De Kyoto para Takayama, uma cidadezinha no alto das montanhas, pegamos o único trem direto as 8h30 da manhã, que não é shinkansen mas pelo menos não faz muitas paradas (não tem trem bala até Takayama). A paisagem é bonita, o trem vai subindo as montanhas ladeando um rio de água cristalina por boa barte do tempo. Várias cidadezinhas pequenas com algumas poucas casas e plantações aparecem aqui e ali, muitas pontes e túneis, um pouquinho de neve no topo de uma ou outra montanha mais alta.
Chegamos a Takayama meio-dia, deixamos as malas no hotel e fomos procurar os estandartes decorados do festival que acontece hoje e amanhã. Duas vezes por ano, na primavera e no outono, Takayama tem um festival tradicionalíssimo, chamado Matsuri. Na primavera é para pedir uma bom ano para as plantações, no outono é para agradecer a colheita. Somente nesses 4 dias por ano os estandartes são expostos nas ruas, são 11 no total, e todos eles são patrimônio cultural do Japão. Takayama é uma cidade que exportava carpinteiros para o resto do país, e cada um desses estandartes tem lindos trabalhos em madeira.
A cidade é uma gracinha, pequenina e com diversas ruas preservadas com lojas de artesanato e restaurantes com fachadas de madeira. Um rio de águas trasparentes divide a cidade e fornece água para os produtores de saquê locais.
Pouquíssimas pessoas falam inglês e poucas são as lojas e restaurantes que tem o nome em alfabeto romano, para comer a gente escolhia pelas fotos do menu ou pedia alguma coisa que já sabia o nome. Almoçamos em um restaurante lindinho, que é ao mesmo tempo uma loja de antigüidades. Uma turista que já tinha morado no Japão por alguns anos e sabia japonês razoavelmente nos ajudou a decifrar o menu. Gabe pediu bife Hida e eu pedi soba, estava tudo muito bom (e barato, para nossa surpresa).
Passeamos pelas ruas preservadas e fomos conferir os estandartes, que estavam expostos na praça principal e em uma das ruas próximas. São mesmo obras de arte, cada um tem uma história, mas estava tudo em japonês. Aliás, tem um panfleto que o escritório de turismo prepara para o festival que pegamos no centro de informação quando chegamos, mas o panfleto em inglês tem um terço da informação do panfleto em japonês – e como descobrimos depois, o panfleto em inglês não tem os horários de quase nada enquanto o panfleto em japonês tem horários e rotas da procissão e outros eventos. Admiramos cada um dos estandartes e quando estávamos no final da rua fomos surpreendidos pela procissão que estava começando logo ali na nossa frente. Centenas de moradores da cidade em suas roupas tradicionais da festa levavam um altar decorado, seguidos por grupos tocando instrumentos diversos e com uma coreografia própria para cada instrumento. Quando a procissão passou, voltamos para a praça principal para assistir a apresentação das marionetes – alguns dos estandartes tem marionetes no topo, e um deles contava uma história. Não conseguimos acompanhar, claro, observamos os movimentos do boneco por um tempo e resolvemos continuar explorando a cidade.
Voltamos para o hotel morrendo de frio, a temperatura por aqui é bem diferente de Tóquio e Kyoto, estava por volta de 5 graus e caindo. Comprei uma luva baratinha no caminho, colocamos roupas mais quentinhas para assistir ao desfile dos estandardes iluminados por lanternas que começava as 18h30. Nos posicionamos na calçada de uma das ruas por onde a procissão ia passar e aguardamos – em meia hora o lugar estava lotado e turistas menos educados simplesmente ficavam em pé na rua em frente das pessoas que chegaram cedo para pegar um bom lugar. Revoltante. Os organizadores da procissão não fizeram nada e ficou por isso mesmo, acabou que ficava um por cima do outro pra tirar foto enquanto os estandartes passavam.
Cada um era iluminado por lanternas com inscrições diferentes, que novamente não sei o que eram porque só tinha explicação em japonês. Crianças no topo acenavam para a multidão ou tocavam flautas e alguns dos estandartes tem uma música própria. Todos são puxados por um grupo de homens em suas roupas de festival, e vão parando em certos pontos do caminho para descansar. Assim que os onze passaram corremos para achar um restaurante, porque os meus pés estavam congelando. A procissão continuou até o local onde cada carro é guardado pelo resto do ano, esses locais são espalhados pela cidade.
Jantamos em um restaurante pequenininho e simpático, que tinha um menu cheio de fotos, para a nossa felicidade. As opções eram praticamente as mesmas do restaurante do almoço, então optamos pelo tonkatsu com molhos diferentes, o do Gabe com molho de vinagre e o meu com molho com radicchio. Pedi o saquê local e a garçonete achou que era pro Gabe, e colocou o copo de saquê cheio de gelo e com um limão no topo na frente dele. Parecia um copo de água, e ele bebeu com gosto – levou o maior susto, haha. Nunca tinha visto servirem saquê assim, por isso nem pensamos que seria qualquer coisa diferente de água, foi engraçado.
Tem mais fotos originais no Flickr.
Todos os posts da viagem:
1o dia: Konnichiwa (boa tarde / bom dia)! (Tóquio)
2o dia: Adolescentes, cerejeiras e o guarda-chuva de 250 dólares (Tóquio)
3o dia: Segure o seu chapéu, jornal, picnic… (Tóquio)
4o dia: Isso é Tóquio
5o dia: Muita chuva em Tóquio
6o dia: It’s a small world after all (Disney Tóquio)
7o dia: Nikko, os italianos e os bêbados
8o dia: A caminho de Kyoto | Sayonara Tóquio!
9o dia: Kyoto, cidade das geishas
10o dia: Miyako Odori, uma tradição deslumbrante (Kyoto)
11o dia: Templos até debaixo d’água (da chuva) (Kyoto/Inaue)
12o dia: Nara e seus 1300 anos de história
13o dia: O castelo samurai de Himeji
14o dia: Takayama Matsuri, festival de primavera (mas que frio!) (Takayama)
15o dia: Shirakawa-go, uma vila que parou no tempo
16o dia: Takayama e muita confusão
17o dia: O final da saga
rosilande says
Oi Luciana, ainda não havia visto estas fotos, que fotos lindas!! Os estandartes são lindos e detalhados, adorei as fotos noturnas, a foto das flores e do riozinho com a ponte também…Bjs.
Leonardo says
Simplesmente Fantástico!
Aline says
Vim parar aqui pelo Viaje na Viagem. Que legal que você viu o festival em Takayama. Eu só fui ao museu do festival, mas amei a cidade. E suas fotos estão lindas! Parabéns!
Tais says
Olá Luciana, tudo bem? Você tem dica de hospedagem em Takayama e Shirakawa-go? Acha que vale a pena dormir uma noite em qual das duas (vamos no início de outubro, mas não conseguiremos pegar o festival)? Abs
Luciana Misura says
Em Takayama ficamos no Best Western e foi ótimo. Que eu saiba não tem hospedagem em Shirakawa-go, mas pode ter mudado depois que a gente foi.
JULIANA says
Olá!! ótimo post! Não conseguimos hospedagem em Takayama mesmo. Vamos ficar no hotel Miyamaso em 506-1432 Gifu, Takayama, Okuhida Onsen-go Hitoegane 622. Estou receosa quanto ao transporte. É tranquilo ficar neste hotel e passar o dia na cidade. Será que teremos retorno para o hotel de noite? Não consigo falar com o próprio hotel =( Obrigada.
Luciana Misura says
Não sei dizer Juliana! 🙁