Tomamos café no hotel, um café da manhã americano como manda a tradição: ovos, bacon, lingüiça, batatas, não cheguei nem perto do peixe e arroz da parte japonesa. Engraçado como comida é uma questão de hábito, há alguns anos eu também achava horrível o café da manhã americano, aposto que se eu viesse morar no Japão ia acabar me acostumando com o café da manhã local também.
Aproveitamos a manhã em Takayama para andar mais um pouco pela cidade e visitar a Heritage House, que é uma casa de um comerciante rico que foi preservada e é aberta a visitação. O solzinho tentava aparecer por entre as nuvens, a cidade parecia ainda estar descansando depos da agitação do festival, muitas lojas fechadas, algumas pessoas lavando suas calçadas (sim, desperdiçando água que nem no Brasil, com mangueira ou baldes).
A casa é mesmo muito bacana, tem o teto super alto com janelas por onde entra a luz, e está bem preservada. Tem alguns móveis, que eu estava mesmo curiosa para ver, muitos utensílios em exposição, e eu sempre fico babando nos desenhos lindos das portas. Acho a arquitetura tradicional japonesa um exemplo de como a funcionalidade pode ser elegante e bonita. Estavam servindo chá e biscoitos de arroz no quintal, voltamos ao passado sentados em volta daquelas mesinhas curtindo o momento e tomando chá.
Saímos de lá e fomos andar pelas ruazinhas simpáticas da cidade. Eu que não sou de comprar praticamente nada nas viagens, caí de amores pelas lojinhas de Takayama com seus delicados trabalhos em madeira e porcelana. Mas não arrisco trazer nada que possa quebrar na viagem, então só fiquei olhando as tigelas de chá, tão lindas, e os utensílios de madeira, tão bem-feitos. Comprei uma bolsinha feita com tecido bordado com motivos japoneses, foi o meu deslize. As lojas em si também são lindas, com jardins japoneses entre o salão principal e as salas menores nos fundos. Entramos em várias lojas de antigüidades, objetos e móveis antigos com pinturas delicadas e tudo bem caro.
Voltamos para o hotel só para pegar as malas e embarcar no trem para Nagoya as 13h40, não tem trem direto de Takayama para Tóquio. Tentamos mais uma vez fazer reservas de assento para o trem de Nagoya para Tóquio mas todos os trens da tarde e noite já estavam completamente reservados (tentamos fazer essa reserva 4 vezes por mais de uma semana, com esperança de alguém cancelar como cancelaram a reserva para Takayama, mas nada).
Chegamos a Nagoya às 16h e o próximo trem Hikari para Tóquio só sairia às 16h58, ficamos na fila do carro sem reserva esse tempo todo, éramos os segundos da fila atrás de uma senhora. O trem finalmente chega, um monte de gente que estava no trem começa a sair e a gente esperando todo mundo terminar de sair pra entrar. Nisso um monte de gente que não estava na fila começa a entrar pelos outros carros reservados e passar a nossa frente por dentro do trem. Quando finalmente conseguimos entrar, essas pessoas tinham pego todos os assentos vazios e todo mundo que estava na fila teve que ficar de pé. Até Tóquio são 2h de viagem! Fiquei revoltada, andamos por todos os carros não-reservados e não tinha um lugar vazio.
Resolvi que não ia ficar a viagem toda em pé por causa dos espertinhos e fui olhar o vagão reservado se tinha algum lugar vazio. Dito e feito, só que não podíamos sentar porque não tínhamos reserva. Aí aproveitei um erro que o operador de reservas tinha feito no nosso passe – ele carimbou o passe com a data da reserva e o trem antes de checar no computador se tinha lugar vazio, eles só carimbam depois de reservar o lugar – e mostrei o passe carimbado pro fiscal dizendo que tínhamos perdido os tíquetes de reserva mas que tínhamos o carimbo para comprovar. Como o carimbo não diz os assentos, ele viu os dois assentos vazios no vagão 6 e deixou a gente sentar. Não foi muito honesto da minha parte, mas pelo menos eu não roubei o lugar de ninguém, esses assentos iriam vazios de Nagoya até Tóquio porque as pessoas que não reservaram não apareceram. Mas sim, fico com a consciência pesada do mesmo jeito.
Chegamos no hotel finalmente, e o plano era tomar um banho e ir jantar no Park Hyatt, que tem aquele bar e restarante do filme Lost in Translation. Estávamos nos preparando pra sair quando Gabe foi checar quanto dinheiro ainda tínhamos e se precisávamos trocar mais algum traveler check quando demos por falta do envelope com os traveler checks e outros documentos. Procuramos em tudo, abrimos e desfizemos todas as malas, não encontramos em lugar nenhum. A essa altura eu já estava nervosa porque entre outras coisas, esse envelope continha a carta da imigração extendendo o meu greencard enquanto eles não mandam o novo e que obviamente eu precisava para voltar aos EUA.
Ligamos pro ryokan em Kyoto, Gabe achou que poderia ter esquecido dentro do cofre do quarto. Falamos com uma pessoa de lá e ele disse que sim, tinham encontrado o envelope. Suspiramos aliviados e perguntamos se dava tempo deles mandarem com prioridade máxima pra chegar amanhã e repassamos a ligação pro pessoal do hotel em Tóquio dar o endereço em japonês. Para nossa surpresa, o atendente do hotel em Tóquio nos explicou que não, eles não encontraram envelope nenhum em Kyoto, que a pessoa lá não entendeu nada do que o Gabe falou em inglês e estava só falando yes o tempo todo!
Ligamos pro hotel em Takayama (leia-se o concierge ligou) e dessa vez eles realmente tinham encontrado o envelope, mas custaria 500 dólares pra enviar durante a noite e eles não tinham certeza se chegaria antes da gente ir pro aeroporto. Resolvemos telefonar pro consulado americano mas eles falaram pra ligar no dia seguinte de manhã. Nessa confusão toda, já passavam das 22h e estava tarde pra procurar um restaurante, acabamos comendo no hotel mesmo e indo dormir preocupados de como seria a volta para casa no dia seguinte. 🙁
Todos os posts da viagem:
1o dia: Konnichiwa (boa tarde / bom dia)! (Tóquio)
2o dia: Adolescentes, cerejeiras e o guarda-chuva de 250 dólares (Tóquio)
3o dia: Segure o seu chapéu, jornal, picnic… (Tóquio)
4o dia: Isso é Tóquio
5o dia: Muita chuva em Tóquio
6o dia: It’s a small world after all (Disney Tóquio)
7o dia: Nikko, os italianos e os bêbados
8o dia: A caminho de Kyoto | Sayonara Tóquio!
9o dia: Kyoto, cidade das geishas
10o dia: Miyako Odori, uma tradição deslumbrante (Kyoto)
11o dia: Templos até debaixo d’água (da chuva) (Kyoto/Inaue)
12o dia: Nara e seus 1300 anos de história
13o dia: O castelo samurai de Himeji
14o dia: Takayama Matsuri, festival de primavera (mas que frio!) (Takayama)
15o dia: Shirakawa-go, uma vila que parou no tempo
16o dia: Takayama e muita confusão
17o dia: O final da saga
rosilande says
Realmente as casas são funcionais e aconchegantes, fiquei surpresa com o tamanho do biscoito de arroz…quanto ao desperdício de água, isso também me revolta e as vezes paro e fico observando a pessoa, porém elas acham natural e nem se tocam…Sobre as reservas no trem, segundo o seu relato, infelizmente existem pessoas espertinhas em todo lugar..Bjs.