Começamos o dia com um programa mais leve para os nossos pés destruídos: resolvemos assistir a uma peça de teatro Kabuki. Como o teatro fica aqui pertinho do hotel, fomos direto na bilheteria 10 minutos antes de começar o espetáculo e compramos um ingresso para dois atos. Eu achei que fossem dois atos da mesma peça, mas na verdade eram duas peças completamente diferentes. O teatro Kabuki é uma parte tradicionalíssima da cultura japonesa, tem famílias inteiras de atores – e são todos homens, mesmo nos papéis femininos. Estava lotado, mesmo numa terça-feira 11 da manhã, e eram poucos os turistas estrangeiros. Não pode tirar foto ou filmar o espetáculo, mas pode se empanturrar de comida: nossos vizinhos de cadeiras todos trouxeram seus bentôs e estavam muito satisfeitos assistindo à peça.
Acho que demos azar, assistimos à uma peça que tinha pouca movimentação e foi muito difícil de entender o que estava acontecendo. Só sei mesmo o que houve porque temos um resuminho em inglês que o hotel nos deu, senão sinceramente eu não ia ter entendido nada. A história era a seguinte: um homem, viúvo, sente muita falta de sua esposa e passa a viver com uma mulher que se parece muito com a falecida. Essa mulher é na verdade uma raposa que ele salvou (!), e eles não podem dormir juntos senão ela morre (!!). Um dia, ele chega bêbado, eles dormem juntos, a mulher-raposa morre e ele comete suicídio (!!!). Só teve uma dança no início, quase não teve música. O cenário, a iluminação e as roupas eram lindos demais, a iluminação foi um show à parte. Mas foi cansativo assistir as conversas intermináveis do viúvo com o amigo e da raposa com a amiga, e até agora eu não sei direito o que aconteceu pra raposa chorar tanto durante metade da peça. Acabamos não tendo paciência para assistir a peça seguinte, a gente devia ter pesquisado qual das peças tinha mais ação e não tanta ênfase nos diálogos, mas mesmo assim acho que valeu a experiência.
Saímos do teatro e logo ali do lado tinha um McDonald’s, fui lá encarar o sanduíche de filé de camarão. Sem graça, claro, mas eu tinha que experimentar. Também acabei tomando um refrigerante de uva verde que até que era bonzinho pra um refrigerante (eu quase nunca tomo refrigerante).
Com o céu azul e nada menos que 21 graus, pegamos o metrô para o parque Ueno, um dos mais visitados de Tóquio, porque além da paisagem tem vários museus importantes e templos. Estava lotadíssimo, todos os japoneses fazendo picnic embaixo das cerejeiras em flor. Não sei se por causa dos picnics tradicionais dessa época ou se é sempre assim, mas no caminho para cada um dos templos se amontoavam várias barraquinhas de comida interessantíssimas. Algumas vendiam petiscos bem conhecidos dos ocidentais, como tempura, espetinhos de frango e carne (yakitori) e bolinho de milho com recheio de queijo, mas a maioria tinha algum tipo de comida que eu nunca tinha visto antes e não sei nem o nome, aguardem fotos depois. Os locais compravam seus petiscos e levavam para a área de picnic embaixo das cerejeiras ou comiam em uma das mesinhas montadas na frente das barracas mesmo. Além de comida, artesanato, peixinhos e brincadeiras para as crianças. A maior atração para a criançada eram os pedalinhos no lago, acho que todos os pedalinhos disponíveis estavam em uso.
Ainda dentro do parque, visitamos o templo Toshogu, muito bonito com suas paredes douradas e centenas de entalhes em madeira. O templo, que é em estilo chinês, é aberto para visitação, mas só se pode tirar fotos do lado de fora. Pertinho desse templo tem uma Pagoda de 5 andares linda, mas não tinha como chegar perto dela porque as barraquinhas fecharam o caminho. Uma pena. Saindo do parque passamos na frente do Tokyo National Museum, que tem as coleções de arte e arqueologia japonesa e também objetos de outros países asiáticos e do National Museum of Western Art, que está com uma exposição temporária com peças da coleção do Museu do Prado, de Madrid. Se a gente tivesse mais tempo…Na frente desse museu tem uma réplica da escultura Portal para o Inferno, de Rodin, muito impressionante.
De Ueno pegamos o metrô até Asakusa, que é uma das áreas mais antigas de Tóquio e tem um dos templos mais movimentados da cidade, o Senso-ji. Erramos o caminho na saída da estação e acabamos vendo o prédio moderníssimo projetado pelo designer Phillip Stark, que eu tinha esquecido que ficava nessa área. Já no caminho certo, chegamos à Nakamise, uma ruazinha cheia de lojas vendendo tradicionais souvenirs japoneses. Tem muita coisa legal, mas estava tão lotada que eu fiquei com preguiça de entrar nas lojas. Fiquei apaixonada pelas bolsinhas bordadas com motivos japoneses, acho que vou ter que voltar lá depois e comprar uma. Experimentamos sorvetes com sabores locais: eu pedi o de chá verde e o Gabe o de apricot japonês. Detestei todos dois, haha. Tomei o meu sorvete fazendo caras e bocas só pra não jogar fora, mas não peço mais esse sabor. E um amigo que tinha me recomendado, gosto não se discute mesmo…A área do templo é bem legal, na verdade é um complexo com o templo principal e vários templos menores em volta, todos bem bonitos, e um jardim japonês lindinho. Infelizmente quando estávamos chegando ao templo o tempo já estava mudando, o sol se escondeu atrás das nuvens e ficou tudo cinza…
Como estava anoitecendo, rumamos para Shibuya, que assim como Shinjuku, é uma área com muitos locais de entretenimento e tem o cruzamento mais movimentado do mundo, em frente a estação de metrô. Gabe tirou foto com a estátua do cachorro, que fica bem na praça na saída do metrô e é um dos pontos de encontro dos locais. Conta a história que esse cachorro voltava sempre a esse mesmo lugar, por 10 anos, esperando seu dono que tinha morrido. A quantidade de gente nesse lugar é mesmo incrível, a cada vez que o sinal de trânsito fica vermelho um oceano de gente atravessa a rua em todas as direções. Fomos até o Starbucks que fica bem na frente da praça tomar um chá e observar o movimento, é um caos.
Voltamos no hotel rapidamente pra pegar o endereço de um restaurante em Ginza mesmo para o jantar: Tsuki no Shinzuku, uma izakaya super charmosa. Izakayas são pubs japoneses, eles servem pratos diversos em porções pequenas, então achamos que era uma boa forma de experimentar um monte de pratos diferentes. Nesse restaurante todas as mesas são privativas, você chega, tira o sapato e vai seguindo o garçon pelos corredores até a sua mesa. Eles fecham as persianas e só fica um quadradinho por onde o garçon passa a comida e fala com você. Um botão na parede chama o garçon quando necessário. Pedimos Porco com molho de vinagre preto, bife com vegetais na folha (vem ainda cru na folha em cima de um recháud e você frita a gosto na mesa mesmo), frango frito, tempura de patinha de caranguejo e sushi. Saquê para acompanhar, claro. Não sei o nome de nada porque estava tudo escrito em japonês (kanji) e em inglês só tinha a descrição do prato. Estava uma delícia, gostamos de tudo, acho que vai ser difícil encontrar outro lugar tão bom. Chegamos no hotel acabados, quase meia-noite, só liguei o computador pra descarregar as fotos que tiramos e apaguei.
Tem mais fotos originais no Flickr.
Todos os posts da viagem:
1o dia: Konnichiwa (boa tarde / bom dia)! (Tóquio)
2o dia: Adolescentes, cerejeiras e o guarda-chuva de 250 dólares (Tóquio)
3o dia: Segure o seu chapéu, jornal, picnic… (Tóquio)
4o dia: Isso é Tóquio
5o dia: Muita chuva em Tóquio
6o dia: It’s a small world after all (Disney Tóquio)
7o dia: Nikko, os italianos e os bêbados
8o dia: A caminho de Kyoto | Sayonara Tóquio!
9o dia: Kyoto, cidade das geishas
10o dia: Miyako Odori, uma tradição deslumbrante (Kyoto)
11o dia: Templos até debaixo d’água (da chuva) (Kyoto/Inaue)
12o dia: Nara e seus 1300 anos de história
13o dia: O castelo samurai de Himeji
14o dia: Takayama Matsuri, festival de primavera (mas que frio!) (Takayama)
15o dia: Shirakawa-go, uma vila que parou no tempo
16o dia: Takayama e muita confusão
17o dia: O final da saga
rosilande says
Luciana estou ansiosa por mais fotos, porém já valeu os detalhes da viagem, imagino como deve ser caminhar entre um mar de gente parecida…Pelo jeito sempre há uma estação de metro próxima dos pontos turísticos? Mesmo tarde da noite existe grande movimento de pessoas? Os japoneses realmente curtem os parques nesta época, pois em plena terça feira os templos e parques lotados. Continuem curtindo porém coloquem as pernas para o alto e cuidem dos pés. Beijos.
Gabe Misura says
That pork/beef on a leaf was awesome!
leticia says
luciana
vc experimentou aquele sashimi de peixe venenoso? dizem que é uma delícia, mas muito caro. vc encontrou por lá?
Thiago says
Olá,
caí no seu flog por acaso, numa procura sobre restaurantes em Tóquio. Estou indo pra lá pela primeira vez neste final de semana.
Gostei muito das suas dicas e vou aproveitá-las em minha visita, especialmente este restaurante em Ginza.
Alguma dica imperdível ou conselho especial?
Abraço, Thiago.
milton says
oi luciana
eu sou português e vi o teu comentário relativamente à viagem que fizeste. Eu vou em fim de maio e inicio de junho e gostei muito de ler o teu texto. Eu vou ficar em yokohama mas conserteza vou dar um salto a toquio, por isso gostaria de te pedir se pudesses que me digas os melhores sitios que viste e restaurantes em tóquio que valem mesmo a pena serem vistos, isto porque só lá vou 1 ou 2 dias. se puderes dizer-me eu agradeço.
cumprimentos
Cintia says
Luciana,
procurava dicas para Tokio e achei o seu blog, estou indo com uma amiga pela preimeira vez ao Japão .Preciso de algumas dicas, que tipo de roupa levar(abril/maio)?O povo é mto chic? Qto em média devo gastar (por pessoa)nesse restaurante que vc nos indicou? Lembra qto foi para o KABUKI?
Se tiver outras sugestões, agradeço.
abs
Patrícia Zwicker says
Por favor, gostaria de saber o endereço do restaurante Tsuki no Shinzuku.