não planejar nos faz ingênuos. E essa ingenuidade nos faz encarar experiências sem a mácula da opinião do outro.
Por isso, deixo vocês SEM uma lista, mas COM fotos. Quem tiver alguma dúvida específica, pode mandar e-mail (só não vale me pedir listas ou roteiros 😉 ).
Obrigada, Heliene, amei o relato e as fotos! Fernando de Noronha está muito na nossa lista, só estou esperando o Eric crescer mais um pouco 🙂 Pra quem diz que Fernando de Noronha com crianças não dá certo, acho que esse post mostrou que não é bem assim.
A Heliene me lembrou depois que escreveu o post de dizer que pra entrar nas praias de Fernando de Noronha tem que ter o cartão de acesso, saiba mais sobre ele aqui.
Adriane says
Muito legal o seu relato Heliene!
Noronha é bem assim mesmo: arranje 7 dias e fique lá descobrindo a ilha. É tudo o que precisa para aproveitar esse lugar lindo.
kellen zoccoli says
Nossa amei ♥♥♥ teu relato!!!! Temos dois pequenos ( o Augusto tem síndrome de Down. 7 anos e a Ana Beatriz com 3 anos)
temos algumas viagens em família na bagagem também!!!!!-